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BRASIL

Enfrentar o medo, construir a esperança e a resistência. Vamos vencer o ódio!

Por: Gabriel Santos, de Maceió, AL

O medo é um sentimento humano. Todos sentimos medo. Ele serve como um sinal de alerta, um aviso. Porém, existem várias etapas do medo. Desde a apreensão com um fato, chegando até a histéria e desespero. Desespero esse que pode ser coletivo. Apesar do medo ser um sentimento humano, ele é um péssimo conselheiro. Diante do medo nós não costumamos pensar direito e agimos de forma imediata. Na política, agir e elaborar a partir do medo gera a erros. Por isso é preciso enfrentar esse sentimento, manter a calma, e seguir em frente, por mais difícil que agora possa parecer.

Diante da atual situação política que o Brasil passa, o medo se tornou um sentimento constante. É possível ver amigos, companheiros de organização e de luta, pessoas progressistas, todas com medo do que pode vir pela frente. Pessoas estão adoecendo, a ansiedade toma conta, e com ela vem as lágrimas, o nervosismo, os ansiolíticos e os antidepressivos. Cada vez mais e mais pessoas nos locais de trabalho, nos locais de estudo, nas ruas, estão desacreditando de que outro futuro é possível. Estão entregando as armas antes da batalha final. Muitas pessoas estão deixando de sonhar, por conta do medo.

Primeiro, é preciso apontar, não existe nenhum problema em sentir o medo. E ainda bem que o sentimos, significa que não somos robôs, não perdemos a humanidade que temos. Todos temos momento de fraqueza, de dor. Seja solitária ou sozinha. As lágrimas descem e molham o rosto, isso não faz de ninguém mais fraco.

Hoje nestas eleições pela primeira vez senti medo. Antes estava preocupado, mas hoje foi diferente. Durante uma panfletagem, entre as recusas de panfleto e os gritos de “ele sim”, feitos muitas vezes por mulheres jovens e negras, o pensamento veio: “E se o fascismo ganhar estas eleições?”

Pensei em cada amigo lgbt, que teria o direito de existir, de ser, de amar, negado. Pensei nas companheiras mulheres, que são linha de frente no combate a barbárie, pensei nos jovens negros da periferia que terão a vida infinitamente piorada… Senti medo e alguns minutos depois desabei em prantos. Faz parte.

Apesar disso tudo é preciso ter força, ter coragem, e enfrentar o medo. Não é hora para desistimos, nós não podemos. Cabe a nós, delimito esse nós  as forças de esquerda da sociedade, enfrentar o fascismo.

As candidaturas da direita e do chamado centro, estão mais preocupadas em atacar o PT, e assim alimentam o monstro do fascismo. Os votos de muitos que iam para as candidaturas da direita, vão para o “Coiso”, o lado de lá também pratica o voto útil, pois enxergam que o capitão do exército tem mais chances de vitória contra o PT.

O ditado popular que diz que “de onde menos se espera, é de onde nada vem”, também serve nesse caso. A burguesia brasileira é autoritária, antidemocrática, e antipovo. É bem verdade que a maioria de suas frações ainda não declarou apoio a candidatura fascista, porém, cada vez mais fatias do empresariado declaram apoio a mesma. Muitos destes sempre procuraram um fascista para chamar de seu, e assim deixar nítido todo seu ódio as classes populares. Outros setores da elite, entendem que a candidatura do PSL é aquele que melhor pode cumprir o plano político e econômico da burguesia: destruição dos direitos dos trabelhadores.

Caso Haddad e o PT não deem um giro a direita e acenem para o mercado a partir de agora, sinalizando que ira fazer as reformas que a burguesia tanto deseja, não resta dúvida que a mesma, irá sem escrúpulos nenhum apoiar o fascismo no segundo turno. A burguesia quer o aumento da exploração dos tralhadores para aumentar sua taxa de lucro, quer um ajuste fiscal brutal sobre as custas de nossos direitos em 2019, e para isso a democracia pode ir para o lixo.

Assim cabe a esquerda a tarefa de defender o pouco que resta da democracia e dos direitos sociais, assim como conseguir derrotar eleitoralmente o fascismo.

O “Brasil acima de tudo”, que gritam os seguidores do candidato fascista, é um Brasil distante. Um Brasil branco, rico, que vive em seus condomínios fechados, que odeia o pobre e o diferente, por mais que às vezes em que brade esta triste frase, seja o oposto daquilo que ela representa. O Brasil profundo, o Brasil real é um país de diversidade, plural, e que é odiado pelo “Brasil acima de tudo”.

A candidatura fascista aposta todas suas fichas no primeiro turno, porque estas forças reacionárias sabem que no segundo tudo fica mais difícil para eles. Com mais debates, existem mais chances do capitão se expor e mostrar sua face de ataque de direitos, o “Mico” não pode e não vai se esconder pra sempre.

É preciso colocar que a derrota eleitoral do fascismo não significa sua derrota nas ruas. Bozo e seus seguidores podem sair mais fortes do que entraram, mesmo tendo menos votos. Movimentos de apoios, carretas, manifestações, tudo isto servem para fortalecer o bolsonarismo. Derrotar o fascismo nas urnas é fundamental, mas vencê-lo nas ruas é algo crucial para a manutenção dos ideias de que é preciso transformar a sociedade. E derrotar o fascismo é urgente.

O Bozo não é um fenômeno meramente eleitoral, suas ideias tem ganhando ouvintes faz anos, e de certa forma já existiam em setores da sociedade. O Golpe, que foi apoiado por gigantescas manifestações reacionárias, a candidatura impulsionada pelo ódio ao PT feita por Aécio em 2014, a Judiciário que manda e desmanda no país, a volta do Exército na vida pública por meio de declarações e ameaças, a mídia e seu papel nefasto, e sim, os erros da esquerda, em especial da principal organização do campo no País, o PT, tudo isso contribuiu para o crescimento do bolsonarismo.

Mas esse texto não é um texto sobre balanço do PT, nem uma analise da candidatura do #EleNão. É sim um texto que tem como central: derrotar o medo e a candidatura de Bolsonaro.

Derrotar Bozo é a tarefa primordial. E isso é maior do qualquer diferença que separe as forças de esquerda, é maior do qualquer crítica entre os membros de nosso campo, é mais importante do que qualquer desavença e mágoa não resolvida. Derrotar o fascismo primeiro para depois acertar as contas entre os nossos. A unidade antifascista é prioridade.

Caso ganharmos esta eleição, estaremos mais preparados para enfrentar a próxima batalha, que é garantir ao respeito ao resultado da mesma. Porém, muitas outras batalhas para enfrentar de vez o fascismo irão vir.

Por isso, agora e sempre, o medo é um péssimo conselheiro. É preciso ter coragem ao entrar no barco e ir para o oceano. O ditado popular já diz que “mar calmo não faz bom marinheiro”. Por mais que assuste, por mais que amedronte, é preciso navegar, se quisermos chegar em terra firme.

O futuro é agora, se faz a partir de agora, e não tem nada definido ainda. Podemos escrever a história, podemos lutar, podemos vencer o fascismo. Então vamos, com medo ou sem medo, enfrentar o discurso de ódio e vamos vencer. As lágrimas hoje de medo, no fim serão de alegrias.

Venceremos!

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