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BRASIL

Seis questões relevantes sobre a morte do miliciano “Capitão Adriano” e sua ligação com a família Bolsonaro

da redação

No domingo, 09, a Polícia Militar da Bahia matou o miliciano Adriano da Nóbrega, conhecido como “Capitão Adriano”, ex-policial do Bope (RJ), e acusado de ser chefe da milícia conhecida como Escritório do Crime, com origem na comunidade de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Ele era considerado foragido da Justiça desde o início de 2019. Mas, antes de ser considerado um fugitivo, já tinha sido preso três vezes, sendo solto em seguida. Segundo a própria polícia, chegou a ser investigado pelo assassinato de Marielle e Anderson. Afinal, o principal suspeito de ter disparado os tiros contra o carro da vereadora do PSOL carioca, o também ex-policial Ronnie Lessa (já preso), era parte da mesma milícia chefiada por Adriano.

A sua morte merece ser investigada a fundo. Afinal, sua prisão poderia ser muito relevante para desvendar vários crimes e a organização das milícias do Rio de Janeiro – e até ajudar na solução da grande pergunta: Quem mandou matar Marielle e Anderson? Um crime político bárbaro, que completa dois anos no próximo dia 14 de março, ainda sem solução.

Sobre “Capitão Adriano”, suas relações com a família Bolsonaro e a sua morte, é importante destacar:

1 – Flávio Bolsonaro homenageou Adriano na Alerj

Em 2005, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do atual presidente da República, condecorou Adriano da Nóbrega com a Medalha Tiradentes, maior honraria dada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Nesta altura, “Capitão Adriano” já se encontrava preso, acusado de assassinar um flanelinha que o denunciou por um esquema de extorsão.

2 – A mãe e a esposa de Adriano trabalharam por anos no gabinete de Flávio

O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga o Gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj devido a uma acusação do crime conhecido como “rachadinha”. Ou seja, desvio de dinheiro do salário dos funcionários do gabinete para o próprio parlamentar.

Nesta investigação, foi descoberto que a mãe e a esposa de Adriano trabalharam por anos no gabinete de Flávio Bolsonaro. Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, esposa de Adriano na época, trabalhou por nove anos no gabinete de Flávio. Raimunda Veras Magalhães, mãe do “Capitão Adriano”, trabalhou por três anos com o filho 01 da família Bolsonaro.

Fabrício Queiroz, operador político de Flávio e antigo amigo de Jair, era o responsável pelas nomeações. Ele declarou que nomeou as duas para ajudar Adriano, um amigo que passava por dificuldades financeiras.

3 – Jair Bolsonaro defendeu Adriano na Tribuna da Câmara dos Deputados

Em outubro de 2005, o então deputado federal Jair Bolsonaro, proferiu um discurso na tribuna da Câmara dos Deputados, em Brasília, defendendo “Capitão Adriano” dos crimes que ele estava sendo acusado.

Na sua fala, o atual Presidente da República chega a afirmar: “Na segunda-feira próxima passada, pela primeira vez compareci a um tribunal do júri. Estava sendo julgado um tenente da Polícia Militar de nome Adriano, acusado de ter feito incursão em uma favela, onde teria sido executado um elemento que, apesar de envolvido com o narcotráfico, foi considerado pela imprensa um simples flanelinha”. Um verdadeiro escárnio.

4 – Moro sabia da operação policial na Bahia

O Ministério da Justiça sabia há pelo menos três dias antes da operação que visava prender Adriano da Nóbrega na Bahia. Segundo informações publicadas na imprensa, autoridades federais chegaram a trabalhar com a hipótese de apoio da Polícia Federal (PF) na esperada operação, mas essa opção acabou não sendo pedida pelo Ministério chefiado por Sérgio Moro.

Pela importância que poderia significar a prisão do “Capitão Adriano” para o esclarecimento de vários crimes, a omissão do Ministério da Justiça, e por tabela da PF, é realmente criminosa, um verdadeiro absurdo.

Soma-se a isso o fato de o Ministério da Justiça, de Moro, não ter colocado o nome de Adriano na lista nacional com 27 criminosos mais procurados do Brasil, divulgada no dia 31 de janeiro e que incluía outros dois milicianos do Rio de Janeiro.

5 – Adriano foi morto num sítio de um vereador do PSL

O “Capitão Adriano” foi morto pela PM no município rural de Esplanada (BA). Ele se encontrava escondido no sítio de propriedade de um vereador da cidade, chamado “Gilsinho da Dedé”, um apoiador de Bolsonaro na região, filiado ao PSL – partido em que o atual presidente era filiado até recentemente, quando deixou esta agremiação para fundar outra.

Este fato merece ser tratado com importância, pois configura, mais uma vez, as relações de Adriano da Nóbrega com políticos ligados ao Bolsonarismo, mesmo em cidades muito distantes do Rio de Janeiro.

6 – Adriano disse ao advogado que temia ser morto, como “queima de arquivo

Em entrevista, o advogado de Adriano apontou que Adriano confidenciou a ele que temia ser morto, por “queima de arquivo”.

A versão da Secretaria de Segurança Pública é de que Adriano reagiu com disparos de arma de fogo e acabou ferido, com dois tiros, e, levado ao Hospital São Francisco São Vicente, em Esplanada, não resistiu. Mas a Corregedoria Geral da Secretaria de Segurança da Bahia abriu uma sindicância para apurar a ação. Os corregedores querem saber se Adriano realmente reagiu à abordagem. As fotos do local onde ele foi morto mostra uma grande quantidade de sangue.

As circunstâncias da morte – sozinho, em um sítio isolado, em uma zona rural, cercado por 11 policiais – pode até significar que os policiais envolvidos nesta operação não tinham a intenção de prendê-lo, e sim de executá-lo. Essa é a opinião de especialistas neste tipo de operação contra criminosos de grande importância para desvendar outros crimes. Na verdade, deixar de prendê-lo para matá-lo já seria motivo para considerar esta operação policial como fracasso.

Conclusão: #Investigaçãojá

Diante de todas estas evidências, que apontam a forte possibilidade de um crime de “queima de arquivo”. As revelações que Adriano poderia fazer poderiam implicar muitos políticos e criminosos. Para estes, interessava que ele fosse silenciado.

A morte deste miliciano – em especial a operação na Bahia – deve ser investigada a fundo. O conteúdo das ligações e mensagens em seus 13 celulares, por exemplo, pode revelar muito sobre a relação das milícias com o poder. O Ministério da Justiça, mas também o governo petista da Bahia, devem se comprometer com uma apuração profunda e transparente do caso, inclusive com a participação e controle da OAB (Organização dos Advogados do Brasil) e de entidades dos direitos humanos.

O PSOL já veio a público pedir uma investigação completa do caso. Apenas uma cobrança firme e a mobilização dos movimentos sociais e das entidades que lutam pelos direitos democráticos poderá garantir que tal investigação seja realmente realizada, sem nenhuma obstrução.

Essa investigação deve ir além das estranhíssimas circunstâncias da morte de Adriano da Nóbrega, mas deve investigar também, e principalmente, seu envolvimento com o chamado “mundo político”, sobretudo no Rio de Janeiro, inclusive suas relações estreitas com a família Bolsonaro, que permanece em silêncio sobre a morte.