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BRASIL

Um ano do governo Bolsonaro e os debates na esquerda brasileira

André Freire, do Rio de Janeiro (RJ)

Falta pouco para completarmos um ano do governo de Jair Bolsonaro. Em 2019, enfrentamos um período muito grave para os trabalhadores, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos. Não resta dúvida que está a frente do Palácio do Planalto um projeto de extrema direita neofascista, que vem atacando profundamente os direitos sociais e às liberdades democráticas.

A prioridade dos movimentos sociais e da esquerda deve ser interromper imediatamente a aplicação deste projeto nocivo. Entretanto, embora exista um amplo leque de forças de oposição, é necessário reconhecer que existem distintos projetos políticos em construção e houve grandes dificuldades para a construção até de uma mínima unidade de ação para enfrentar os duros ataques que foram desferidos por este governo neofascista.

A necessidade da unidade para resistir e os distintos projetos da oposição

”Não se pode acender uma vela a deus e outra ao diabo”

Este dito popular ilustra muito bem o papel de alguns partidos de oposição. Está em curso em nosso país uma combinação perversa de um neoliberalismo extremado destruidor de direitos e uma profunda escalada autoritária que ameaça às liberdades democráticas.

Portanto, não deveria existir espaço para uma oposição dita propositiva ou para uma política de colaboração com medidas deste governo. Mas, o que observamos neste ano, foi bem diferente, existe uma profunda ambigüidade na política de muitos partidos que se reivindicam como oposição ao governo.

Assistimos partidos como o PDT e PSB tolerarem no Congresso Nacional o voto favorável de vários de seus parlamentares em projetos fundamentais para a agenda reacionária do governo, como, por exemplo, na reforma da previdência. Ou quando não observamos diretamente o apoio destes partidos, oficialmente, para outras iniciativas, como foi na aprovação do projeto de cessão da Base de Alcântara para o governo dos EUA, proposta entreguista que foi apoiada também pelo PCdoB.

Mas, o que esperar de partidos como PSB e PDT? Nada muito diferente disto, pois eles não são partidos que representem de fato os interesses dos explorados e oprimidos. Porém, a direção do PT, no mesmo sentido, vê sua bancada no Congresso Nacional votando contra os projetos do governo Bolsonaro, mas vem admitindo silenciosamente a colaboração dos Governadores de Estado do seu partido (BA, CE, PI e RN) com muitos das iniciativas do atual governo, como na extensão dos ataques da reforma da previdência aos servidores públicos dos Estados, Municípios e Distrito Federal e nas negociações para viabilizar o acordo que liberou a realização dos leilões do Pré-sal.

Nos Estados governados pelo PT, e também em Estados governados por outros partidos de oposição (PCdoB, PSB e PDT), foram executadas ou estão em plena execução reformas previdenciárias e administrativas que são muito similares as que estão sendo aplicadas e propostas pelo governo Bolsonaro. Uma vergonha.

A luta é agora e prioritariamente nas ruas

Principalmente, partidos com origem e relações orgânicas com os movimentos da classe trabalhadora e da juventude, como o PT e o PCdoB, devem rever esta política vacilante diante de um governo neofascista. Não será rebaixando o programa e as propostas dos explorados e oprimidos que vamos derrotar Bolsonaro e seus aliados.

Muito menos é correto apostar tudo na transferência do combate contra Bolsonaro e seu projeto reacionário para o momento das eleições, seja em 2020 ou 2022. Nas eleições, devemos hierarquizar também a luta contra Bolsonaro, esta prioridade não está em discussão, mas esperar parados apenas a campanha eleitoral é um grave erro político.

Se este governo não for parado antes das eleições, muitos dos direitos sociais estarão ainda mais destruídos e os espaços democráticos de resistência fechados. A luta é agora, não pode esperar, e deve ter como palco principal às ruas – com mobilizações e greves – que derrote este governo e seus ataques.

Sem forte mobilização social, como assistimos em alguns países da América Latina – Chile, Colômbia, Equador, Haiti, entre outros – que altere de forma qualitativa a correlação de forças entre as classes sociais, não vai ser possível sequer derrotar este governo nas urnas, ainda mais paralisar imediatamente nas ruas a aplicação das atuais medidas.

Inclusive, o ex-presidente Lula, libertado recentemente, deveria usar o apoio popular que possuí a serviço da construção de uma Jornada Nacional de Mobilizações unitárias, fortalecendo nas ruas a oposição ao governo Bolsonaro e seus ataques.

Uma proposta concreta

No último final de semana, em São Paulo, foi realizado um Seminário Nacional do Fórum por Direitos e Liberdades Democráticas. Ao final deste importante encontro, foi definida uma proposta fundamental para o momento: a realização de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, para organizar as lutas contra o Bolsonaro e seus ataques, já em 2020.

Esta proposta está dirigida ao conjunto dos movimentos sociais, centrais sindicais e partidos ligados aos trabalhadores, só uma ampla unidade como esta abriria a possibilidade da realização deste Encontro Nacional. Inclusive, uma proposta similar a esta, já tinha sido definida em uma das reuniões unificada das centrais sindicais.

Um exemplo a ser perseguido é o da Mesa Unidad Social do Chile, uma ação unificada que organiza cerca de 200 movimentos, sindicatos e centrais sindicais, e que vem se fortalecendo muito no atual processo de grandes manifestações e greve gerais neste país da América do Sul.

Segue sendo ainda mais decisiva a construção e fortalecimento de uma verdadeira Frente única dos explorados e oprimidos no Brasil. É preciso evitar principalmente a paralisia e a prostração, mas também o isolamento e a dispersão de nossas lutas. Este Encontro Nacional seria um momento fundamental para consolidar nossa unidade, potencializando as forças de resistência contra o projeto desta extrema direita neofascista e abriria melhores condições para a tarefa urgente de derrotar o governo Bolsonaro nas ruas.

Marcado como:
Um ano de Bolsonaro