Reconstruir o DCE para defender a UNESP

Por Guilherme Cortez, de Franca, SP

Neste fim de semana, o XX Congresso dos Estudantes da UNESP (CEU) vai ter continuidade no campus da Bauru. A primeira parte do Congresso aconteceu no primeiro semestre, em Assis, e terminou precipitadamente, sem finalizar a discussão dos encaminhamentos.

De lá para cá, muita coisa aconteceu. As universidades públicas de todo o Brasil foram varridas pelo tsunami da educação do dia 15 de maio, contra os cortes de investimento do governo Bolsonaro, e protagonizaram importantes manifestações de professores, estudantes e servidores. A UNESP não ficou de fora e quase todas as suas unidades se somaram à mobilização.

Ao mesmo tempo, a reitoria e o governo do estado avançaram em seu projeto de desmonte da universidade. A nova ameaça da reitoria – que já vem arquitetando desde o começo do ano o fechamento de unidades experimentais e cursos – é a proposta de extinção de departamentos com menos de dez docentes, aprovada a portas fechadas na última reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UNESP. Felizmente, a vasta rejeição da comunidade universitária conquistou uma vitória parcial com a suspensão da medida até a próxima reunião da CEPE, anunciada ontem pelo vice-reitor.

A mobilização dos estudantes, professores e servidores da UNESP encontra limites na dificuldade para sua organização. A estrutura descentralizada da universidade é um obstáculo que precisa ser compensado por uma articulação maior dos setores e campi. A inexistência de um Diretório Central dos Estudantes (DCE) há mais de dez anos é um agravante desse problema.

Os estudantes são, seguramente, os mais prejudicados pela sua própria desarticulação. No começo do ano, por exemplo, ocorreram mobilizações em unidades experimentais ameaçadas de fechamento, como Registro e Rosana, que passaram à margem dos movimentos de outros campi. A própria luta contra a extinção dos departamentos teve o Instituto de Artes na vanguarda, mas a mobilização em outras unidades foi desigual.

Nesse contexto, a discussão sobre a reativação do DCE, que vai ter seguimento nesse Congresso, é muito oportuna e urgente. A UNESP precisa de um DCE não para ter mais uma entidade representativa, mas para avançar na organização do movimento estudantil. As experiências de mobilização desde 2014 demonstram que, sem esse avanço, nossas mobilizações encontraram grandes dificuldades.

Sem um DCE, faltamos na articulação com o setor dos professores e servidores da UNESP – que, nos dois últimos anos, receberam o 13º atrasado – e na nossa própria representação nos órgãos institucionais na universidade.  As reuniões do Conselho Universitário e de colegiados como a CEPE, onde são encaminhadas diversas medidas que nos impactam, acontecem sem a participação de nenhum estudante devido à ausência de um DCE para organizar a nossa representação.

O que está colocado hoje é a possibilidade de fechamento de cursos e unidades inteiras a curto prazo, além de um retrocesso ainda maior nas políticas de permanência estudantil e nas relações de emprego na universidade. O desmonte da universidade caminha a passos largos. Não temos tempo a perder. A UNESP não tem tempo de sobra. Se a organização do movimento estudantil não tiver um salto de qualidade agora, não haverá muito para se fazer depois.

De qual DCE a UNESP precisa?

Um DCE, por si só, não resolverá instantaneamente os problemas da UNESP. Ele não é mais do que um meio para impulsionarmos nossa mobilização em defesa da universidade. Mas para ser efetivo, o DCE que queremos reconstruir não pode ser qualquer DCE.

Em primeiro lugar, um DCE da UNESP precisa incorporar a grande diversidade da universidade. Precisa refletir a realidade dos diferentes campi e dos estudantes cotistas e dependentes das políticas de permanência estudantil e a pluralidade de ideias e opiniões. Por isso, a UNESP precisa de um DCE amplo e democrático.

Mas um DCE da UNESP precisa ser, acima de tudo, um instrumento de luta. Precisa ter como seu centro a mobilização dos estudantes em defesa da nossa universidade. Um DCE imóvel, burocrático e afastado das demandas dos estudantes não nos serve.

A segunda parte desse Congresso acontece em um momento crítico e, por isso, muita pressão recairá sobre seus delegados, eleitos nas bases de dezenas de cursos espalhados pela universidade. O movimento estudantil da UNESP tem diante de si uma oportunidade histórica de avançar na sua organização para defender a universidade. Desperdiça-la pode ser um caminho sem volta e o custo a se pagar muito alto.