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BRASIL

Eleições 2018: Vai ser dada a largada na TV

por: Gibran Jordão, do Rio de Janeiro/RJ
Reprodução

Como estão posicionadas as candidaturas?
Nesse final de semana a eleição vai passar a entrar todos os dias na casa de quase a totalidade da família brasileira. Tradicionalmente no Brasil é quando começa de verdade a eleição e a disputa pelo voto, é quando as pessoas passam a prestar mais atenção, já que o candidato está falando na sala da sua casa. A temperatura dessa eleição, que já está alta, vai aumentar, a chapa vai esquentar e podemos até dizer que uma outra campanha com outro ritmo e intensidade vai acontecer.

Antes de mais nada, um alerta: A campanha tende a ficar mais violenta…
Não podemos participar ativamente dessa campanha e desconsiderar que o processo poderá se tornar mais violento. A militância precisa tomar todas as medidas de segurança, sem vacilo. Olhem para o Brasil como se estivessem em outro continente, de longe. As notícias são que um ex-presidente da esquerda moderada está preso e ao mesmo tempo lidera todas as pesquisas de intenção de votos. Há um movimento de massas com apoio de juristas importantes e artistas conhecidos dentro e fora do país que denunciam que houve um golpe, que se trata de uma prisão política sem provas e que Lula tem o direito de se candidatar. O segundo colocado nas pesquisas é um ex-capitão do exército formado na academia de agulhas negras, que também tem apoio de massas defendendo ideias ultra reacionárias e que tem como vice um general das forças armadas intervencionista que dirigia até um ano atrás o maior batalhão das forças armadas do país – O batalhão do Sul.

Quanto mais vão se aproximando as eleições, mais tensão há nas ruas. As eleições serão mais disputadas, a polarização mais geral é de Bolsonaro com Lula, mas há outros conflitos importantes que se expressam principalmente e mais violentamente entre frações da burguesia. A maioria dos partidos que hoje comandam o Congresso Nacional e que tem dezenas de parlamentares furiosamente em busca de fórum privilegiado se encontra no chamado Centrão. Que está com um candidato tucano muito pesado de fazer campanha. O Centrão foi capaz de bancar o golpe para tomar as rédeas do estado por motivos econômicos, mas também para manobrar os instrumentos do regime para se proteger de denúncias pesadas de corrupção. Foram capazes também de proteger por duas vezes Michel Temer de ser investigado pela PGR. Para essa turma, vai valer tudo nas ruas das grandes cidades e nas cidades do interior para tirar da frente quem estiver atrapalhando o caminho, inclusive usar da violência física.

Antes da largada na TV como estão posicionados os candidatos?
Lula é um fenômeno de massas impressionante, mesmo preso e incomunicável, tem crescido nas últimas pesquisas das mais diferentes que foram publicadas após o registro das chapas. A maioria da classe trabalhadora brasileira e parte da classe média querem Lula presidente de novo, a situação econômica e política do país é tão grave, que as poucas concessões conquistadas na experiência dos governos do PT obrigam a maioria do povo a desejar Lula presidente de novo, mesmo tendo críticas ao PT e ao próprio Lula. Quanto mais a sensação de mal estar social aumentar até as eleições, mais crescerá a campanha de Lula. O grande desafio do petismo é transpor a maioria desses votos para garantir que Haddad possa ir para o segundo turno. Os programas de TV vão ajudar muito o PT a cumprir essa tarefa e Haddad com Manuela de vice poderão ter uma ascensão meteórica capaz de disputar a liderança do processo eleitoral com Bolsonaro ou Alckmin.

só os programas de TV não vão salvar o PT dessa situação, esse partido é o mais popular do país e tem como principal figura pública o líder mais popular da esquerda latino americana, dirigindo inclusive a maior central sindical do país. Se toda essa força política não estiver a serviço da revogação das reformas de Temer, de enfrentar efetivamente a candidatura de Bolsonaro, se essa campanha estender novamente a mão para os interesses do mercado financeiro privilegiando alianças inclusive com setores golpistas, o PT vai permitir que o fascismo chegue no poder central do país.

Bolsonaro é o segundo colocado, mas a sua rejeição está crescendo e poderá crescer mais depois que começar o horário eleitoral gratuito, pelo fato de sua coligação ter apenas 8 segundos de tempo de TV. Por isso Bolsonaro se esforça para manter o seu eleitorado inflamado e fiel, ainda que não cresça mais, a sua pontuação atual já pode garantir uma vaga no segundo turno das eleições. Mas é preciso refletir algo mais grave, Bolsonaro pode até mesmo nem ir para o segundo turno, mas no mínimo a ultra direita organizada provavelmente sai mais fortalecida desse processo eleitoral, e justamente por isso deve ser corajosamente combatida.

Alckmin ainda é o candidato da maioria da classe dominante, dos banqueiros, dos grandes industriais, do agronegócio e da grande mídia. Terá a sua disposição a maior quantidade de financiamento de campanha e de tempo de TV. Além disso, as eleições anteriores demonstraram que os candidatos do PSDB ganharam força depois da campanha assumir a TV indo para disputa da liderança na reta final. Esse fenômeno poderá acontecer, os marqueteiros poderão conquistar parte dos eleitores de Bolsonaro que não verão seu candidato na TV, verão Alckmin todos os dias repetindo ideias de direita com a sua vice Ana Amélia agitando posições ainda mais próximas das de Jair Bolsonaro.

Ciro Gomes e Marina Silva possuem competitividade, também são candidatos a irem para o segundo turno, mas diante das armas que possuem Lula, Bolsonaro e Alckmin, estão numa localização mais desfavorável. Portanto, podem oscilar para baixo ou para cima, mas a tendência geral é que percam eleitorado principalmente na polarização, para o voto útil.

Amoedo, Álvaro Dias e Meirelles também podem oscilar mas a tendência dos fatos é que também percam força com a polarização e não consigam ter a consistência necessária para chegar no segundo turno. Com o destaque devido a candidatura de Meirelles, pois é a candidatura do MDB, partido do presidente golpista Michel Temer, expressando o completo desprezo que a população brasileira tem pelo atual governo, seja entre os eleitores da direita ou da esquerda.

A localização da esquerda radical antes da propaganda eleitoral na TV
Há duas candidaturas que se enquadram nesse terreno: a do PSOL e a do PSTU. A aliança entre PSOL, PCB, MTST e APIB, que se expressa nas candidaturas de Boulos e Guajajara, vem cumprindo um papel muito importante apresentando um programa contrário aos interesses do Capital, se enfrentando com Bolsonaro e suas ideias conservadoras, denunciando as reformas de Temer, dando voz aos oprimidos e combatendo o golpe. Por conta do voto útil em Lula e de serem candidatos até então desconhecidos da maioria do eleitorado brasileiro, não pontuaram expressivamente nas pesquisas. Mas, é inegável que Guilherme Boulos e Sonia Guajajara aonde vão, atraem muita gente querendo ouvir suas ideias, querendo se organizar num movimento, com disposição de dar alguma contribuição diante de uma conjuntura tão sinistra. Como diz o meu camarada Valerio Arcary: “é a chapa que ainda não toca na rádio, mas o show é um sucesso”. Além disso, em vários estados as candidaturas proporcionais do PSOL surpreendem, reúnem muitos ativistas de luta, seja para o Senado, seja para as casas legislativas, demonstram que é possível fortalecer uma alternativa de esquerda diferente das experiências petistas.

A candidatura do PSTU apresenta acertadamente uma mulher trabalhadora nordestina e negra. Mas com todo respeito que a candidatura de Vera com Hertz de vice merece, há erros táticos e de análise muito importantes cometidos pelo PSTU na atual situação brasileira. O grande erro pai de todos, é a direção do PSTU não ter entendido até hoje que o governo Dilma sofreu um golpe parlamentar, que a prisão de Lula é parte desse processo. Somado a isso seguem desenvolvendo a análise que estamos num período pré revolucionário, não existindo portanto nenhum motivo para achar que as ideias reacionárias e conservadoras estão crescendo no país. Com base nessa análise cometem erros graves, se recusaram a compor a aliança com PSOL, MTST e PCB para fortalecer uma alternativa à conciliação de classes.

Outro grave erro é a agitação do programa máximo sem mediações, não considerando o nível de consciência das massas. No ano em que o Programa de Transição escrito por Trotsky faz 80 anos, no qual o velho nos ensina a levar em consideração as reivindicações mínimas e parciais para a construção de um programa de transição que ajude os trabalhadores compreenderem a necessidade da revolução socialista. O PSTU simplesmente joga na lata do lixo uma das obras primas de Trotsky em nome da autoproclamação, considerando-se os únicos revolucionários no mundo, apresentando um programa que não consegue dialogar com a maioria da classe trabalhadora. A política é tão catastrófica, que é impotente para disputar o movimento operário com o reformismo petista ao mesmo tempo que fortalece indiretamente a direita e a ultra direita se colocando no campo do golpismo (dizendo que nunca teve golpe) e escolhendo para atacar como principais inimigos as candidaturas do PT e do PSOL. O resultado dessa política é que a direção do PSTU acaba achando absolutamente normal e justo ajudar a eleger um vereador bolsonarista para presidência de um dos principais sindicatos de mineiros trabalhadores da Vale no interior de Minhas Gerais, manchando o nome e a história da CSP-Conlutas.

Nossas principais tarefas…
A militância precisa se jogar para fortalecer a campanha do PSOL, ainda que seja pequeno o espaço na TV, mas somado a participação nos debates, entrevistas e agitação nas redes sociais de todas as candidaturas do partido, a nossa exposição pública vai aumentar e a tendência é de que as atividades das campanhas do PSOL sejam ainda mais concorridas e atraiam mais ativistas para ouvir o que temos a dizer, mesmo não pontuando nas pesquisas, pelas condições desfavoráveis de uma eleição movida a dinheiro. É tempo de organizar aqueles que se apresentam para a luta!

Desse processo eleitoral vai sair também uma nova correlação de forças na luta de classes, no qual a vitória de algum setor seja da direita ou da esquerda poderá nos dar mais ou menos oportunidades e espaço político para mobilizar mais ou menos trabalhadores no próximo período. Por isso derrotar o golpe em curso, escolher Bolsonaro como o principal inimigo seguido das outras candidaturas da direita forma a hierarquia da disputa política mais geral. Mas sem abrir mão da necessidade de exigir que o PT também faça um duro combate contra as alternativas e projetos da direita, pois o PSOL sozinho não terá sucesso. Como também apontar e fortalecer uma alternativa de esquerda que no mínimo saia desse processo eleitoral com mais força e mais esperança para milhares de ativistas e lutadores que tem como estratégia a construção de uma sociedade socialista.

Marcado como:
eleições 2018