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MOVIMENTO

Greve dos petroleiros: Acumular forças e ampliar o debate junto à população e os movimentos sociais

Pedro Augusto Nascimento, de Mauá (SP)
FNP

Os mais de vinte mil petroleiros e petroleiras em greve estão se reunindo a partir de hoje (20) em assembleias por todo o país, para definir os rumos da maior mobilização da categoria das últimas duas décadas.

O movimento, que começou com a exigência de que a gestão da Petrobrás cumprisse o Acordo Coletivo de Trabalho suspendendo as demissões dos milhares de trabalhadores da FAFEN Araucária e a implantação unilateral das tabelas de turno, do banco de horas e da remuneração variável, acabou tornando-se uma verdadeira trincheira para resistir ao rápido avanço do projeto de destruição e desmonte da Petrobrás tocado pelo governo Bolsonaro, em prejuízo à grande maioria da população, que amarga índices altíssimos de desemprego e paga a cada dia preços mais caros pelo gás de cozinha, gasolina e diesel. 

Mais do que isso, a greve também transformou-se numa trincheira de esperança para milhões de trabalhadores, trabalhadoras e a juventude que enxergaram no movimento um exemplo de resistência diante das transformações autoritárias pelas quais passam o regime político do país justamente para poder impor à força níveis bárbaros de exploração da população brasileira e de subserviência do país aos interesses do capital financeiro internacional.

Ao longo dos últimos vinte dias, a greve enfrentou as ameaças, punições e a intransigência da gestão Castello Branco, da Petrobrás, as tentativas de intimidação e criminalização da greve por parte dos ministros Ives Gandra, do TST e Dias Toffoli, do STF, e um verdadeiro bloqueio da grande mídia, que junto com o governo tentaram isolar e sufocar o maior enfrentamento de uma categoria de trabalhadores contra a política de Paulo Guedes, até o momento. Ou seja, desde os setores ditos democratas da elite do país até a extrema-direita neofascista se uniram para tentar conter a força do movimento.

No entanto, a greve que se espalhou por 14 estados e mais de uma centena de unidades produtivas da Petrobrás, furou a bolha dos movimentos sociais, e ajudou a pautar os rumos políticos do país. A decisão da categoria de manter a greve apesar da liminar inconstitucional de Ives Gandra, que estabeleceu a ilegalidade e a abusividade do movimento, e autorizou a aplicação de sansões aos grevistas e a contratação de mão de obra temporária, foi fundamental para que o movimento conseguisse afetar a produção e culminasse na Marcha Nacional com milhares de petroleiros, petroleiras e apoiadores vindos de diversos estados que ocorreu no Rio de Janeiro, no dia 18 de fevereiro. Também por isso foi possível pressionar o TRT do Paraná na decisão de suspensão temporária das demissões da FAFEN Araucária e o Ministro Ives Gandra, que teve que receber a delegação de parlamentares e representantes da categoria petroleira, e agendar audiência de mediação para a próxima Sexta-feira (21).

É justamente a síntese entre o reconhecimento da força da greve, a coragem dos trabalhadores e trabalhadoras e os limites das conquistas arrancadas até o momento que faz com que, hoje, a suspensão da greve de forma organizada seja a melhor decisão e a melhor forma de preservar a energia necessária para as próximas batalhas que devem vir já nos próximos dias e semanas.

Manter o Estado de Greve e a categoria mobilizada durante as negociações, e ampliar ainda mais o diálogo com a população e os movimentos sociais sobre o tema do preço do gás e dos combustíveis e a atual política do governo Bolsonaro para a Petrobrás é fundamental para que sigamos acumulando forças e pautando o debate político nacional. Ainda mais importante é levar adiante a lição de que de forma organizada, com uma pauta unitária e dialogando com as necessidades mais sentidas da população, é possível enfrentar o avanço do neofascismo no país, que traz consigo desemprego, miséria, mortes, tendo como alvos prioritários da violência os negros e negras, mulheres e LGBTQI+, ao mesmo tempo em que busca esmagar as principais referências de organização e conquistas dos trabalhadores.

Os petroleiros e petroleiras plantaram uma semente que já é um patrimônio de todos os lutadores do país. A luta continua!