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EDITORIAL

22M: A classe trabalhadora entra em campo contra a reforma da Previdência

Editorial de 24 de março de 2019

Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza (CE)

22 de Março de 2019. A grande imprensa noticiava episódios de uma crise política entre a Câmara dos Deputados, representada por seu presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governo Bolsonaro, criando dificuldades para a aprovação da reforma, tudo isso apenas um dia após a prisão do ex-presidente Michel Temer que, bem que tentou, mas não conseguiu aprovar a reforma da Previdência. O mercado financeiro vivia um dia turbulento, com a maior alta diária do dólar desde maio de 2017 e a bolsa de valores despencando.

Enquanto isso, a classe trabalhadora colocava seu time em campo, em uma grande demonstração de força e unidade. Centenas de cidades por todo o país foram o palco de mobilizações das trabalhadoras e trabalhadores contra a reforma da Previdência no dia de luta convocado pelas centrais sindicais, sindicatos e movimentos sociais. Diversas categorias participaram, com atividades nos locais de trabalho e atos unificados. Foi um importante dia de mobilização. Um primeiro passo, que mobilizou a classe e aumentou sua confiança na luta.

 

Um balanço do dia 22

Muitas atividades aconteceram em todo o país durante o dia de mobilização. Destacamos algumas delas a seguir. Em São Paulo, na capital, ainda na madrugada, houve atraso na saída dos ônibus. Quando começava a amanhecer, metalúrgicos e metalúrgicas da Ford e da Mercedes-Benz realizaram assembleias, aprovando a participação em uma greve geral que pode ser convocada pelas centrais sindicais para impedir a aprovação da reforma, e seguiram em passeata pelas ruas de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Ainda em São Paulo, nas cidades de São José dos Campos, Jacareí e Caçapava, trabalhadores de diversas fábricas, como a General Motors, Heatcraft, Prolind, Panasonic, Eatonf, Latecoere, Armco, MWL, Basf e Heineken fizeram assembleias, com atraso na entrada do primeiro turno em algumas delas. Na capital, metalúrgicos de diversas fábricas se mobilizaram, como na empresa Fame, na zona leste. O Sindicato dos Vidreiros organizou assembleias na Wheaton do Brasil, em São Bernardo do Campo, e na Cebrace, em Caçapava, com atraso na entrada, e realizou panfletagens na região de Ferraz de Vasconcelos. Os metroviários manifestaram-se trabalhando com coletes vermelhos com dizeres contra a reforma.

Em Curitiba, o sindicato dos metalúrgicos organizou manifestações nas portas de diversas fábricas e trabalhadores de diversas categorias realizaram panfletagem na Boca Maldita, pela manhã. Em Fortaleza, trabalhadores da construção civil atrasaram a entrada no trabalho por duas horas e participaram do ato unificado, junto com trabalhadores das demais categorias. Em Goiânia, os urbanitários uniram o ato nacional contra a reforma da Previdência ao dia mundial da água e se manifestaram por um saneamento público, gratuito e de qualidade em repúdio às tentativas dos governos de privatizarem a água e a energia.

Trabalhadores de diversas categorias participaram das mobilizações, mas, entre todas elas, destacaram-se as trabalhadoras e trabalhadores da educação, que paralisaram suas atividades durante todo o dia ou parte do dia em diversos estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Belém, Ceará, Bahia e cidades como Recife e Olinda. Em São Paulo, os professores fizeram assembleia com mais de 20 mil pessoas e depois engrossaram o ato unificado na Avenida Paulista.

Trabalhadores e trabalhadoras das universidades também tiveram participação destacada. No Rio de Janeiro, os sindicatos de professores e técnicos da UFF (ADUFF e SINTUFF) organizaram paralisações. No Pará, professores e técnicos da UFPA e UEPA também paralisaram suas atividades, assim como os trabalhadores do IFPE, em Recife. No Piauí, os professores da UESPI, que estão em greve, organizaram atividades de mobilização em praticamente todos os campi da universidade. Na Bahia, a UFBA, além das quatro universidades do estado suspenderam as aulas.

Petroleiros na Refinaria de Capuava (RECAP), em SP

Os petroleiros também fizeram mobilizações, e se somaram aos atos unitários nas capitais e grandes cidades, como Campinas e Campos dos Goytacazes. No estado de São Paulo, houve atraso na entrada nos locais de trabalho, como na refinaria da Petrobras em Cubatão e no terminal da Transpetro em Santos, onde os petroleiros, inclusive os terceirizados, contaram com o apoio de trabalhadores da construção civil, metalúrgicos, do judiciário e servidores municipais da cidade. Também em São José dos Campos e na RECAP, em Mauá, houve mobilização com atraso na entrada.

Em diversas cidades, importantes atos unificados ocorreram nas principais praças e avenidas. Na Avenida Paulista, o ato reuniu cerca de 40 mil pessoas. Rio de Janeiro, Natal, Recife e Fortaleza reuniram, cada uma, cerca de 10 mil pessoas. Em Porto Alegre e Salvador, foram cerca de 5 mil. Em Curitiba, Aracaju e Campina Grande (PB) foram 2 mil e, em Macapá e João Pessoa, foram cerca de mil trabalhadores. Nos atos, chamava atenção a participação de trabalhadores de diversas categorias e a unidade entre as centrais sindicais. Partidos políticos como PSOL, PT, PCB, PCdoB e PSTU também estiveram presentes. Muitas dessas manifestações percorreram as principais ruas das cidades e contaram com o apoio e a simpatia da população.

 

Próximos passos

A luta contra a reforma da Previdência unifica centrais sindicais, sindicatos, movimentos sociais e as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. Grande parte da classe trabalhadora percebe que, ao contrário de combater privilégios, a reforma serve é para fazer com que nós paguemos a conta enquanto banqueiros e empresários continuam enchendo os bolsos de dinheiro. Os trabalhadores não querem essa reforma, e isso precisa ser considerado pelos deputados e senadores, num momento em que o governo começa a oferecer emendas parlamentares para “convencê-los” a votarem a favor deste ataque.

A crise política que assistimos no País atrapalha a tramitação da reforma. Mas, para derrotá-la, será necessário que a classe trabalhadora se mobilize com todas as suas forças, parando o país em uma greve geral. O dia 22 foi um passo importante para construir esta mobilização, mas ainda insuficiente. Agora, precisamos dar os próximos passos. Está marcada para o dia 29 uma reunião da CNTE, a confederação dos trabalhadores da educação, que deve discutir novas datas de paralisações e mobilizações. As centrais sindicais presentes no ato da Avenida Paulista anunciaram um grande e inédito ato de 1º de Maio unificado na capital. Fóruns contra a reforma da Previdência já foram ou estão sendo formados em diversas cidades, como Rio de Janeiro, Santos e Brasília. As centrais sindicais precisam se reunir o quanto antes para definirem a continuidade do calendário de mobilização.

Agora, é tarefa das centrais e sindicatos aprofundar o trabalho de base, criando condições para que cada trabalhador e trabalhadora que participou das mobilizações do dia 22 se organize para conversar com seus colegas de trabalho, de estudo, do bairro, explicando que esta reforma significa o fim da Previdência pública e que precisamos todos nos colocar em movimento. É hora de reunir os fóruns, comitês estaduais, fazer debates com os trabalhadores e construir novos dias de mobilização, rumo à greve geral.

Marcado como:
22M