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EDITORIAL

Marielle Franco, Presente! Uma flor que nasce no asfalto

Por Gabriel Santos, de Maceió, AL
Florescer por Marielle

“Toda vez que um justo grita
Um carrasco manda matar
Que não presta fica vivo
Quem é bom mandam matar”
Cecilia Meireles

O escritor uruguaio Eduardo Galeano, em um poema sobre a revolucionária polonesa Rosa Luxemburgo, fala de forma doce e delicada, sobre seu assassinato e sobre como que diariamente, centenas de pessoas, e porque não milhares de pessoas, ao longo dos anos, ao redor do mundo, recolhem da lama a bandeira de justiça e igualdade que Rosa deixou.

Galeano escreveu:

“O sapato. Em 1919, a revolucionária Rosa Luxemburgo foi assassinada em Berlim.
Ela foi arrebentada a coronhadas de fuzil pelos assassinos, e depois jogada nas águas de um canal. No caminho, perdeu um sapato. Alguém recolheu esse sapato, jogado na lama. Rosa queria um mundo onde a justiça não fosse sacrificada em nome da liberdade, nem a liberdade sacrificada em nome da justiça. Todos os dias, alguém recolhe essa bandeira. Jogada no barro como o sapato.”

Um ano depois do assassinato de Marielle Franco, podemos dizer que diariamente, centenas, e porque não milhares de pessoas levantam as bandeiras deixadas por Marielle.

O tempo é cruel, sempre. Fez um ano. Ninguém esqueceu. Os seus assassinos, tanto aqueles que puxaram o gatilho, como aqueles que mandaram matar, acharam que o ocorrido naquele triste 14 de março iria passar despercebido, no máximo iriamos lembrar por uma semana, ou um mês. Nós não esquecemos.

Quando foi assassinada Marielle era uma importante vereadora carioca e uma das maiores promessas de quadros do PSOL. Hoje, Marielle Franco se tornou um símbolo. É impressionante a força que a imagem e que seu nome tomaram. Seu rosto e seu nome, estampam bandeiras, faixas, cartazes, camisas, ruas, muros e são lembrados no mundo todo. Em toda luta. No Brasil, na França, no México, na Rússia. Todos conhecem Marielle. Seu legado se tornou eterno. Nos gritos das mulheres sem-teto, das camponesas, dos movimentos de juventude e de todos que lutam por justiça e igualdade.

Dos mais diversos grupos e ideologias políticas. Dos mais diversos setores sociais e culturais. Dos mais diversos movimentos políticos. Das feministas, dos defensores dos direitos humanos, da luta contra o genocídio da juventude negra, da causa LGBT, dos democratas, da esquerda radical. Marielle se tornou um símbolo para todos estes.

A socialista, a feminista, a antirracista, a defensora dos direitos humanos, da causa lgbt, a favelada, a negra, a bissexual, a mãe, a filha, a irmão. Em todos os aspectos, Marielle Franco será lembrada e estará presente. Em seu nome, em sua luta e sua vida, se misturam todos os aspectos e diversidades de resistências do povo brasileiro.

Um ano atrás o Brasil chorou. Formos às ruas. Todos nós desabamos. Estávamos desolados, Não tínhamos nada além de uns aos outros. Muitos não conseguiram dormir, um grito de desespero e medo ecoava em nossos ouvidos como num filme de terror. Mas aquele momento mostrou que nós tínhamos uns aos outros. Os abraços e colos amigos, dos companheiros e dos camaradas era o que restava. Ninguém podia soltar a mão de ninguém.

Um ano depois daquele triste, dolorido e inesquecível, 14 de março de 2018, os assassinos de Marielle e Anderson permanecem impunes. Um ano depois se confirma o que se esperava, a ligação de milicianos com o assassinato. Apenas três meses depois que assume um governo que sela uma aliança trágica e assassina, entre setores do Exercito e as milícias.

A um ano atrás, Naquele dia 14 de Março o grito era de dor, neste 14 de Março o grito é por Justiça. A luta e o legado de Marielle, sua vida e sua obra, gerou fruto, virou sementes. Em cada ocupação de terra, cada ocupação por moradia, cada luta feminista, antirracista, cada luta democrática. Marielle se multiplicou. Os seus inimigos não a derrotaram. Marielle se tornou eterna.

Quando gritamos “Marielle Vive”, quando exigimos “Justiça para Marielle”, não falamos sobre somente sua morte. Não falamos somente sobre o passado. Não é uma mera palavra de ordem. “Marielle Vive” é o grito entalado na garganta por 500 anos, que engloba todas as lutas e particularidades do povo brasileiro. Não é só recordar de Marielle, é manter vivo seu legado, e multiplica-lo, é uma denúncia contra a extrema-direita, contra o governo que unifica os setores do Exército com a milícia, é um grito contra as elites que mataram, seguem matando e acreditam que poderão matar e dominar nosso povo.

Marielle Vive é a prova, que nós manteremos a chama acessa. Que nós não aceitaremos mais. Que nós não esqueceremos. Marielle se transformou, se multiplicou, surgiram novas, centenas e milhares. Em cada favela, cada bairro, cada local de estudo, surge uma nova Marielle.

No fim, talvez não hoje, nesse 14 de Março, mas num 14 de Março em futuro não muito longe. Marielle vai vencer o capitão, a milícia, os banqueiros e todos aqueles que derramaram sangue de nosso povo.

Até lá, diariamente, o legado de Marielle será lembrado. Como uma flor que cresce no asfalto. Apesar de nossos inimigos tentarem impedir que ela floresça, ela surgiu, cresceu e agora perfuma o seu arredor.

Nós seguimos na luta e vamos vencer, por Marielle.

Foto Plataforma Florescer por Marielle