Preta Ferreira é coordenadora do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), produtora cultural e apresentadora do Boletim Lula Livre. Há 30 dias, em 24 de junho de 2019, Preta foi detida, de modo completamente injusto, junto com sua mãe, Carmen Silva, também liderança do MSTC, e Sidney Ferreira, seu irmão.
A absurda acusação de extorsão de moradores das ocupações de prédios organizadas pelo MSTC foi refutada mais de uma vez pelos ativistas do movimento e pelo corpo de advogados da defesa de Preta e seus companheiros também já expuseram que não há provas, nem indícios técnicos que justifiquem a prisão.
A prisão de Preta, Carmen e Sidney é política. Em 24 de junho, dia de sua detenção, Preta Ferreira disse em entrevista à Rede Brasil Atual que o delegado do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) tratava-os de forma depreciativa, mesmo com o apoio de movimentos e artistas no dia.
Os movimentos populares de ocupações urbanas denunciam que o direito à moradia para todos ainda não foi conquistado para a maioria da população que mais necessita: pretos e população de baixa renda, que sobrevivem nas periferias com desemprego ou salários baixos, condições ruins de saneamento e habitação.
A cidade de São Paulo é a expressão do caos urbano contemporâneo. Para que chegue a zero a quantidade de pessoas sem-teto, são necessárias quase 400 mil novas moradias, ao mesmo tempo, em torno de 2 mil imóveis estão inutilizados ou abandonados. Neste universo, aproximadamente 1,2 milhão de pessoas vivem em condição precária.
O último censo da população em situação de rua em São Paulo, de 2015, mostra que a quantidade de pessoas sem moradia cresceu, sendo 7.335 pessoas e, destas, 47% tem entre 18 e 49 anos de idade. Na região da Sé, centro de São Paulo, a cada 100 pessoas que transitam à noite, 53 são pessoas sem moradia.
Preta Ferreira e seus companheiros do MSTC são a prova viva de que numa situação de desmonte de direitos, não resta alternativa a não ser ocupar terrenos e prédios que estão inutilizados, abandonados pelos proprietários ou com dívidas ao poder público, para garantir a continuidade das vidas das classes subalternas. Em particular quando se sabe da exclusão e dos ataques aos direitos das mulheres negras, mães, moradoras das periferias que sofrem muito mais.
Ao mesmo tempo, esta prisão também expõe que a situação reacionária se mantém pelas ações autoritárias do aparato governamental-político do Estado por meio da criminalização de lutadores e de movimentos sociais. No caso de Preta o modus operandi é pela subtração de lideranças, daqueles que contribuem para avançar o nível de consciência.
A liminar de Habeas Corpus foi negada pelo Tribunal de Justiça no início de julho de 2019, e completados os 30 dias da injusta prisão de Preta, Carmen e Sidney, foi entregue um novo pedido de liberdade provisória pelos seus advogados de defesa, que prosseguem denunciando que esta detenção ocorre de maneira arbitrária e ainda sem provas.
Neste dia 24 de julho, Preta deu entrevista com palavras empolgantes que nos estimulam a continuar e resistir contra esse sistema:“Quando sair, vou lutar duas vezes mais”. Manifestamos toda solidariedade a Preta, Carmen e Sidney, que consigamos reverter esta revoltante situação e os queremos livres e combativos.
* Felipe Alencar é educador e militante do PSOL.
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