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Colunas

A necessidade da unidade para resistir e os distintos projetos da oposição

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Da nossa parte, devemos, de forma humilde, insistir cada vez mais na disposição sincera de unificar a classe trabalhadora, a juventude, os oprimidos e o conjunto da esquerda brasileira em ações e mobilizações comuns em defesa dos direitos sociais e das liberdades democráticas. Por isso, estamos defendendo de forma permanente uma ampla unidade nas lutas contra a reforma da previdência de Bolsonaro e Guedes; estamos presentes na cobrança incessante de justiça para Marielle e Anderson; e somos também parte ativa da campanha #Lulalivre; entre outras pautas fundamentais.

Entretanto, a necessária unidade na construção de nossas lutas não pode ser entendida com a ideia equivocada de estarmos dando um “cheque em branco” para a direção do PT, e muito menos para partidos como Rede, PSB e PDT.

Não foi esse o lugar ocupado pelo PSOL nos últimos anos, e não será agora novamente. E por que?

O PT governou o país por 13 anos. Cometeu muitos erros. Os dois principais foram: aliar-se politicamente a setores da velha direita (nunca esquecer que Temer era vice de Dilma) e aplicar um plano econômico que não rompeu no fundamental com os interesses das grandes empresas e bancos.

Por isso, inclusive, que o PSOL se construiu, com muita ousadia, como um partido necessário e de oposição de esquerda aos governos de conciliação de classes do PT. Sempre ao lado das lutas fundamentais do nosso povo.

Entretanto, as discussões com lideranças do PT não se resumem ao passado recente. Atualmente, especialmente encabeçado pelos governadores deste partido, está se desenvolvendo uma política que busca, na verdade, uma colaboração com o governo Bolsonaro, apenas com diferenciações pontuais, como por exemplo, na questão da reforma da previdência.

Foi exatamente com este conteúdo, de no máximo uma oposição moderada ao atual governo federal, que foi elaborada a carta dos governadores do Nordeste, região onde o PT tem seus quatro governadores (PI, CE, BA e RN) e o PSB (PE) e o PCdoB (MA) têm um governador cada.

Essa postura absurda e totalmente equivocada ficou bem nítida na recente entrevista de Rui Costa, governador petista da Bahia, quando ele chega afirmar o desgaste de Bolsonaro “não interessa a ninguém” e que defenderia a aprovação da atual reforma da Previdência, se fosse retirado dela apenas quatro pontos.

O que falar do PDT e do PSB? Partidos que estão à frente de várias Prefeituras e Governos de Estado e realizam administrações que nada diferem no fundamental de partidos mais tradicionais da direita. É só olhar um pouco mais de perto para o que são os governos do PSB em Pernambuco e que foram os governos de Ciro (PDT) e sua família no Ceará, para ficar em dois exemplos mais conhecidos.

A existência de um governo de extrema direita, como o de Bolsonaro, impõe a necessidade da construção prioritária da frente única dos trabalhadores, da juventude e dos oprimidos, mas não devem interromper o debate político polêmico e a construção dos distintos projetos existentes no interior da chamada esquerda brasileira.

Repetir o velho erro da conciliação de classes, em projetos políticos que busquem juntar numa mesma alternativa “os de baixo” – “os 99%” com os ditos setores progressistas da burguesia, só vai preparar os velhos e mesmos erros, já identificados num passado bem recente.

A velha discussão das alianças eleitorais

Nossos sonhos não cabem apenas nas urnas. Evidentemente, no momento das eleições municipais do ano que vem, e das presidenciais de 2022, estaremos na linha de frente da campanha eleitoral, na defesa de um programa anticapitalista e na apresentação de candidaturas que comecem por enfrentar de conjunto o projeto ultra-reacionário do bolsonarismo.

Entretanto, qualquer ideia de apostar “todas as nossas fichas” apenas nas eleições de 2020 ou 2022, deve ser abandonada. Pois, a luta pelos direitos e pelas liberdades democráticas é agora – antes que seja tarde demais. Não temos tempo a perder.

Muito menos, devemos repetir o erro da prática de alianças eleitorais espúrias, projetos que se unem apenas nas campanhas eleitorais e não deixam bem nítidas suas reais propostas de governo. Esconder as nossas reais diferenças políticas e programáticas não nos servirá para nada.

Será nas lutas unitárias contra Bolsonaro que deve se forjar e se fortalecer um novo projeto político. Uma esquerda renovada, lutadora, estrategicamente socialista, com fortes raízes nos movimentos sociais e que saiba realmente quem são seus aliados: o povo trabalhador, a juventude e os oprimidos. Uma esquerda que não perdoa os golpistas.

Um projeto, por exemplo, que se coloque de forma enfática contra toda essa reforma da Previdência reacionária do governo Bolsonaro. E, que não fique apenas defendendo emendas pontuais nas propostas absurdas de Paulo Guedes, que na prática representam o fim da Previdência Social brasileira.

Foi justamente por defender essa visão que nós apostamos na construção do PSOL e estivemos, desde os primeiros momentos, na defesa da campanha de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara para a Presidência da República.

E, localizados dentro desta construção coletiva, de uma nova frente política e social, com vários parceiros diferentes, é que damos e daremos a nossa luta estratégica e cotidiana por uma nova alternativa politica de independência de classe para a esquerda brasileira.

As atividades de Guilherme Boulos em várias universidades brasileiras, nas últimas semanas, estão demonstrando um espaço qualitativo para a construção desta nova alternativa política. E, será para essa aliança dos explorados e oprimidos que devemos chamar e organizar os ativistas mais honestos e dedicados à causa da necessária derrota do projeto bolsonarista de extrema direita. Nenhum passo atrás!