As imagens e notícias que chegam de Moçambique ainda são devastadoras. Após a passagem do ciclone Idai o número de mortos no sudeste africano chegam à mil pessoas. Malawi, Zimbábue e Moçambique foram atingidos pela tragédia, este último concentra 60% das vítimas. A Organização das Nações Unidas aponta que 1,8 milhão de pessoas tiveram suas vidas afetadas com a destruição de seus lares por conta do fenômeno climático. Uma tragédia.
A Unicef mostra dados que colocam no mínimo 1,6 milhão de crianças precisando de assistência nos três países atingidos. Sem habitação, passando por processos de desnutrição, e necessitando de água potável, saneamento, serviços de saúde e de ajuda humanitária para sobreviver.
Grandes acampamentos de refugiados do clima tomam conta do país, esta nova categoria criada por conta das catástrofes naturais que com o aquecimento global infelizmente se tornarão mais frequentes, e serão com certeza, em maioria, dos países mais pobres.
As tendas de lona azul e branca, de poucos metros quadrados, são os novos lares para famílias inteiras. Em alguns acampamentos são mais de mil pessoas dividindo as condições precárias ou inexistentes de higiene. As chuvas ameaçam derrubar os novos lares improvisados, isso quando não consegue, e aqueles que se protegem nela tem que colocá-la de pé novamente.
O clima é quente durante o dia, e o frio insuportável durante a noite. A quantidade de cobertores para a proteção é insuficiente, muitas pessoas dormem diretamente no chão por não haverem esteiras para todos. Convivem com falta de energia que, por mais que falte, ainda existe por meio de carregadores de bateria com luz solar. Água suficiente e de qualidade como é de se imaginar também é um artefato raro. A disputa e briga quando chega alimento e a ajuda humanitária é parte do cotidiano. A alimentação do local é pouca e de qualidade duvidosa. Falta quase tudo e não se tem perspectiva de quando será possível sair dos acampamentos improvisados.
As crianças são as que mais sofrem. Pequenos corpos negros de olhos grandes e brilhantes, tão grande quanto o sorriso que esboçam quando surge a comida, ou uma bola de futebol para brincarem. O riso fácil vira uma cara triste, porque falta a antiga casa, a antiga cama, a antiga vida. Crianças que hoje crescem sem perspectiva de um futuro em um país que foi devastado. Sem o direito à educação, saúde, habitação, uma família estruturada, sem o direito à infância. O trauma e problemas no futuro são comuns de acordo com a Unicef nestes tipos de situação. Esse pequenos corpos tiveram, por ironia do destino, que nascer justamente nesta terra, onde o Idai passou e levou tudo que via pela frente. A vida é injusta.
A presença de mosquitos e a falta de telas de proteção, assim como a chuva que invade as barracas, é uma preocupação a mais para os pais, que temem infecções como malária e cólera em seus filhos. Foram 276 casos de Malária nos três países, e somente em Moçambique, foram 1.050 casos de cólera, em especial na cidade de Beira, uma das mais atingidas.
Médicos cubanos salvam vidas
Diante do desastre que atingiu Moçambique e os países da região se faz necessária uma solidariedade internacional com recursos financeiros, alimentos, objetos de higiene básica e em especial profissionais que possam auxiliar o país africano diante da difícil situação.
Infelizmente, mais uma vez, o que se viu foram os países imperialistas e principais economias do globo mandando solidariedade muito abaixo do possível e necessário. Se contentando com notas de solidariedade lidas pelos seus embaixadores. A mídia noticiou de forma rápida a tragédia, sem grandes espaços nos telejornais.
A maior tragédia ambiental do hemisfério sul, como foi descrito pela ONU, só teve cobertura dois dias depois da passagem do ciclone Idai pela região. Afinal corpos negros em um país subdesenvolvido não gera comoção. Os valores das doações feitas por países, pela burguesia por meio de grandes empresas, bancos e organismos multilaterais chegaram a U$ 57 milhões. Para a catedral de Notre Dame, em Paris, em apenas um dia chegaram ao valor de U$ 1,5 bilhões. Um valor seis vezes maior.
Veio de um pequeno país do Caribe uma ajuda fundamental para a população moçambicana. Cuba, que tem um dos melhores sistemas de saúde do mundo, enviou para o país africano dezenas de profissionais de saúde e de outras áreas para auxiliar diante da catástrofe.
A Brigada Médica Internacional Henry Reeve fundada em Havana em 2005, rodou diversos países do mundo para auxiliar populações carentes e em especial os países e os povos atingidos por desastres naturais. E agora, ela atua desde o dia 29 de março em solo moçambicano.
São 16 médicos entre pediatras, cirurgiões, ginecologista, ortopedistas e epidemiologistas. Além de outros 24 profissionais de saúde como enfermeiros, trabalhadores de laboratório, de logística e psicólogos, que atuam na cidade de Beira. Eles se dividem em sete gigantescas tendas que foram montadas em um ginásio. São verdadeiros hospitais de campanha improvisados, e apesar da infraestrutura precária, ela é muito superior a outras feitas na mesma situação de crise, e são de extrema importância, sem ela consultas e cirurgias seriam impossíveis. Além dos leitos para cirurgia e consultas, existem os laboratórios clínicos e microbiológicos, equipes para diagnósticos por imagem e 20 leitos para hospitalização.
Desde que se estabeleceram no país africano, os cubanos atenderam de forma gratuita sete mil pessoas, a média é de 600 pessoas por dia, sendo 54% mulheres e 16% crianças. Mais de 50 cirurgias foram feitas no local, que serve também como um ponto de vacinação e entrega de remédios gratuitos.
Além dos médicos e profissionais de saúde, Cuba enviou outros 200 profissionais das mais diversas áreas como engenheiros, bombeiros, assistentes sociais, para ajudar a população moçambicana em um de seus momentos mais difíceis dos últimos tempos.
Em tempos em que a solidariedade é matéria tão escassa e tão pouco valorizada, e em que as grandes potências e suas burguesias destilam ódio e guerra, o exemplo de solidariedade internacional entre o pequeno país latino-americano e o país africano é um exemplo para todos nós.
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