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BRASIL

Não é possível derrotar Bolsonaro pela metade!

Vinicius Prado*, de Curitiba (PR)
Reprodução

Policiais atacam manifestantes na Assembleia Legislativa do Pará

 

A nota publicada pelo Diretório do PT do Pará, apoiando a reforma da Previdência proposta pelo governador Hélder Barbalho (MDB), pode ter causado espanto em boa parte dos e das militantes dos movimentos sociais, mas  analisando mais de perto, tal nota está conectada com a política que o PT vem implementando nos estados em que governa como Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, podemos ver essa política também nas palavras de Rui Costa, governador da Bahia.

Tais posicionamentos mostram que, apesar de ter uma militância e uma base social aguerrida, empenhada na luta contra os ataques do governo Bolsonaro nas ruas e nos movimentos, alguns dirigentes do PT apostam numa repactuação com a burguesia, e inclusive com setores conservadores que hoje se colocam como base da extrema-direita. Acenar favoravelmente a reforma da previdência, é mostrar para o capital financeiro que estão dispostos e que também possuem capacidade de gerenciar os interesses da burguesia, ainda que isso custe direitos dos e das trabalhadoras.

O que estamos enfrentando não é a pessoa do Bolsonaro, e sim o projeto que ele representa, e precisamos compreender que ele expressa um projeto autoritário de poder, que tem como estratégia o fechamento do regime, com ataque as liberdades democráticas, perseguição a opositores e controle da liberdade de expressão, aliado a um projeto econômico de subordinação dos interesses nacionais aos interesses do capital financeiro internacional e do imperialismo estadunidense, e que por isso passa o ataque a direitos do trabalhadores, entrega do patrimônio nacional à multinacionais, e regulação da economia de acordo com os interesses do especulação financeira internacional. Não há como dissociar esses dois projetos, precisamos combatê-los de maneira conjunta.

Para enfrentarmos esses dois projetos precisamos de um debate sério, profundo e crítico sobre o que  foram os anos anos de governo do PT, e os limites do projeto de conciliação de classes. Não se trata de negar os avanços sociais e políticos que tivemos durante os governos de Lula e Dilma, e nem culpar esses governos pela ascensão da extrema-direita, mas sim de avaliarmos como as forças que deram o golpe em 2016 e impulsionaram a chegada deste projeto ao poder se fortaleceram e se articularam durante os governos esse período.

O projeto de conciliação de classes implementado nos governos do PT, se sustentou em um amplo arco de alianças, que ia desde setores da burguesia industrial, representados no vice de Lula José de Alencar, passava por setores ligados ao latifúndio e chegava a setores da bancada da bíblia. Estes setores apoiaram políticas públicas do PT em troca de concessões que isoladamente pareciam pequenas, mas que ao longo dos anos fortaleceram esses setores ao ponto de terem força de construir o golpe de 2016 e a ascensão desse projeto autoritário e de subordinação ao capital financeiro internacional ao poder. Obviamente este não é o único fator do golpe e da chegada de Bolsonaro ao poder, mas não podemos desconsiderar este ponto na luta contra esse projeto. 

Portanto, derrotar os projetos representados por Bolsonaro, passa diretamente por rompermos com qualquer tipo de aliança ou conciliação com estes setores que gestaram o golpe e chegada da extrema-direita ao poder. Precisamos construir uma alternativa política popular, que mostre que é possível garantir desenvolvimento econômico, sem atacar direitos dos trabalhadores e com a garantia dos direitos sociais e democráticos. 

Nesse sentido o PT tem uma responsabilidade muito grande nessa luta, pois além de ser o partido com maior base social e maior inserção na classe trabalhadora do país, com seus militantes estando a frente de vários sindicatos e movimentos, o que lhes coloca numa posição privilegiada no que diz respeito a construir a luta nas ruas. O PT também é o partido de esquerda com o maior numero de governadores (4), o que lhe coloca numa posição de poder, no governo dos estados, implementar uma política econômica e de garantia dos direitos dos trabalhadores que se oponha a política do governo federal, e mostrar que a saída “Paulo Guedes” não é o único caminho para a economia brasileira. 

Por isso tudo, tanto o posicionamento do PT no Pará em favor da reforma da previdência proposta pelo governo do MDB, quanto as reformas implementadas nos governos do PT, são um grave revés na luta contra tudo que Bolsonaro representa, pois reforça a ideia de que a única saída para a economia é a proposta pelo governo federal, com ataque aos direitos trabalhistas e sociais e subordinação aos interesses do capital financeiro internacional. 

Não é possível derrotar Bolsonaro pela metade, o projeto autoritário de  poder que ataca as liberdades individuais e a democracia e o projeto de poder econômico que ataca os direitos sociais, trabalhistas e subordina nossa economia aos interesses do capitalismo financeiro internacional e do imperialismo estadunidense, são duas faces da mesma moeda, precisamos combater ambos nas ruas e nas lutas, mas também em todos os espaços institucionais que o campo progressista ocupa. A construção de uma alternativa política que garanta os direitos da classe trabalhadora passa diretamente por derrotar esses dois projetos, não podemos vacilar em relação a nenhum deles.

 

*Vinícius Prado é historiador, mestre em educação, militante da Resistência/PSOL e membro da Executiva Estadual da CSP-Conlutas/PR