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OPRESSÕES

Em Belém (PA), Grupo de Estudos Marielle Franco é uma forma de resistir e de nos fortalecer

Momentos de troca de afeto, vivências, acolhimento, conhecimento e reconhecimento

Beatriz Carneiro André*, de Belém, PA
Afronte PA

Débora Oliveira, Naiara Jinkss e Andresa Carvalho debatendo sobre o silenciamento das mulheres amazônidas na arte.

Com a eleição de Bolsonaro à Presidência da República, a esquerda passou a repensar a sua oposição a esse desgoverno, resultando nas tais famosas frases “Seremos resistência” e “Ninguém solta a mão de ninguém”. Tais mensagens supracitadas nos fizeram refletir sobre o respeito, afeto e vivência que temos diariamente com as nossas companheiras e companheiros de luta e, também, como focar em nos fortalecer – em acolhimento, reconhecimento e conhecimento – será a nossa maior demonstração de resistência a esse governo que não nos representa, não nos serve.

A criação do Grupo de Estudos Marielle Franco

Com tal análise de conjuntura, as militantes do Afronte Pará se propuseram a construir o Grupo de Estudos Marielle Franco, ou GEMF, com o objetivo de debater, estudar, reconhecer e construir conhecimentos que nos fortalecem enquanto oposição a um sistema que foi criado para explorar e oprimir 99% da população mundial, visto que 1% detém uma concentração de riquezas totalmente desproporcionais. Ademais, uma das propostas do grupo de estudos é ser itinerante, para que possamos ocupar todos os lugares e alcançar o máximo de vozes, sobretudo as historicamente silenciadas. Além disso, o grupo de estudos foi nomeado por Marielle Franco por ela ter sido, e ainda é nas nossas mentes, a maior representação do feminismo para os 99%: mulher, negra, favelada, mãe, mãe de adolescente, com uma companheira, com o debate da bissexualidade, defensora dos direitos humanos e funkeira. Marielle Franco representa a maior resistência ao governo Bolsonaro e a maior representação de luta para nós.

 

O lançamento do grupo: Quem pode falar?

 

Afronte PA
debate sobre o texto “Quem pode falar?” da Grada Kilomba.

O lançamento do grupo ocorreu no dia 09 de abril, na Universidade Estadual do Pará (UEPA) no campus de ciências sociais e educação de Belém. Lançamos o grupo com um debate sobre o texto “Quem pode falar?” da Grada Kilomba, um texto referente ao privilégio de alguns lugares de falas predominarem no ambiente acadêmico enquanto outros são silenciados – e essas falas têm um específico gênero, cor, sexualidade e localidade –, gerando o processo de epistemicídio, destruição de formas de conhecimento e culturas que não são assimiladas pela cultura do Ocidente branco. O debate foi mediado pela Dr. Prof. Adriane Lima, pesquisadora em feminismo decolonial e interseccional, educadora popular, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Morais” (GEPEM) e, também, militante da Resistência. O debate gerou muitas trocas de conhecimento, solidariedade e afeto, pois o campus de ciências sociais e educação da UEPA é fortemente marcado por mulheres no ensino superior, porém as bibliografias e referenciais teóricos da graduação e pós-graduação continuam sendo masculinas e brancas.

O silenciamento das mulheres amazônidas na arte

O segundo encontro organizado pelo grupo ocorreu no dia 04 de junho, na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA), com o tema “O silenciamento das Mulheres Amazônidas na Arte”. Tal tema foi enfoque por conta da polêmica ocorrida com o Festival de arte “Street River” – evento anual que reúne artistas da arte urbana do Brasil e do mundo para uma espécie de residência artística na Ilha do Combu, resultando em grafite, pintadas nas fachadas das casas ribeirinhas, formando o que é reconhecido pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde 2016, como “a primeira galeria de arte fluvial do país” – em torno da proposta deste ano, intitulada como a “Primeira Edição do Street River GRLPWR. Um recorte do Artivismo Feminino dentro do StreetArt Nacional”. Porém, com a divulgação da lista de artistas convidadas, veio a descrença no discurso que vendia o evento, pois apenas uma delas era paraense, Naiara Jinkss. As demais são Rafa Mon (RJ), Mag Magrela (SP), Lidia Viber (RJ), Criola (BH) e Clara Valente (BH). Tal organização do evento gerou várias notas de repúdio e sentimento de revolta por parte das artistas paraenses, pois além de serem invisibilizadas por serem mulheres no meio artístico ainda são silenciadas por serem amazônidas.

 

Afronte PA
Debate “O silenciamento das Mulheres Amazônidas na Arte

 

O encontro foi composto por Andresa Carvalho, graduanda em arte visual e arte educadora, Débora Oliveira, artista visual e gestora cultural, e, por fim, Naiara Jinkss, fotógrafa e educadora social.  O debate foi focado nos processos de discriminação das mulheres amazônidas na cena artística paraense e no desenvolvimento da colonialidade que é encontrada nos projetos e festivais de artes no Pará.

Somos sementes de Marielle Franco

Por fim, o Grupo de Estudos Marielle Franco (GEMF) segue organizando seus encontros itinerantes, com intuito de continuar promovendo essa troca de afeto, vivências, acolhimento, conhecimento e reconhecimento. Afinal, somos sementes de Marielle Franco, e nunca deixaremos de resistir em um governo que nos quer silenciadas, e mais precisamente mortas. Marielle presente, hoje e sempre.

 

* Beatriz Carneiro André graduanda de direito na Universidade Federal do Pará (UFPA), militante do Afronte Pará e coordenadora do Grupo de Estudos Marielle Franco (GEMF).