Ontem, dia 4 de dezembro, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) prestou seu esperado depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga, simultaneamente, na Câmara e no Senado, as chamadas Fake News.
Joice foi uma figura expoente na defesa do golpe do Impeachment contra a ex-presidente Dilma Roussef (PT), apoiadora, desde os primeiros momentos, da candidatura de Bolsonaro para a Presidência da República e uma das principais candidatas do PSL em SP.
Entretanto, após a crise dos chamados “laranjas do PSL”, que preciptou a saída da família Bolsonaro e seus aliados mais próximos deste partido, Joice consolidou sua ruptura com o atual presidente. O também deputado federal por SP, Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, já protagonizou vários episódios lamentáveis de brigas e ataques contra Joice Hasselmann.
Sem entrar nos méritos das reais motivações que fizeram Joice a romper com a “família”, de fato seu depoimento na CPMI da Fake News foi bombástico. Ele representa um duro golpe no esquema fraudulento do bolsonarismo nas redes sociais.
Segundo a deputada ex-bolsonarista, existe uma “milícia digital” ligada diretamente aos filhos do Presidente da República (especialmente Eduardo e Carlos) e seus apoiadores mais próximos. Joice mostrou dados gerados por um aplicativo específico para descobrir os chamados “perfis robôs” nas redes sociais (botometer.org), desenvolvido por uma Universidade estadunidense.
Segundo estes dados, apenas no Twitter, Jair Bolsonaro possui nada mais, nada menos que 1,4 milhão de seguidores que são na verdade “robôs” (cerca de 25% do total de seus seguidores) e Eduardo Bolsonaro é seguido por mais de 400 mil “Robôs” nesta rede social.
Estes “robôs” foram e são usados para disseminar notícias falsas nas redes, sempre com o objetivo de atacar supostos adversários e preservar as figuras do bolsonarismo. Por exemplo, no depoimento, a deputada paulista mostrou como se disseminaram os ataques ao ator Leonardo Dicaprio, acusado por apoiadores de Bolsonaro de financiar ONGs que teriam colocado fogo na Amazônia. Um verdadeiro escárnio.
Sempre de acordo com a deputada Joice, cada disparo destes “robôs” pode custar cerca de 20 mil reais. Ou seja, cada campanha sórdida de Fake News, baseadas apenas nos dois perfis no Twitter, de Jair e Eduardo Bolsonaro, pode custar mais de 36 milhões de reais. A deputada afirmou que cerca de 500 mil reais de dinheiro público já foi gasto, de forma ilegal, nesta operação fraudulenta. Quem paga por isso?
No depoimento foi demonstrado um perfil “robô”, de nome “Murilo Defanti”. Este perfil falso fez, em apenas um dia, 1.123 “retwitees” pedindo fora o Ministro do STF Gilmar Mendes. Uma atividade impossível ser realizada por ser humano.
Para que não fique dúvida da estreita ligação desta verdadeira “milícia digital” ao bolsonarismo, o partido lançado recentemente pela família Bolsonaro, o chamado Aliança pelo Brasil, já é seguido por 164 mil pessoas no Twitter, destes, 26 mil já foram identificados como perfis falsos.
Segundo mesmo depoimento, existe um chamado “gabinete do ódio”, coordenado por Eduardo e Carlos Bolsonaro, que funciona com um grupo fechado no Instagram. Neste grupo, protegido por uma senha, eles decidiam quem iria ser perseguido pela milícia bolsonarista nas redes.
Muitos discípulos de Olavo de Carvalho estariam envolvidos nesta trama também. Segundo o depoimento, Carlos Bolsonaro chegou a propor a criação de uma ABIN paralela, com investigações ilegais e grampos sob o controle direto do bolsonarismo.
Por uma investigação profunda e transparente
O depoimento da deputada do PSL demonstra de forma cabal a necessidade de que a CPMI da Fake News realize uma investigação profunda e transparente sobre todo este esquema ilegal nas redes.
Na verdade, esta operação fraudulenta funcionou durante a campanha eleitoral e foi uma das explicações para a vitória eleitoral de Bolsonaro e de outros políticos aliados ao bolsonarismo.
De fato, as eleições de 2018 foram marcadas por irregularidades. As publicações do The Intercept dos vazamentos das conversas no Telegram entre Moro, Dallagnol e outros procuradores da Lava Jato, já tinham evidenciado o verdadeiro conluio para tirar Lula da disputa, beneficiando Bolsonaro.
Moro negociava o Ministério da Justiça, quando seguia prejudicando a campanha de Haddad, durante o segundo turno.
Agora, as informações que estão sendo obtidas na CPMI da Fake News reforçam as ilegalidades praticadas nas redes, durante a campanha eleitoral passada.
Se montou no Brasil, a exemplo do que já foi feito em outros países, uma verdadeira operação de disseminação de notícias falsas, utilizando perfis “robôs”, que serviam para destruir a imagem de outros candidatos, facilitando de forma ilegal a vitória de candidatos de extrema direita.
É necessário, inclusive, realizar uma investigação muito séria sobre as relações internacionais desta verdadeira “milícia digital” bolsonarista. A investigação deve seguir, doa a quem doer. Inclusive, deve chegar a investigar a participação do atual Presidente da República nestes crimes sibernéticos. Basta. É impossível acreditar que Bolsonaro não sabia de nada, em relação as irregularidades chefiadas por seus filhos na internet, sempre no intuito de beneficiá-lo.
As revelações sobre as Fake News bolsonaristas são mais um bom motivo para que a esquerda e os movimentos sociais retomem uma agenda de mobilizações nacionais e unificadas.
Adiar o combate a este governo apenas para o momento eleitoral é um grave erro. A luta é agora: derrotar o governo Bolsonaro nas ruas.
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