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MUNDO

López Obrador tem esperanças secretas de que jorrará leite das pedras

Pedro Méndez, México | Tradução: Editoria Internacional

O governo mexicano convertido na polícia de imigrações de Trump

Trump queria que o governo de López Obrador se convertesse em sua polícia migratória. E conseguiu isso e, de passagem, o humilhou. Não satisfeito com essa situação vergonhosa, o presidente mexicano defendeu o “pacto” com o governo norte-americano como “um grande acordo que resguarda a soberania nacional”.

A história começou no final de maio quanto Donald Trump intimou o governo mexicano a deter o fluxo migratório proveniente da América Central com destino aos EUA. Caso contrário aplicaria uma taxa de cinco por cento a todas as mercadorias provenientes de nosso país, aumentando-a para 25 por cento no mês de outubro. Tudo isso apesar da existência de um Tratado de Livre Comércio.

Depois de uma semana de “negociações”, no dia 7 de junho,[i] a menos de 72 horas do prazo para que Trump aplicasse os famosos 5 por cento de impostos, chegou-se a um “acordo”: o México enviaria 6 mil soldados do Exército para a fronteira com a Guatemala para perseguir e prender os migrantes que vêm fugindo da miséria mais espantosa e da violência das centenas de bandos do crime organizado (tolerados pelos governos) em seus países de origem. Além disso, comprometeram-se a acelerar a instrumentalização do programa Remain in Mexico (Permaneçam no México) ou o do denominado Terceiro País Seguro, que compromete nosso país a receber migrantes para, dessa forma, evitar que os EUA tenham que executar o trabalho sujo.

O chanceler Marcelo Ebrard, alarmado, reclamou que, caso não se tivesse chegado a uma negociação nos termos aceitados, a economia mexicana teria perdido 900 mil empregos e registrado um colapso da atividade produtiva.

Mesmo assim, Trump ameaçou que, se em 45 dias não se veem resultados que lhe satisfaçam, voltaria a ameaçar com impostos para conseguir mais concessões. No entanto, em 9 de junho, López Obrador disse que Trump “era seu amigo”. Nesse sentido, ficou atrás de Chávez.

A percepção que deixou López Obrador pela maneira de “resolver o problema” foi muito ruim, levando em conta que, em geral, a população mexicana não aceita nunca de bom grado as imposições dos Estados Unidos.

López Obrador aceita que as causas da migração são a pobreza, a marginalização e a violência extrema por parte dos delinquentes e do Estado. Mas nunca diz que tudo isso é produto de um sistema económico, o capitalismo, classista, explorador, criminoso e militarizado que converteu nossos (México, Guatemala, El Salvador e Honduras) em países extrativistas e maquiladores, que expulsam seres humanos de maneira massiva de seus territórios. E que os Estados Unidos são os principais responsáveis.

Mas o drama dos migrantes não para aqui. Nem sequer é o mais grave. Milhares deles, incluindo crianças, são sequestrados por bandos do crime organizado para que não se volte a saber nada mais deles. Esses bandos operam com toda a liberdade e em não poucas vezes são protegidos pelas autoridades. Isso sem contar que, em sua passagem pelo México, muitas mulheres são violentadas, têm seus escassos pertences roubados, são agredidas, são colocadas em prisões, etc. Tudo isso como uma estratégia tanto dos governos norte-americano como do mexicano para conter o fluxo migratório.

Por tudo isso é que várias organizações defensoras dos direitos humanos, trabalhadores, estudantes, etc., começam a se organizar para sair em defesa dos migrantes que, ao fim e ao cabo, são trabalhadores que migram em busca de emprego. É possível organizar um encontro de organizações na cidade do México que sirva para denunciar os estragos que leva a cabo um sistema cada dia más deteriorado.

[i] Para pressionar, na sexta-feira 7 de junho, durante uma reunião de 12 horas no terceiro dia consecutivo de negociações, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard e sua comitiva foram despojados de laptops, celulares e outros aparelhos eletrônicos, para evitar gravações secretas. O que logicamente fizeram funcionários do Departamento de Estado.

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