Pular para o conteúdo
BRASIL

Franceses voltam às ruas contra a Reforma da Previdência

Em todo o país, 885 mil pessoas protestaram nesta terça, 10

Renato Fernandes, de Campinas (SP)
Photothèque Rouge /Martin Noda / Hans Lucas
Cinco dias após a primeira mobilização, os trabalhadores franceses voltaram massivamente às ruas contra a Reforma da Previdência proposta pelo governo de Emmanuel Macron. Na semana passada, no dia 5, cerca de 1,5 milhões de trabalhadores já tinham se manifestado, em dezenas de cidades. Nesta terça, dia 10, foram cerca de 880 mil trabalhadores segundo a CGT – principal central sindical do país. Apesar do número menor, todas as mídias concordam que a mobilização continua forte.
O setor de transporte é a vanguarda de todo o processo: a mobilização já dura seis dias no setor. Os trabalhadores paralisaram metrôs, trens, ônibus e aviões. Nesse dia 10, as mobilizações continuaram e foram bem fortes: entre os trens de alta velocidade (TGV), apenas 1 a cada 4 rodaram no país; em Paris, 10 linhas de metrô permaneceram fechadas. E a situação deve se repetir nessa quarta-feira, visto que a greve é por tempo indeterminado – até a retirada do projeto. Além dos setores de transportes, houve mobilizações fortes nas escolas, universidades, na função pública e também no setor de saúde.
Photothèque Rouge /Martin Noda / Hans Lucas

Reforma será anunciada nesta quarta

Está previsto para essa quarta-feira, 11, na hora do almoço, o anúncio da reforma pelo primeiro-ministro Édouard Philipe. O mote principal da reforma francesa é unificar os 42 tipos de regimes de aposentadorias existentes em um só, que seria universal. Essa unificação passaria, entre outras coisas, por uma idade semelhante para todos e por um regime de pontuação universal.
O grande problema da unificação é justamente desconsiderar as diversas particularidades de cada uma das profissões. O trabalho de cada um é diverso, e a “universalização” do sistema seria uma igualdade formal, pois desconsideraria justamente as especificidades de cada profissão. Na manifestação deste dia 10, um trabalhador da Ópera de Paris se perguntou: “Você já viu uma apresentação de balé com um dançarino de 60 anos?” – os dançarinos têm um regime especial de aposentadoria, que lhes permitem se aposentar a partir dos 42 anos.
Já um enfermeiro, de Bordeaux, afirmou que cerca de 47% dos cuidadores se aposentam por invalidez devido a problemas de saúde causados pela sobrecarga de trabalho. Eles têm direito, hoje, de se aposentarem aos 57 anos. Com a reforma, teriam que trabalhar no mínimo até os 62 anos, o que certamente aumentaria o número de trabalhadores com invalidez.

As manifestações vão continuar

Os trabalhadores do transporte continuarão as mobilizações nessa quarta e a previsão é de que as linhas de metrô permanecerão fechadas, assim como a circulação de trens será baixa. A Intersindical – frente sindical que reúne as principais centrais sindicais e movimentos de juventude – já anunciou que promoverá mobilizações locais no dia 12 de dezembro com as categorias que estão em greve e irá preparar mais um dia de paralisação nacional para o dia 17.
Neste momento inicial das mobilizações, nos parece correta a perspectiva colocada pelo Novo Partido Anticapitalista (NPA): “é necessário massificar o movimento de greve por tempo indeterminado em todos os locais possíveis” e fazer com que os locais que já estão parados (como o transporte e parte da educação) ajudem na organização e na paralisação dos outros setores.
O exemplo francês deve inspirar a todos os militantes brasileiros. Aqui a reforma da Previdência passou, apesar de toda a luta que fizemos. Neste momento, em diversos estados, como São Paulo e Pará, governos tentam aprovar reformas ao funcionalismo estadual. Devemos nos apoiar no exemplo francês para conversar com cada trabalhador e jovem que foi para a rua neste ano, e explicar que só a luta coletiva, massiva e radical pode barrar a retirada de nossos direitos. Uma vitória dos trabalhadores franceses fortalecerá não somente nossas lutas, mas a luta dos trabalhadores em todo o mundo. Vamos com os trabalhadores franceses até a retirada do projeto de destruição da previdência!
Marcado como:
frança