Falta pouco para completarmos um ano do governo de Jair Bolsonaro. Em 2019, enfrentamos um período muito grave para os trabalhadores, a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos. Não resta dúvida que está a frente do Palácio do Planalto um projeto de extrema direita neofascista, que vem atacando profundamente os direitos sociais e às liberdades democráticas.
A prioridade dos movimentos sociais e da esquerda deve ser interromper imediatamente a aplicação deste projeto nocivo. Entretanto, embora exista um amplo leque de forças de oposição, é necessário reconhecer que existem distintos projetos políticos em construção e houve grandes dificuldades para a construção até de uma mínima unidade de ação para enfrentar os duros ataques que foram desferidos por este governo neofascista.
A necessidade da unidade para resistir e os distintos projetos da oposição
”Não se pode acender uma vela a deus e outra ao diabo”
Este dito popular ilustra muito bem o papel de alguns partidos de oposição. Está em curso em nosso país uma combinação perversa de um neoliberalismo extremado destruidor de direitos e uma profunda escalada autoritária que ameaça às liberdades democráticas.
Portanto, não deveria existir espaço para uma oposição dita propositiva ou para uma política de colaboração com medidas deste governo. Mas, o que observamos neste ano, foi bem diferente, existe uma profunda ambigüidade na política de muitos partidos que se reivindicam como oposição ao governo.
Assistimos partidos como o PDT e PSB tolerarem no Congresso Nacional o voto favorável de vários de seus parlamentares em projetos fundamentais para a agenda reacionária do governo, como, por exemplo, na reforma da previdência. Ou quando não observamos diretamente o apoio destes partidos, oficialmente, para outras iniciativas, como foi na aprovação do projeto de cessão da Base de Alcântara para o governo dos EUA, proposta entreguista que foi apoiada também pelo PCdoB.
Mas, o que esperar de partidos como PSB e PDT? Nada muito diferente disto, pois eles não são partidos que representem de fato os interesses dos explorados e oprimidos. Porém, a direção do PT, no mesmo sentido, vê sua bancada no Congresso Nacional votando contra os projetos do governo Bolsonaro, mas vem admitindo silenciosamente a colaboração dos Governadores de Estado do seu partido (BA, CE, PI e RN) com muitos das iniciativas do atual governo, como na extensão dos ataques da reforma da previdência aos servidores públicos dos Estados, Municípios e Distrito Federal e nas negociações para viabilizar o acordo que liberou a realização dos leilões do Pré-sal.
Nos Estados governados pelo PT, e também em Estados governados por outros partidos de oposição (PCdoB, PSB e PDT), foram executadas ou estão em plena execução reformas previdenciárias e administrativas que são muito similares as que estão sendo aplicadas e propostas pelo governo Bolsonaro. Uma vergonha.
A luta é agora e prioritariamente nas ruas
Principalmente, partidos com origem e relações orgânicas com os movimentos da classe trabalhadora e da juventude, como o PT e o PCdoB, devem rever esta política vacilante diante de um governo neofascista. Não será rebaixando o programa e as propostas dos explorados e oprimidos que vamos derrotar Bolsonaro e seus aliados.
Muito menos é correto apostar tudo na transferência do combate contra Bolsonaro e seu projeto reacionário para o momento das eleições, seja em 2020 ou 2022. Nas eleições, devemos hierarquizar também a luta contra Bolsonaro, esta prioridade não está em discussão, mas esperar parados apenas a campanha eleitoral é um grave erro político.
Se este governo não for parado antes das eleições, muitos dos direitos sociais estarão ainda mais destruídos e os espaços democráticos de resistência fechados. A luta é agora, não pode esperar, e deve ter como palco principal às ruas – com mobilizações e greves – que derrote este governo e seus ataques.
Sem forte mobilização social, como assistimos em alguns países da América Latina – Chile, Colômbia, Equador, Haiti, entre outros – que altere de forma qualitativa a correlação de forças entre as classes sociais, não vai ser possível sequer derrotar este governo nas urnas, ainda mais paralisar imediatamente nas ruas a aplicação das atuais medidas.
Inclusive, o ex-presidente Lula, libertado recentemente, deveria usar o apoio popular que possuí a serviço da construção de uma Jornada Nacional de Mobilizações unitárias, fortalecendo nas ruas a oposição ao governo Bolsonaro e seus ataques.
Uma proposta concreta
No último final de semana, em São Paulo, foi realizado um Seminário Nacional do Fórum por Direitos e Liberdades Democráticas. Ao final deste importante encontro, foi definida uma proposta fundamental para o momento: a realização de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, para organizar as lutas contra o Bolsonaro e seus ataques, já em 2020.
Esta proposta está dirigida ao conjunto dos movimentos sociais, centrais sindicais e partidos ligados aos trabalhadores, só uma ampla unidade como esta abriria a possibilidade da realização deste Encontro Nacional. Inclusive, uma proposta similar a esta, já tinha sido definida em uma das reuniões unificada das centrais sindicais.
Um exemplo a ser perseguido é o da Mesa Unidad Social do Chile, uma ação unificada que organiza cerca de 200 movimentos, sindicatos e centrais sindicais, e que vem se fortalecendo muito no atual processo de grandes manifestações e greve gerais neste país da América do Sul.
Segue sendo ainda mais decisiva a construção e fortalecimento de uma verdadeira Frente única dos explorados e oprimidos no Brasil. É preciso evitar principalmente a paralisia e a prostração, mas também o isolamento e a dispersão de nossas lutas. Este Encontro Nacional seria um momento fundamental para consolidar nossa unidade, potencializando as forças de resistência contra o projeto desta extrema direita neofascista e abriria melhores condições para a tarefa urgente de derrotar o governo Bolsonaro nas ruas.
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