Trabalhar até morrer ou morrer de tanto trabalhar? Resistir!

Por: Lorenzo Balen*, de Francisco Beltrão, PR

Temos lidado com novos desafios, principalmente após o golpe, de 2016, grotescamente camuflado de impeachment. A derrubada de Dilma Rousseff não foi um ataque ao PT, mas ao conjunto daqueles que batalham pra viver. Daquele grande “acordo nacional”, a equipe de Michel Temer (MDB) conduziu o governo para impor medidas de superexploração ao povo e garantir a lucratividade dos mais ricos e os interesses do mercado financeiro, grande parasita do orçamento público.

Tudo isso contou com a cumplicidade da cúpula do Exército, as apostas dos grandes empresários, as manobras jurídicas e parlamentares, além do amplo apoio da mídia.  Desde então, acelerou-se e aprofundou-se a retirada de direitos e a piora das nossas condições de vida.

Agora, o ainda nem empossado Jair Bolsonaro (PSL) quer continuar os ataques anti-povo de Temer, inclusive mantendo velhos conhecidos dos escândalos de corrupção no alto escalão do governo. Sua principal contribuição, no entanto, será enfrentar e eliminar todo tipo de resistência popular. Promoverá uma perversa perseguição ideológica, a criminalização dos movimentos sociais e o progressivo e anunciado uso da violência contra opositores.

Mas antes mesmo do presidente autoritário apresentar sua proposta de reforma da previdência, por exemplo, as medidas de Temer que ele apoiou já colocam boa parte da população em risco. Conforme indicado aqui, o trabalho informal superou o formal; os trabalhadores mais velhos perderam o emprego; os jovens têm encontrado condições de trabalho precárias – quando há trabalho; os patrões têm negado direitos; e as ações trabalhistas têm sido coibidas. Ainda sentimos o poder de compra diminuir e o endividamento aumentar.

Tudo isso coloca a classe trabalhadora contra a parede. Sem garantias mínimas, consegue-se, então, imaginar o quão pior ficará caso tentem estraçalhar ainda mais a CLT ou mexer nas aposentadorias? Os mais atingidos serão as mulheres, a população negra, a comunidade LGBT, a juventude periférica, os indígenas e os imigrantes, que já sofrem níveis maiores de exploração e discriminação.

Quem vai conseguir viver para se aposentar? Quantos vão se aposentar trabalhando na informalidade? Vamos ter que trabalhar sem direitos? Trabalhar até morrer? Temos que nos render ao trabalho degradante? Morreremos de tanto trabalhar? Resistir é preciso.

Criamos novas experiências com as greves da educação desde 2012, a greve dos garis do RJ em 2014, as ocupações das assembleias legislativas em 2015, as ocupações de escolas e universidades em 2016, a greve geral do 28 de abril de 2017, as manifestações de justiça por Marielle e o “ele não!” do último 29 de setembro. Temos que extrair lições das lutas que realizamos nos últimos anos, dos erros e acertos. As mais contundentes foram aquelas que alcançaram maior unidade na luta.

Infelizmente, parte da esquerda vacilou em vários momentos. Até quando insistir no erro de reatar alianças com a burguesia? Aprendemos a não subestimar os fascistas? Continuar apostando no judiciário e demais instituições em vez de apostar na unidade de ação e mobilização das massas? Confiar na negociação com governos golpistas ou na resistência das ruas? Fortalecer a auto-organização popular ou obedecer a lógica dos inimigos do povo? Basta de ilusão! Não esperamos nada de quem nos pisa!

Precisamos de toda a força dos sindicatos de trabalhadores do campo e da cidade, do setor privado e do serviço público. É hora de todos os partidos de esquerda e democráticos, das igrejas e outras denominações espirituais, dos estudantes e do conjunto dos movimentos sociais, da intelectualidade e dos artistas formarem uma grande frente única nacional de resistência.

Chega de sufoco! Vamos transformar nossos gritos dispersos em ação organizada, nosso medo individual em coragem coletiva. Devemos preparar, desde já, uma grande mobilização nacional em defesa dos direitos e das liberdades democráticas.

Se os tempos mudaram, as atitudes não podem mais ser as mesmas.

LORENZO BALEN é professor de sociologia no Paraná, representante de base na APP-Sindicato pela oposição, dirigente estadual do PSOL, militante da Resistência/PSOL e foi candidato a deputado federal nessas eleições.

Foto: EBC