Na tarde desta terça-feira (25/06), a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro pôs em votação pedido de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB), acusado de favorecer empresas em renovação ilegal de contrato de publicidade. Em sessão de poucas surpresas, uma ampla maioria de vereadores votou pela absolvição de Crivella de crime de responsabilidade. Mas este resultado está longe de assegurar ao prefeito a permanência em seu posto.
Desde que assumiu seu mandato, em 2017, a gestão de Marcelo Crivella foi marcada por uma persistente crise fiscal e pela inoperância do poder municipal, com destaque para o ciclo trágico de mortes e danos decorrentes das chuvas e de cortes no orçamento de prevenção de riscos ambientais. Somente em 2019, foram ao menos dez mortes causadas em enchentes e deslizamentos que poderiam ter sido evitadas.
A crescente impopularidade e o caos administrativo do prefeito reflete-se na relação deste com o poder legislativo, onde conta com uma base de apoio frágil e pouco fiel, disposta a cumprir papel de oposição como instrumento de pressão, motivada mais por oportunidades na ocupação da máquina pública do que por projeto político. Frente à multiplicação de denúncias e CPIs investigando a administração de Crivella, esta maioria fisiológica passou a flertar com a possibilidade de cassação do mandato do prefeito, mas não consegue aprovar em março deste ano a manobra que modificaria a lei orgânica do município para antecipar eleições indiretas para prefeito, por apenas um voto abaixo do mínimo necessário. Sem eleições indiretas já para o ano de 2019, o impeachment de Crivella se tornou para esta maioria fisiológica uma peça de barganha.
Apesar de reconhecer a quebra de rito, as irregularidades e os prejuízos (na casa de R$ 68 milhões) causados pela prorrogação ilegal de contratos de mobiliário urbano com as empresas Adshell e Cemusa, a comissão processante chefiada pelo ex-chefe da Casa Civil de Crivella, o vereador Paulo Messina (PRB), concluiu por eximir o prefeito de responsabilidade pessoal no feito, no que foram acompanhados por 35 vereadores, cuja maioria havia votado anteriormente pela admissibilidade da denúncia. O resultado mostra que Crivella ganha tempo, mas não tranquilidade. Seu futuro à frente da prefeitura depende da vontade de uma maioria fisiológica que calcula os eventuais benefícios de sua substituição antecipada, que daria lugar a uma eleição indireta no caso de impeachment no último ano de gestão. Nesta mesa de negociação, são os interesses da maioria que são rifados.
Os movimentos sociais e forças da oposição ideológica ao governo Crivella, capitaneada pela bancada do PSOL na Câmara, seguem lutando pela responsabilização do prefeito nas múltiplas investigações a que está submetido. Só com mobilização, como a que ocupou a galeria na votação desta terça-feira, será possível tirar o futuro do município das mãos dos que atualmente conspiram em interesse próprio.
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