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Glenn Greenwald e The Intercept merecem solidariedade

Canadian Press

Glenn Greenwald, do Intercept Brasil

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

Está em curso uma avalanche de desqualificações de Glenn Greenwald nas redes sociais. Uma verdadeira esculhambação contra The Intercept. É uma baixaria espantosa. E a principal arma é uma homofobia primitiva. As teorias conspiratórias são avassaladoras.

As televisões estão no “modo” operação “abafa” para evitar que o escândalo MoroGate ganhe audiência de massas. O potencial de represálias contra a Intercept e Glenn Greenwald, em função das reportagens sobre a Lava-Jato, é grande.

A situação política no Brasil é, como sabemos, muito grave depois da eleição de Bolsonaro. O jornalismo investigativo sofre imensa pressão no mundo inteiro. E a situação ficou mais séria, nos últimos dois anos, depois da eleição de Trump. Assange está preso. Snowden exilado na Rússia. Solidariedade é necessária, mais do que nunca.

A imprensa independente precisa ser livre.

Devemos responder para além da bolha de esquerda. Mas não podemos cometer o erro de fazer contra Moro o que a extrema direita está fazendo contra Greenwald.

Uma das condições para que uma discussão seja produtiva é o respeito. Polêmicas só são destrutivas quando são ad hominem. Uma disputa de ideias passa a ser ad hominem quando pretende diminuir ou desmoralizar a pessoa que pensa diferente de nós.

Pessoas maravilhosas podem defender ideias erradas, absurdas, disparates e até aberrações. E pessoas de caráter confuso, duvidoso, ou dúbio podem ter razão. A regra número um na luta de ideias é o respeito, portanto, a honestidade intelectual. A disputa de ideias deve ser somente uma esgrima de argumentos.

Quando eu voltei para o Brasil em 1978 fui morar, militar e dar aulas em Osasco. Uma das primeiras “máximas” que ouvi no intervalo do Colégio era que “política não se discute”. Era um país ainda, politicamente, muito atrasado. Ser de oposição à ditadura já era o bastante para você ser considerado de esquerda. E ser de esquerda era o mesmo que ser comunista. Era difícil conversar.

Temos bons argumentos. Não precisamos baixar o nível. Na esquerda temos que dar o exemplo. Mesmo quando nossos inimigos são pessoas horríveis.

 

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