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BRASIL

Entre o medo e a vontade de lutar, honrar o legado de Marielle

Gabriel Santos, de Maceió, AL
Barbara Dias / Reprodução Facebook

O ativismo anticapitalista é um ato voluntário e individual. É uma dedicação que cada militante faz na medida em que decide doar seu tempo, suas finanças, suas tardes livres, para um projeto coletivo de combate, transformação e superação da atual sociedade. Ninguém força outro a ser um militante revolucionário. Não se tem como fazer isso. Revolucionários não são feitos por decretos e vontades de terceiros. Justamente por isso, o ativismo anticapitalista (sendo voluntário e individual) tem dois aspectos muito importantes.

O primeiro deles é o convencimento. As pessoas só se dedicam àquilo que elas são convencidas para tal. Ninguém passa horas em longas reuniões, pega ônibus, se desloca, doa sua energia e sua juventude, se não for convencido disso. O convencimento é diferente de pessoa para pessoa. Existem pessoas que são convencidas rapidamente, outras que demoram mais. Existem aquelas que se abrem mais para o convencimento, outras pessoas tem “o pé atrás”. Tem os casos também de pessoas que, em determinado momento, estão mais dispostas, e em outros momentos, essas mesmas pessoas passam por crises, dúvidas, questionamentos, e precisam ser convencidas novamente.

O ato de militar é um processo e disso se desdobra o segundo aspecto citado: a paciência. Obviamente, queríamos que as coisas fossem rápidas, fáceis, se decidissem de forma simples, que a resposta para as dúvidas estivesse na ponta da língua. Obviamente que, diante de uma situação adversa, queremos a rápida resolução. Queremos convencer as pessoas de forma imediata e que todos tenham a mesma dedicação na atividade de militância que uma jovem chilena que vai às ruas, enfrenta balas e a repressão na luta pelos seus direitos. Infelizmente, as coisas não são assim. Um militante revolucionário precisa ter paciência revolucionária. Isso significa ter calma para não cair em desespero, trabalhar diariamente de forma paciente para se alcançar o objetivo. É preciso entender que cada pessoa tem seu ritmo, e que a luta de classes tem suas leis e seu tempo.

A luta pela revolução não é uma corrida de cem metros, é, ao contrário, uma maratona. Quem na maratona joga todas suas energias nos metros iniciais dificilmente ultrapassa a linha de chegada.

O trabalho de convencimento e a paciência revolucionária se complementam. Sem paciência não se busca fazer o convencimento cotidiano com os demais. E sem efetivar o trabalho de convencimento no dia a dia, dificilmente se adquire a paciência necessária para a longa corrida da revolução.

Se o dever de todo revolucionário é construir o partido e preparara a revolução, podemos reafirmar que o convencimento e a paciência são palavras chaves para estas tarefas e para a construção de um revolucionário. Hoje, talvez nenhuma tarefa seja mais importante do que ganhar as pessoas para nossas ideias e nosso projeto de sociedade. E isso só é possível com as palavras chaves citadas.

A luta de classes tem um fator subjetivo que interfere na vida dos ativistas e é muito importante, não podendo ser subestimado. Aqueles que dedicam suas vidas para a transformação da sociedade, além de problemas pessoais, financeiros, familiares, desemprego, dias ruins, doenças, entre tantas coisas que estamos suscetíveis, diante de uma conjuntura desfavorável se entristecem pela mesma, assim como por não ver vitórias da classe, por ver problemas na organização que constroem, por ter discordância na linha política aplicada. Algo bastante normal, afinal, somos humanos.

Mas, a questão é que algumas pautas nos atingem mais que as outras, por afinidade ou uma série de questões que nos toca. Possivelmente, nenhum fato político hoje causa tanta comoção entre os revolucionários brasileiros do que o assassinato de Marielle. A morte da vereadora carioca marcou a vida de milhares de ativistas. Causou uma mudança e ensinamentos, medos e angústias, reflexões e certezas na forma de militar de uma série de pessoas. É um tema delicado, emocionante, que ainda dói, faz surgir lágrimas e prantos.

Os acontecimentos desta semana fizeram com que a pergunta “quem mandou matar Marielle franco?” ecoasse novamente em todo o Brasil. Muitos choraram novamente, sentiram a angústia, o medo, a tristeza, o vazio no peito se repetir. Outros sentiram ódio e tiveram vontade de agir de forma imediata. Aqui o fato subjetivo novamente entra em cena.

Trataremos sobre dois aspectos opostos dela, o medo e a vontade de lutar.

O medo é um sentimento natural. Não tem nada de ruim em sentir medo, ainda mais diante da atual condição política do país. Em certa medida, o medo é até mesmo saudável porque faz com que tenhamos ações com cautela e busquemos proteção. A grande questão é quando esse medo se torna uma paralisia completa. Ou agimos baseado nele, o medo é um péssimo conselheiro, pois impede que enxerguemos a realidade como ela realmente é. Algo que diante da atual conjuntura a esquerda brasileira não pode permitir que aconteça.

A vontade de lutar, de ocupar as ruas diante da atual conjuntura e das novas revelações é progressiva. Vemos protestos de massas e processos revolucionários ocorrendo em diversos países do mundo. Porém, até mesmo essa vontade de lutar precisa ser trabalhada e focalizada. É preciso planejar, pensar como agir, ver qual melhor método e tática para o momento, ter paciência para convencer as demais pessoas que ainda estão na retaguarda. A pressa para a resolução dos problemas também é um caminho que a esquerda brasileira não pode tomar. Na corrida da luta de classes não se pode queimar a largada.

Ao longo do fim desta semana e início da semana que vem, no dia 05, serão realizados uma série de atos pelo Brasil pedindo Justiça para Marielle e exigindo maiores investigações. A tarefa dos militantes revolucionários é buscar fazer com que esta pauta entre em contato com o maior número possível de pessoas. Construir e massificar as manifestações são coisas centrais nos próximos dias, mas isso só é possível com paciência e buscando convencer as pessoas. Palavras e atitudes centrais que todo militante anticapitalista precisa ter nos dias atuais.

 

 

 

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