Passados os rituais tenebrosos do início do governo e seus primeiros atos, está em marcha, a todo vapor, a corrida para a eleição da presidência da Câmara dos Deputados, posição estratégica para a aprovação, ou não, dos projetos do governo.
Depois de algumas rusgas entre PSL de Bolsonaro e Rodrigo Maia (DEM), o partido do presidente decidiu por apoiar a candidatura de Maia.
Em reação ao acordão construído, o PSOL disponibilizou a candidatura de Marcelo Freixo (RJ) a presidente da Câmara.
O que, de fato, está em jogo?
Só há dois caminhos agora que Maia fechou com Bolsonaro: perder para o campo governista (hoje se apresentará assim, mesmo que não seja em todo) ou dar ao campo governista um ar de consensual, uma vitória retumbante, apoiando o Maia, como pensam fazer o PCdoB e o PDT, de Ciro Gomes.
Com o apoio do PSL, a sinalização favorável de João Dória (PSDB), dentre outros do mesmo partido, além dos apoios já conquistados do PSD e PRB, Rodrigo Maia é favoritíssimo à Presidência da Câmara, novamente.
Diante das peças que estão no jogo hoje, a presidência da casa não está em disputa. A nova configuração do Congresso Nacional é majoritariamente reacionária diante dos direitos do povo, em que pese o tamanho da oposição e que haja diferenças com a totalidade do programa de Bolsonaro.
A única, e nesse momento mais importante disputa, se dá em construir a correlação de forças entre oposição e governo, para a aprovação, ou não, das reformas da chamada “agenda Paulo Guedes”.
Maia irá aplicar a agenda Paulo Guedes, isso já está certo. O que ele pode não colocar na pauta são os temas neoconservadores. Mas a caça ao socialismo e às liberdades democráticas virão da agenda Moro. Maia irá se enfrentar com Sergio Moro? Acho impossível.
Qual deve ser o objetivo das oposições?
Há um problema estrutural para enfrentarmos esse novo governo: não há uma oposição unificada. Hoje, temos várias oposições, seja pelo número de partidos, de frentes ou até de correntes e visões diferentes dentro dos próprios partidos.
Não vamos disputar nada e ninguém sem um programa. Ficar falando “não à reforma da previdência, não às privatizações, não…” não é é apresentar um programa. Precisamos de um norte de disputa totalizante.
O lado de lá já elegeu seus pilares: segurança, ideologia de gênero, socialismo e reformas ultraliberais. Quais os nossos?
Diante disso, o objetivo dos partidos de oposição deveria ser a construção de uma oposição unificada. Esse seria o lançamento de um programa comum para o Congresso frente ao novo governo, por conseguinte, para o próprio país.
Dividir a oposição, logo agora, é atrasar qualquer possibilidade de início real de uma resistência, ou alguém acha que estamos resistindo, de fato, a algo?
Além disso, insistir em acordos para viabilizar uma suposta influência sobre a Mesa Diretora é sobrevalorizar os resquícios de normalidade que ainda transitam na nossa atmosfera política. Nada está normal. Um novo regime político está sendo acomodado sobre os escombros da derrota. O tabuleiro já não é o mesmo, como jogar com as mesmas peças? Vale a pena arriscar nisso e perder a possibilidade de unificar a resistência?
Com Maia favorito, candidatura de Freixo é para marcar posição?
Marcar posição tem seu valor. Vejo geralmente dois. Um é de se colocar em evidência para disputar semelhantes. Esse está no plano mais ideal, raros são os momentos em que o nível de consciência é tão expressivo na sociedade que baste a busca pela semelhança. Não estamos nesse caso!
A segunda é o de plantar sementes, se colocar em posição para a rodada seguinte, e ela virá, antes do que pensamos.
Viemos de experiências e modos de fazer política fracassados na esquerda. O novo governo é uma ação de guerra, uma movimentação ofensiva de ataque.
Isso compõe um cenário difícil para a tática de marcar posição para o futuro, sementes só brotam se regadas, com sol. Mas o que temos no presente? Não estamos sentados numa mesa de negociações, não temos nada para oferecer a não ser nossas cabeças.
Temos dois cenários: uma candidatura própria e única da oposição que sirva para unificar a resistência e construir um programa unitário em defesa dos direitos do povo e das liberdades democráticas; ou atrasar e colocar em crise a resistência, quem sabe até a nova eleição da casa, daqui a dois anos.
Em que pesem as dificuldades e limitações, a luta por uma candidatura própria da oposição é único e o mais correto caminho. Não apoiar Maia! Não repetir as eleições e lançar vários candidatos, um de cada partido, mas, sim, compor uma candidatura pelo povo brasileiro para a presidência da Câmara.
Por que Marcelo Freixo?
Um nome do PT não tem condições de unificar a oposição. Um nome do PDT de Ciro Gomes também não tem essa capacidade, dois campos rompidos.
A outra opção que não o PSOL seria um nome do PCdoB. Pessoalmente, sendo essa a possibilidade de uma candidatura única, eu defenderia a retirada do nome do Freixo. O PSOL disponibilizou esse nome para abrir o debate de candidatura única e própria da oposição, não para fechá-lo.
Foto: EBC
*Esse texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a opinião editorial do Esquerda Online
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