Ernesto Araújo, atual Ministro das Relações Exteriores do Brasil, integrante do núcleo ideológico do Governo e apadrinhado por Olavo de Carvalho, não deixa dúvidas sobre suas opiniões polêmicas, e de como pretende conduzir a política externa brasileira.
Em seu blog, Metapolítica 17: contra o globalismo, o Ministro deixa bem claro seu pensamento ideológico, alinhado com as principais “teorias” da nova direita mundial.
“Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão (sic). A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante. O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história”.
Mais claro impossível. Mas, por baixo da fraseologia claramente de direita, Araújo não esconde a que senhor pretende servir: o império americano e a tentativa do governo Trump de estabelecer uma “nova ordem” mundial, que recupere o papel hegemônico dos EUA.
A eleição de Trump, e o avanço da extrema direita são na verdade, a expressão de um mundo em complexas e profundas transformações, e significou um giro bastante significativo na situação mundial. Na verdade, expressam a realidade dual entre nacionalismo e globalização. O questionamento da atual ordem por setores da burguesia imperialista, entretanto, ocorre sem que outra ordem tenha sido construída.
Há um confronto aberto entre o “globalismo” e as novas tendências ao “nacional imperialismo”, que nada mais é do que uma forma distinta das burguesias imperialistas defenderem seus interesses pela via protecionista. Porém, para que a “nova ordem” possa se sobrepor a atual ordem assentada na globalização neoliberal, serão necessários enormes conflitos econômicos, políticos e, até mesmo, militares.
O Ministro Ernesto Araújo e o governo brasileiro defendem esta tentativa de estabelecer uma “nova ordem” nacional imperialista, e por isso se diz “admirador” dos Estados Unidos, de Israel, dos governos da Itália e da Polônia, e dos países latino-americanos que se “libertaram” da esquerda.
Mas, como o que prima na realidade mundial ainda são os conflitos, ou uma (des)ordem global, a política externa do Brasil sofre revezes. Avança e retrocede em meio às contradições.
Nos 100 dias do Governo Bolsonaro um total alinhamento com os EUA
Nas metas traçadas por Bolsonaro para os seus primeiros 100 dias de governo, há duas dedicadas às relações internacionais: Intensificar a inserção econômica internacional do Brasil, que está em implementação, e reduzir as tarifas do Mercosul, que não será cumprida.
As poucas metas da política externa, nestes 100 dias de governo, ainda não foram cumpridas. Mas, o Ministério do Exterior esteve bastante ativo neste período. Antes mesmo de tomar posse, Araújo já tinha começado a imprimir sua marca no Governo, e seu inequívoco alinhamento aos EUA.
Vejamos a cronologia de atuação do Ministro Ernesto Araújo.
- A pedido de Bolsonaro, o Ministério do Exterior “desconvida” os representantes da Venezuela, Nicarágua e Cuba à posse do Presidente, porque estes Países são governados por “esquerdistas” e “socialistas”, que não respeitam a “democracia e a liberdade”.
- O Brasil saiu do Pacto Global sobre Migração da ONU, um acordo internacional assinado por 160 países, aprovado em dezembro de 2018, que pretende regular o fluxo migratório mundial, num momento em que há 250 milhões de migrantes vagando pelo planeta. EUA, Hungria, Israel, República Tcheca e Polônia votaram contra o pacto e não o reconhecem.
- O Presidente do Instituto de Pesquisas e Relações Internacionais, Paulo Roberto de Almeida, foi exonerado por fazer críticas às posições de Olavo de Carvalho, um dos gurus ideológicos da família Bolsonaro.
- Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro se declarou um inimigo do governo da Venezuela, em total alinhamento a política de Trump para o governo Maduro. Ameaçou invadir o País vizinho, e depois recuou quando não encontrou apoio nas Forças Armadas. Reconheceu prontamente Juan Guaidó, o autoproclamado presidente da Venezuela, como governante e o recebeu em Brasília. Por tantos serviços prestados, os EUA reconhecem e agradecem ao Brasil pelo “compromisso com a democracia na Venezuela”. Como as tentativas de derrubar Maduro até agora não deram certo, os EUA e o Brasil diminuíram a sua ofensiva à Venezuela, e o governo americano se voltou a atacar o Irã.
- Na viagem aos EUA, Bolsonaro assinou um acordo que permitirá aos Estados Unidos usarem a base militar de Alcântara, no Maranhão. Anuncia também o fim do visto para que americanos entrem no Brasil, e em troca do apoio de Trump para o Brasil entrar na OCDE, Bolsonaro abre mão de direitos especiais na Organização Mundial do Comércio. Mais subserviência impossível!
- Na recente viagem a Israel, Bolsonaro anuncia que será aberto um escritório de negócios em Jerusalém, depois de desistir da transferência da Embaixada do Brasil para a cidade, como fez o Governo americano. Este recuo se dá pela pressão dos empresários brasileiros, principalmente do agronegócio, que teriam muito a perder, se seus contratos de exportações com os países árabes fossem interrompidos.
- O Governo anunciou que sairia do Acordo de Paris sobre o clima, como fez Trump, mas depois desistiu desta ideia. Essa mudança de posicionamento obedece a interesses econômicos, e não por acaso foi acertada durante o Fórum Social de Davos. O controle da emissão de CO2 se tornou um bom negócio para o “capitalismo verde” que se aproveita da crise climática para conquistar esse novo mercado. Os países imperialistas, com maior desenvolvimento industrial, e que, portanto, emitem mais CO2 na atmosfera, compram bônus de carbono dos países menos desenvolvidos, podendo assim manter o mesmo ritmo de produção. Mas, o grande negócio é o desenvolvimento de uma nova matriz energética mundial, com o aumento em 18% da produção de biocombustíveis, como determina o Acordo de Paris. Em torno da defesa do meio ambiente, está surgindo um setor burguês, que não pode ver seus lucros e/ou negócios ameaçados caso o Brasil saísse do Acordo.
- No comércio exterior, Araújo se diz “perto de Trump e longe da China”. Justifica a sua posição dizendo que a teoria sobre a mudança climática é um dogma científico, criado pela cultura marxista que quer atrapalhar o ocidente, e favorecer a China! Para o Ministro, a China é um país inimigo do Ocidente, já que o “globalismo” quer transferir o poder econômico para o país asiático, o que Trump quer impedir. Muita baboseira para mais uma vez justificar o alinhamento do Brasil aos EUA, e a luta do governo Trump para restabelecer a hegemonia americana numa nova ordem mundial.
Toda a fraseologia ideológica de direita do Ministro Ernesto Araújo deixa muito clara o seu alinhamento com os interesses da política externa americana. E nisto é aplaudido por um setor da burguesia brasileira. Entretanto é preciso anotar que outro setor resiste a esse novo alinhamento, pois mantêm importantes acordos econômicos com a China construídos no período anterior. Em recente entrevista à revista Exame, Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, expressa essa contradição ao declarar que a política externa brasileira está “caminhando de forma consistente”, e que é fundamental que o País mantenha boas relações com os EUA e Israel, mas também … com a China, independente das diferenças ideológicas que o Ministério do Exterior e Ernesto Araújo tenham com os governos de vários países. Afinal, ideologias a parte, o que importa é o lucro. E nisto a burguesia brasileira, como toda burguesia, é bastante pragmática.
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