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EDITORIAL

8M: A batalha das mulheres

Editorial de 04 de março de 2020

Estamos a poucos dias do 8 de Março. Será a primeira demonstração em 2020 do poderoso movimento feminista internacional, quando mobilizações contra a desigualdade econômica, discriminação sexual, violência racista, e feminicídios ocorrerão nos cinco continentes. Mais uma vez o mundo ouvirá a voz das mulheres.

Em cada país a luta feminista ganha diferentes contornos. Seja no dia 8 ou no dia 9, como uma semana ou uma jornada de lutas, as mulheres irão questionar a organização do trabalho e do lar. Em março, marchas, greves e paralisações unirão as mulheres contra o avanço das ideias conservadoras e a retirada de direitos sociais.

No Brasil, 43 cidades já marcaram o local daquela que será a primeira batalha de um mês essencial no combate ao avanço do fascismo em nosso país. A escalada golpista exige de nós uma resposta unificada. E o movimento feminista, mais uma vez, é um ponto de apoio importante para a construção da ação comum, mas também de diálogos que buscam enfrentar o projeto fundamentalista e opressor de Bolsonaro para além do calendário de atos. Nesse sentido um passo importantíssimo foi dado entre feministas de diversas organizações da classe trabalhadora, reunidas em São Paulo no último dia 2.

Neste ano de governo fomos sitiadas por uma profusão de violências: assistimos a explosão dos casos de feminicídios, e os recorrentes assassinatos de crianças negras pela brutalidade policial, crianças como Agatha, Jenifer e Kauê, filhos e filhas de mulheres negras. Vimos minguar as escassas verbas destinadas à assistência daqueles que mais necessitam, e presenciamos uma campanha misógina que busca jogar nas costas das mulheres a responsabilidade pelo sustento de um crescente exército de desassistidos e adoecidos.

O antagonismo permanente às pautas feministas é abraçado pela ministra Damares Alves. Uma vez que, diante da crise econômica e social, não há lugar para todos, é preciso derrotar àquelas se colocaram na linha de frente da resistência ao projeto neofascista. Os discursos de ódio diariamente proferidos pelo presidente são sucedidos pelo esvaziamento do orçamento destinado ao combate à violência de gênero, ao lado de uma volumosa propaganda conservadora, como a campanha #tudotemseutempo, cujas consequências são devastadoras.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, para negar a luta pela legalização do aborto, insiste no direito à vida, mas jamais pronunciou uma palavra que seja sobre o excludente de ilicitude ou sobre o assassinato de Marielle Franco, há dois anos sem resposta. Está evidente que a morte de nossa companheira revelou a ligação entre a milícia e a família Bolsonaro, e quão profundas são hoje as raízes do poder paramilitar no Estado Brasileiro. Queremos saber quem mandou matar Marielle.

As alusões ao nazismo, o clamor pelo fechamento do Congresso, a escalada golpista são uma ameaça a nossa liberdade e a nossa existência. Em todo o mundo ressurgem os ressentidos, os tiranos, os que odeiam as mulheres. Entretanto, também se levantou um poderoso movimento internacional que exige uma vida digna, pela qual vale a pena lutar. Se Paulo Guedes olha para o Chile e enxerga um novo AI-5, vamos nos inspirar naquelas que fizeram ecoar o grito “o estuprador é você, Estado opressor”. Nos inspiremos nas argentinas e em sua “maré verde”. Com a mesma coragem que “as filhas do país” empunharam, na Praça Tahir, cartazes exigindo serviços públicos e fim da violência de gênero, tomaremos as ruas no próximo 8M. Se a misogínia se tornou uma arma na mão da extrema direita mundial, faremos do feminismo nossa primeira barricada. Na rua nós podemos vencer. Derrotaremos Bolsonaro, pela vida de todos nós.

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8M / feminismo / mulheres