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MUNDO

Até onde irá a resistência do povo argelino?

MAS, Portugal

Algerian shouts as he holds the national flag during a protest in Algiers, Algeria, on Friday.

Há 10 meses que os Argelinos protestam semanalmente contra o regime herdado de Bouteflika. Em Fevereiro, poderosas manifestações organizadas pelo movimento Hirak obrigaram o presidente a demitir-se depois de 20 anos no poder.

Bouteflika, dirigente da Frente de Libertação Nacional (FLN), partido que governa a Argélia desde a independência em 1962.Nas ruas de Argel os slogans mais ditos são “nenhum voto entre as gangues”“Status civil, não militar”“os generais no lixo”“você não vai nos assustar a “década negra”“poder assassino”“somos você ou nós, não vamos parar”.

O povo Argelino quer mudanças drásticas no sistema político e não quer os militares no poder. Acusam os dirigentes da FLN terem usurpado as conquistas da independência, e entregarem as riquezas do país às grandes multinacionais.

A “Batalha de Argel” é herança na consciência colectiva de um povo que sofreu muito às mãos do exército imperialista francês. Prisões,torturas,mortes e deportações. A heróica luta pela independência argelina ceifou centenas de milhares de vidas de activistas.

Conquistada a independência, no início da década de 60 os trabalhadores almejavam muito mais do que a FLN lhes pode oferecer em décadas a fio de governo. A paciência do povo com o FLN chegou ao fim.

Após 4 dias de greve, realizaram-se as eleições na Argélia. As eleições já tinham sido adiadas 2 vezes, e apesar da exigência dos manifestantes no cancelamento do processo eleitoral as forças armadas não cederam. Os manifestantes exigem eleições verdadeiramente livres, acusam este processo eleitoral de ser uma farsa, por ter 5 candidatos todos eles ligados a Bouteflika e ao exército. Apenas 1 deles não foi ministro de Bouteflika.

Boicote foi a palavra que mais se ouviu nas manifestações do dia 12 de Dezembro. Em alguns sítios tentaram impedir a abertura das secções de voto, e no norte do país em Kabylie, várias secções chegaram mesmo a não abrir. As manifestações e tentativas de boicote às eleições foram ao longo do dia reprimidas pela polícia. Ao longo do dia o slogan mais ouvido foi “não há voto com a máfia”. Tebboune, que tinha sido ministro e chefe de governo de Bouteflika, venceu as eleições com 58,15% de acordo com a Autoridade Nacional Eleitoral Independente (ANIE).

Numas eleições em que participaram apenas 41,14 % dos 24 milhões de eleitores, o que significa o valor máximo de abstenção na história do país (39,93%). A vitória do movimento Hirak, ao obrigar o presidente a demitir-se, no início do ano, está muito fresco na consciência dos que lutam. Não caíram no logro do discurso “reformador” das velhas raposas do regime e continuam a exigir mudanças profundas. No dia 14 de Dezembro, realizou-se a habitual sexta feira de luta, foi a 43º desde Fevereiro.

À semelhança do que se tem passado noutros países, varridos por arrebatadoras mobilizações populares, como no Chile, Colômbia e Iraque, a reposta dos regimes tem sido extremamente violenta.

Ao longo destes meses, entre mais de uma centena de presos políticos, destaca-se uma importantes líder da oposição: Louisa Hanoune, dirigente do partido trotskista PT (Parti des Travailleurs), ex-deputada e a primeira mulher candidata à presidencia da Argélia, em 2014. Em setembro foi condenada a 15 anos de prisão por “conspirar contra o estado”.

Exigimos a Libertação imediata de Louisa Hanoune! Libertação de todas e todos presos políticos. Fim das prisões por delito de opinião! Toda a solidariedade com o povo Argelino na sua luta contra um regime autoritário e corrupto que se apoia na brutalidade das forças armadas para calar a oposição.

*Texto originalmente publicado em MAS

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