Um falso discurso anticorrupção esteve presente em todo o processo que tentou legitimar o golpe parlamentar do impeachment de 2016. Este discurso, sempre apoiado pela grande mídia, especialmente a TV Globo, embalou os protestos reacionários, que se intensificaram a partir de 2015. Bolsonaro sempre se valeu deste pseudo discurso anticorrupção. Este perfil foi uma das suas prioridades na campanha eleitoral, com o objetivo de fortalecer o sentimento contra o PT, fato que ajudou muito a sua eleição, sobretudo no segundo turno. Entretanto, passados nove meses deste governo de extrema-direita neofascista, vemos a enorme contradição entre o falso discurso de combate a corrupção na política e a prática de Bolsonaro, seus filhos e o seu partido, o PSL.
O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) acaba de apresentar denúncia contra Marcelo Álvaro Antonio, chefe do PSL mineiro e atual Ministro do Turismo de Bolsonaro. Ele é acusado de ter chefiado um esquema de desvio de verbas públicas de campanha eleitoral, usando falsas candidaturas (laranjas) femininas. O caso demonstra de forma inequívoca que Bolsonaro e seu partido sempre estiveram entre aqueles que praticaram (e praticam) o uso de seu posto como parlamentar ou em um governo a serviço de seus interesses privados e de seu projeto político.
Entenda o esquema dos laranjas do PSL-MG
No início deste ano, surgiram várias denúncias da utilização de candidaturas laranjas pelo partido de Bolosnaro, o PSL. Segundo as investigações, o esquema funcionava assim: utilizava-se candidaturas femininas como laranjas, se valendo da exigência de uma cota mínimas de mulheres por partido ou coligação. Na verdade, muitas destas candidaturas não eram para valer, e eram utilizadas apenas para repassar verbas de campanha para as candidaturas de fato, sobretudo dos chefes políticos nacionais e regionais do PSL. O caso teria sido uma das explicações dos conflitos entre o atual presidente e seu ex-ministro Gustavo Bebianno, demitido por Bolsonaro da Secretaria Geral da Presidência. Mas, o uso das candidaturas laranjas atingem em cheio o atual Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro, que é o chefe político do PSL em Minas Gerais.
O caso é tão escandaloso, que uma deputada federal do PSL de Minas, Alê Silva, chegou a acusar que o atual Ministro de Bolsonaro teria a ameaçado de morte, numa reunião, por ela ter denunciado o escândalo dos laranjas do PSL no Estado. Em outro caso, em Belo Horizonte, início de agosto, Claudio Duarte (PSL) teve o seu mandato de vereador cassado pela Câmara de Vereadores, acusado de embolsar cerca de 1 milhão de reais, desviando verbas dos salários de seus assessores e da verba do gabinete.
Em entrevista, no dia 2 de agosto, Marcelo Álvaro chega a afirmar que Bolsonaro nunca lhe cobrou explicações sobre o caso dos laranjas do PSL mineiro e que também ele nunca se sentiu ameaçado em perder o cargo de Ministro. Na entrevista, ele chega dizer: “Eu acredito que o presidente olha para mim e pensa: ‘Eu não vou exonerar um ministro por denúncias que não têm a mínima comprovação’. Acho que é isso que me mantém no cargo”, afirmou. O caso dos laranjas do PSL, especialmente em MG, é mais uma demonstração nítida do atrelamento de Bolsonaro e de seu partido, o PSL, com as velhas práticas de corrupção.
Até o momento, nenhuma punição foi definida pela Justiça Eleitoral. Agora, apareceu a notícia da denúncia do MP de MG. É necessário, mais do que nunca, exigir uma investigação profunda e transparente, que puna os que, comprovadamente, se envolveram neste esquema. E, ainda mais importante, é necessário apurar seriamente o envolvimento da família Bolsonaro neste caso.
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