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Crime da Vale em Brumadinho atingiu comunidades quilombolas

Por: Bruna Piazzi e Pedro Muniz, direto de Brumadinho, MG

Duas comunidades quilombolas que ficam no entorno da Mina Córrego do Feijão – Marinhos e Sapé – foram atingidas pelo crime ambiental e humano que a Vale cometeu no dia 25 de janeiro em Brumadinho (MG). O Esquerda Online visitou a região na semana seguinte e encontrou as comunidades ilhadas e sofrendo com o descaso da mineradora e das autoridades. Até a primeira semana de fevereiro, tanto a Vale quanto a Prefeitura não haviam realizado nenhum tipo de visita ou ajuda a estas comunidades, que permaneciam sem acesso a informações e ajuda, como água e alimentos.

População “ilhada”

Desde o dia do rompimento da barragem, a estrada que liga o centro de Brumadinho com a zona rural ficou totalmente interditada e o único meio de chegar ao centro da cidade é através de uma “pinguela” sem nenhuma segurança.

Com a interdição, o tempo de viagem até o centro de Brumadinho é de quase três horas. A Prefeitura anunciou que vai construir uma ponte para que a estrada Alberto Flores possa ser novamente utilizada – a obra deve durar cerca de 15 dias. Enquanto isso, os moradores pedem o aumento de número de horários de ônibus que servem a região para poder ir ao trabalho e ter acesso a serviços, como os de saúde.

A relação harmônica entre meio ambiente e as comunidades quilombolas foi posta em xeque após o crime de Brumadinho, com consequências ainda não dimensionadas, que  ameaçam a sobrevivência e a saúde. Uma preocupação é o impacto que a lama tóxica poderá causar nas plantações – teme-se que a contaminação do lençol freático impeça a principal atividade dos quilombos – a produção rural orgânica – e contamine os poços artesianos, de onde se retira a água potável.

Milho orgânico produzido no quilombo do Sapé. Foto Pedro Muniz

Além do isolamento e do impacto ambiental, a comunidade Marinhos sofreu com a perda de dois quilombolas, que estão entre os desaparecidos: Geraldo Medeiros e Júnior Braga.

“Mesmo não vivendo na cidade, é uma situação muito difícil para nós. Parece que caiu um pedaço do mundo na cabeça da gente (…). todos somos uma família, aqui todos os moradores formam uma família só, dói para todo mundo, é sofrido para todo mundo”, conta Leide, da comunidade quilombola dos Marinhos.

História e resistências

A resistência dos quilombolas contra a produção mineral predatória não começou com Brumadinho. Antônio, presidente da associação Água Cristalina, que reúne oito comunidades quilombolas da região, lembra o episódio no qual barraram a instalação de outra mineradora na região: “Se nós não uníssemos as comunidades talvez hoje não existiriam os quilombos. Mas nós fomos à luta e conseguimos barrar a entrada deles na comunidade!”.

O histórico de luta e resistência dos quilombos remonta ao período colonial, no qual a escravidão era a base para a produção dos fazendeiros e mineradores da região. Os quilombos foram importantes formas de luta contra a escravidão.

Leide e Antônio, do Quilombo dos Marinhos

Leide, que teve a avó escravizada, conta como era no passado:

“A gente sabe que viemos de um quilombo muito forte, o Chacrinha dos Pretos, chegando a viver mil escravos por lá. Vários antepassados morreram e foram enterrados por lá”.

O Chacrinha dos Pretos fica no município de Belo Vale, às margens do Rio Paraopeba, e as famílias quilombolas de lá denunciam os efeitos da lama sobre o rio e a mortandade de peixes.

Matuzinha e Sirineu do quilombo do Sapê - Foto Pedro Muniz

Matuzinha e Sirineu, do quilombo do Sapé. Foto Pedro Muniz

O aposentado Sirineu, que trabalhou por 21 anos e nove meses na Vale, ensina a origem do local onde vive: “para fugir dos fazendeiros eles procuraram o Quilombo e então começaram a construir a comunidade do Sapé”.

Matuzinha, também do quilombo do Sapé, nos descreve a forma como é resgatada a memória: “A história quando ela não é escrita, ela é narrada de uma forma, muitas vezes a gente narra aquilo que a gente sabe, com aquilo que a gente imagina.” E completa:

“O nome Quilombo é a toa? Não. É porque tem história”.

* A Vale e a Prefeitura de Brumadinho não responderam aos questionamentos enviados por e-mail pela equipe do Esquerda Online. 

 

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