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Colunas

Crescem as mobilizações na Argentina e na França contra a retirada de direitos

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Nos últimos dias, assistimos importantes mobilizações, protagonizadas principalmente pela classe trabalhadora na Argentina e na França.

A intensificação das mobilizações nos dois países se explica pelos ataques de Maurício Macri e de Emmanuel Macron, presidentes da Argentina e da França respectivamente, que são governos de direita, totalmente comprometidos com a aplicação de planos de ajustes que ferem direitos históricos do povo trabalhador de seus países.

Vivemos um cenário onde a economia mundial segue crescendo abaixo do esperado pelo mercado e ainda não conseguiu sequer recuperar o mesmo patamar de antes de 2007 e 2008, quando teve início uma grave crise econômica mundial, ainda não superada.

Muitos economistas – não só os marxistas, diga-se de passagem – já apontam uma possível nova queda nos níveis de crescimento da economia mundial, abrindo, inclusive, a possibilidade de uma recessão.

Diante desta situação de ainda maiores dificuldades econômicas, um receituário de ataques aos direitos sociais dos trabalhadores é intensificado e une grandes empresas transnacionais, os bancos e os governos, que na sua esmagadora maioria estão alinhados com essa política.

A situação política mundial é marcada profundamente por esta ofensiva da burguesia e de seus governos contra os direitos dos trabalhadores e da juventude. Essa correlação de forças não se alterou a favor dos explorados e oprimidos. Não devemos cair num otimismo exagerado.

Entretanto, é importante identificar também que vivemos um momento de fortalecimento das lutas de resistência contra esses planos de austeridade, em vários países. E, Argentina e França, são exemplos incontestes desta dura realidade.

Macri vive um final de mandato desastroso

A eleição de Macri foi apresentada como a abertura de um novo período de crescimento econômico e prosperidade na Argentina.

Mas, a realidade foi bem diferente. Com Macri no governo a economia argentina piorou muito, e houve um crescimento da fome da miséria neste importante país latino-americano.

As lutas de resistência contra os planos de Macri se intensificaram. Chegaram a ocorrer seis greves gerais no país contra seu governo e suas medidas de cunho neoliberal. Além dos gigantescos protestos das mulheres pela legalização do aborto.

Na última semana, no dia 12 de setembro, vimos uma forte mobilização realizada por movimentos populares, sindicatos e centrais sindicais, em frente ao Congresso Nacional argentino, cobrando uma política especial de combate a fome, que voltou a assolar o país.

Neste dia, os deputados argentinos aprovaram um projeto de lei de segurança alimentar. Nada mais demonstrativo da grave situação econômica e social na qual vive a Argentina.

A derrota política e eleitoral que Macri sofreu nas prévias das futuras eleições presidenciais argentinas é uma consequência direta dessa situação.

Nesta altura, nenhum analista político sério aposta na possibilidade de reeleição de Macri nas eleições, marcadas para outubro.

O atual presidente deve ser derrotado pelo peronista Alberto Fernández, tendo como candidata a vice Cristina Kirchner, ex-presidenta da Argentina. Fernández já iniciou negociações com o FMI, o que aponta a possibilidade que um novo governo peronista não rompa de fato com essa agenda neoliberal.

Nestas eleições, a esquerda socialista estará representada pela chapa da Frente de Esquerda dos Trabalhadores – Unidade (FIT-U, na legenda em castelhano), encabeçada pelo candidato a presidente Nicolás Del Caño.

Macron enfrenta novamente grandes mobilizações

O desgaste do Macron na França não chega a ser igual ao de Macri na Argentina, mas vem crescendo durante os últimos meses.

Eleito também com a promessa de superar as dificuldades econômicas e sociais enfrentadas pela França durante governos anteriores, Macron até o momento não cumpriu suas promessas de campanha.

Fustigado por uma onda de protestos populares que ficou conhecida como “Coletes Amarelos”, este governo já viu cair seus índices de popularidade. Nas últimas pesquisas de opinião, publicadas este mês, apesar de uma leve melhora de desempenho, Macron ainda é rejeitado por 66% dos entrevistados.

Apesar da diminuição do número de presentes nos protestos organizados pelos Coletes Amarelos, o governo francês vem enfrentando este ano protestos organizados por sindicatos e centrais sindicais.

Depois de uma forte greve geral em fevereiro deste ano, na última sexta-feira, 13, foi realizada a maior greve dos trabalhadores dos transportes públicos em 12 anos, parando totalmente a cidade de Paris.

A fortíssima greve dos transportes se deve a resistência organizada por sindicatos e centrais sindicais contra o projeto de contrarreforma da Previdência de Macron, que afeta o valor das pensões e o tempo necessário para que um trabalhador possa se aposentar. Depois da força da greve do dia 13, as mobilizações devem continuar.

A importância cada vez maior da Frente Única

As mobilizações na Argentina e na França ainda não foram suficientes para derrotar a aplicação dos planos neoliberais de austeridade e de retirada de direitos.

Porém, estes processos de luta foram decisivos para gerar um forte degaste dos novos governos de direita, como de Macri e Macron, que hoje vivem uma situação de maiores dificuldades para impor seus planos de ajustes.

O êxito destes processos de mobilização se deve, principalmente, a unificação das lutas organizada pelos principais sindicatos e centrais sindicais de ambos os países.

Diante da onda de ataques aos direitos sociais, mais do que nunca é decisiva a construção de uma verdadeira frente única dos explorados e oprimidos.

Só esta unidade concreta na luta poderá fazer parar o processo perverso de retirada de direitos trabalhistas e previdenciários, colocando na ordem do dia um plano econômico alternativo do povo trabalhador.

Este é o mesmo caminho que deve ser seguido pelos trabalhadores no Brasil. Como estão fazendo, neste momento, os trabalhadores dos Correios, com sua forte greve nacional em defesa dos direitos e contra a privatização da empresa.

No Brasil vivemos uma situação política ainda pior do que na Argentina e na França, onde um governo neofascista alia uma agenda econômica de ataques aos direitos sociais com uma escalada autoritária que ameaça seriamente as liberdades democráticas.

Portanto, em nosso país é a hora das centrais sindicais e os movimentos sociais combativos retomarem um calendário de mobilização unificado, que una as lutas contra as privatizações da educação e da saúde públicas, da previdência social e das estatais. A defesa efetiva da soberania do nosso país está nas mãos da classe trabalhadora.

Da mesma forma, devemos estar dispostos a construir ações concretas em conjunto com todos os setores que se oponham ao projeto de extrema direita do bolsonarismo.