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MOVIMENTO

Após ameaça de greve, Ford Camaçari revê decisão sobre 700 demissões

Por Pedro Porfirio, de Camaçari, BA

Além das demissões, empresa havia anunciado diversos cortes em salários e direitos

Na manhã desta quinta-feira, 14 de março, o Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari e Região (BA) realizou uma assembleia no Complexo Ford para anunciar que a empresa aceitou a proposta do sindicato e não vai mais demitir os 700 funcionários, como havia anunciado em 27 de fevereiro. A patronal aceitou na íntegra a contraproposta dos trabalhadores, que garante a estabilidade de emprego por 12 meses e a manutenção de vários direitos e benefícios.

Logo após outras montadoras, como a GM de São José dos Campos e a Ford de Taubaté e de São Bernardo, terem anunciado diversos ataques ao emprego, aos salários e direitos de seus funcionários, a Ford de Camaçari no dia 27 também divulgou seu “Pacotes de Maldades”. O sindicato logo realizou uma assembléia nos três turnos para comunicar aos trabalhadores sobre as intenções da Ford e que o sindicato não aceitaria esses ataques.

Aquela assembléia contou com a presença do presidente estadual da CTB, Pascoal Carneiro, a Deputada Federal Alice Portugal, o vereador de Camaçari Binho e outros dirigentes do sindicato e o clima não estava nada bom, com os trabalhadores com medo das demissões anunciadas na véspera do carnaval. Um ataque dessa magnitude está apoiado por uma lei trabalhista cada vez mais injusta e um governo que só está interessado em beneficiar os grandes empresários e que não se importa com os trabalhadores.  O próprio presidente Jair Bolsonaro abriu brecha para esses ataques ao afirmar em sua campanha eleitoral que os trabalhadores do país teriam que decidir entre empregos ou direitos trabalhistas.

A assembléia do dia 28 aprovou então uma contraproposta elaborada pelo sindicato que, apesar de abrir mão de alguns itens,  garantia a estabilidade de emprego na planta por 12 meses e a manutenção dos salários, direitos trabalhistas e jornada de trabalho e inalterados, além de prever aumento da PL e reajuste pelo INPC de salários e tíquete. Além da contraproposta, os trabalhadores também aprovaram estado de greve a partir daquela data.

Na assembléia seguinte, no dia 11 de março, Julio Bonfim, presidente do sindicato, anunciou que a Ford estava irredutível nas negociações e não havia aceitado nenhum ponto da proposta do sindicato. Diante disso, os trabalhadores do complexo aprovaram que o sindicato entrasse com o pedido judicial de greve por tempo indeterminado, prevista para iniciar na semana seguinte, conforme prazo exigido por lei. Uma nova assembléia foi marcada para esta quinta-feira 14.

Durante a semana, em que a produção de veículos chega a quase mil carros/dia, caiu para 200 carros/dia. Por onde passávamos víamos a união dos trabalhadores, em sua maioria vestidos com a camisa amarela do sindicato em sinal de mobilização, substituindo o tradicional tom de azul dos uniformes. Era muito visível a disposição dos trabalhadores em resistir aos ataques anunciados. Diante dessa situação a diretoria da Ford chamou o sindicato para negociar e nesta quarta-feira 13 aceitou todos os pontos da contraproposta dos trabalhadores.

Durante a assembleia do dia 14, com o anúncio do recuo da Ford, o clima foi de comemoração, alívio e de certeza de que a união dos trabalhadores pode derrotar os ataques impostos pelos grandes empresários e por esse governo. Assim como a derrota em São José dos Campos abriu um precedente para outras grandes indústrias desferirem seus ataques aos trabalhadores, essa vitória em Camaçari também abre um precedente de que a união dos trabalhadores na luta também pode garantir os nossos direitos.

 

Proposta inicial da Ford:

– Demissão de 700 trabalhadores sem PDV;
– Tirar os lanches das máquinas e o desjejum no refeitório;
– Reduzir a PLR da Ford pra R$ 11.100,00;
– Primeira parcela do décimo a pagar em out/19;
– Plano de saúde:  Aumentar de 5% para 10% e ajuste de contribuição fixa por vida;
– Aumento de 1% para  6% da taxa para refeitório e transporte.
– Tira PLR dos Jovens Aprendizes;
– Nova tabela salarial: Piso de R$1.000,00 e teto de R$1.900,00;
– Jornada de 44 horas semanais de segunda a sábado;
– ADM não receberá mais uniforme;
– Salários e steps congelados em 2019;
– Tirar o ticket alimentação;
– PLR, database e benefícios, conforme mercado de autopeças para as parceiras;
– Pagamento do adicional noturno baseado na legislação vigente (20%);
– Prática de banco de horas para o administrativo e operacional;
– Sem panetone e sem cesta de natal;
– Possibilidade na mudança na oferta de transporte
– Prêmio de férias reduzir de 60% para 1/3.

 

Contraproposta aprovada pelos trabalhadores e aceita pela empresa:

– Estabilidade coletiva de emprego durante um ano referente a demissões em massa. A empresa não pode demitir em massa por 12 meses.
– Salário até R$7.515,00 reajustado em 100% do INPC, Salários acima de R$7.515,00 reajustado em 50% do INPC .
– PLR de R$ 19.640,00 com primeira parcela em maio;
– Sem abono;
– 13° Salário pagamento em outubro
– Sem PLR para Jovem aprendiz
– Tabela Salarial permanece nas mesmas condições;
– Manter jornada de trabalho de 40 horas semanais de segunda a sexta;
– Não tirar o ticket e reajustar nas mesmas condições do salário;
– Adicional noturno nas mesmas condições da época do Lay-off: 37,14% hora reduzida.
– Banco de horas para administrativos PD
– Sem uniforme para o adm.
– Steps nas mesma condições atuais;
– Sem panetone;
– Manter cartão de natal
– Aumento do transporte e alimentação de 1% para 1,5% total;
– Plano de saúde permanece o mesmo
– Oferta de transporte permanece a mesma;
– Desjejum e lanche permanecem os mesmos;
– Empresas parceiras seguem nas mesmas condições atuais;
– Prêmio de férias nas mesmas condições atuais;

 

Marcado como:
ford / metalúrgicos