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BRASIL

PT, um refém do toma lá dá cá

Por: Paulo Pasin, colunista do Esquerda Online
Ag. Brasil

A divulgação das primeiras pesquisas após o início oficial da campanha eleitoral deu margem a muita especulação, principalmente na Bolsa de Valores. Jornalistas, blogueiros, “especialistas em política” convidados pelas emissoras encenavam dar explicações “técnicas” sobre os números das pesquisas para, na verdade, defender as candidaturas dos seus patrões, o “mercado”.

Numa eleição onde o primeiro colocado das pesquisas está arbitrariamente excluído da disputa, quase tudo é uma grande incógnita. Só um dado é inquestionável: a maioria da classe trabalhadora e da juventude identifica no ilegítimo governo Temer o responsável pelo brutal agravamento nas condições de vida do povo brasileiro. É uma parcela significativa compara os tempos atuais com os oito anos de governo Lula.

A experiência dos trabalhadores e da juventude com os erros dos governos do PT, tanto no que diz respeito à questão econômica (não enfrentou os privilégios das elites) como política (manteve o balcão de negócios como método de governo), foi interrompida, na medida em que o impeachment da Dilma foi uma manobra jurídica, parlamentar e midiática dirigida pela direita.

A história esta cheia de exemplos de partidos construídos pela nossa classe, mas que foram se acomodando nos espaços de poder degenerado, abandonando as bases e a perspectiva de uma mudança estrutural do sistema econômico e social. Em nome da governabilidade se juntam as velhas raposas, sendo por isso responsáveis pela fortalecimento de alternativas de direita na medida em que desestimulam o conflito de classes e o processo de politização dos trabalhadores e da juventude. Porém quando não são superados por forças de esquerda, mas pela direita, recuperam sua influência eleitoral.

São conciliadores por natureza. E, para retornar ao poder, acenam com propostas ainda mais conveniente para os ricos. Temem enfrentar os privilégios dos poderosos, porque não confiam na mobilização popular.

A escolha do Haddad para suceder Lula é coerente com este pensamento. De perfil moderadíssimo, Haddad é defensor de um “diálogo construtivo” com o PSDB, frequentador de “rodas de conversa” com FHC. Não é a toa que no auge das mobilizações de junho de 2013 atuou como coadjuvante do Geraldo Alckmin, mesmo após a violenta repressão ao movimento ordenada pelo então governador, ao invés de atender à justa reivindicação da juventude. Reiteradas vezes defendeu as Parcerias Público-Privadas, com a velha e surrada desculpa de que concessão não é privatização. Neste quesito também repete o discurso neoliberal do PSDB.

Precisamos romper este ciclo vicioso. Os primeiros comícios da campanha Guilherme Boulos foram empolgantes. Construídos por gente que vem das periferias, das lutas populares, dos trabalhadores e da juventude. Um emocionante encontro de gerações, uma junção de movimentos de luta contra a exploração e opressão.

Uma campanha que pode assumir compromissos claros, porque não faz aliança com golpistas ou capitalistas. Que não faz discurso de ocasião ou de acordo com a plateia. Uma prática muito comum dos políticos tradicionais é falar uma coisa para os trabalhadores e outra nos ambientes empresariais. Por isso não podem dialogar honestamente com pautas como as reunidas em um manifesto das Pastorais da Igreja Católica que, entre outros pontos, propõem:

  • Revogação das mudanças aprovadas na CLT que retiram direitos trabalhistas.
  • Reversão das privatizações executadas e fortalecimentos das empresas públicas.
  • Revogação da Emenda Constitucional 95, que congela os investimentos sociais por 20 anos.
  • Realização de uma Auditoria Cidadã da Dívida Pública, que consome aproximadamente metade de todo o orçamento público brasileiro.
  • Realização de Reforma Tributária que combata a desigualdade, taxando as grandes fortunas, as grandes heranças, os dividendos de grandes empresas e do sistema financeiro. Reversão das isenções fiscais e do perdão de dívidas e cobrança dos impostos devidos por grandes empresas.
  • Retomada dos programas sociais nos moldes anteriores a 2016, reforçando-os e universalizando-os.
  • Denúncia da partidarização e seletividade do judiciário.
  • Respeito à presunção da inocência e a Constituição que garante que a prisão somente deve ocorrer quando todos os recursos e instâncias tenham se esgotado.
  • Mobilizar a sociedade para uma ampla reforma do Estado, que estimule mecanismos de participação direta, promova a democratização e a pluralidade dos meios de comunicação e garanta o pleno respeito aos direitos humanos.
  • Implementação do direito a demarcação das terras indígenas e quilombolas e realização de uma reforma agrária ampla e popular, com incentivos à produção agroecológica e agroflorestal e à comercialização de alimentos saudáveis para toda a população brasileira.

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