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MUNDO

Chile: o que vem depois da greve geral?

A Mesa Unidad Nacional convocou uma greve geral para o dia 30 de outubro

Raúl Marcelo Devia Ilabaca, de Chile
reprodução CNN

O ascenso da luta popular no Chile, que começou com o boicote ao pagamento do metrô pelos estudantes secundaristas, a resposta de repressão e criminalização dos jovens pelo governo, desatou um processo de luta na capital, Santiago, que dos 30 pesos na passagem, passou a questionar 30 anos de injustiça social, que foi se gestando passo a passo, toda vez que as lutas parciais dos estudantes de 2006 e 2011, as regiões que se levantaram como Coyhaique, Chiloé, freirína, Punta Arenas, Osorno, o 8M, com a greve feminista, as manifestações convocadas por No Mas AFP desde 2013 até esta data, com saídas gatopardistas, de mudar algo para que nada se mude, e evitava que a pressão social explodisse.

Em um dia de outubro, a pressão social explodiu em Santiago, na sexta, 18, e arrastou a todo o país pelos dias seguintes, tanto é assim que a onda de manifestações populares, enfrentamentos com a polícia, saques populares se estenderam por todo o país. Durante o fim de semana, sábado e domingo, o caos foi total no país, a resposta do governo foi recorrer à repressão violenta e a determinação do estado de emergência no país, chamando às forças armadas às ruas para enfrentar aos manifestantes, entregando também a decisão de um toque de recolher por regiões aos chefes militares de cada região, com isso também se cortaram as liberdades democráticas, o direito à reunião e manifestação, e isto foi o mesmo que apagar o incêndio com gasolina.

A resposta das massas foi o aumento do nível de organização e a reunião de movimentos de tipos diferentes, tanto é assim, que o movimento de Unidade Social, criado por organizações sindicais, do meio ambiente, de moradia, cidadãs, há apenas dois meses, se reúne e chama a greve geral dos dias 23 e 24 de outubro, e termina com a sexta, 25, com um balanço espetacular. O Chile parou absolutamente toda a sua produção, portuários, mineiros, funcionários públicos da saúde, serviços, enfim toda a classe trabalhadora se envolveu nesta greve, e as manifestações populares se massificaram, marchas por todos os lados, a cada dia se implementava mais repressão e foi imposto um toque de recolher em algumas regiões, houve assassinatos e mortes (20 aproximadamente), mais de 2,840 detenções no país, 500 feridos com munição letal, de borracha e lacrimogêneos, enfim, a repressão desatada da polícia e dos militares.

Mas o Chile despertou de sua letargia neoliberal e a cada golpe da repressão, surgiram mais protestos de massa, mas organização e mais luta. A greve foi um êxito, sem dúvida, a consigna que se grita nas ruas é Fora Piñera!!!, que representa sem dúvida colocar para fora o modelo neoliberal, deixado pela ditadura e sua herança nefasta de suas armadilhas legais.

Os partidos tradicionais se acomodaram, aceitaram os benefícios do poder e com eles, não há saída política possível. A única saída, portanto, que seja efetivamente a favor do povo em luta, está nas mãos dele mesmo, que chame a consigna de Fora Piñera e seu governo, que se deve converter na forma necessária, uma assembleia popular constituinte, conformada pelos movimentos sociais que estão se levantando com assembleias populares territoriais de forma embrionária por agora. Ali está surgindo, e se depende da luta de classes para que se avance nessa direção, para que surja a direção política que não busque a saída para as instituições democráticas burguesas em crise, ou seja, uma saída por cima. O que necessitamos é uma saída por baixo e pela esquerda, que com unidade, organização e luta, dos trabalhadores, estudantes, moradores, povos originários, tomemos o futuro em nossas mãos e construamos os organismos que nos levem a uma assembleia popular constituinte plurinacional.

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