Óscar René Vargas, 71 anos, foi um dos fundadores da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) nos anos 60. Membro do núcleo dirigente, salvou a vida de Daniel Ortega em 1967 quando a Guarda Nacional do ditador Somoza o perseguia e, em 2006, junto com Bayardo Arce, fez campanha para Daniel Ortega por toda a Nicarágua. Agora sofre um mandado de prisão pelo governo cujo líder salvou a vida e apoiou para chegar à presidência.
Vargas é fundador do Centro de Estudos da Realidade Nacional (CEREN) em Manágua, capital da Nicarágua e autor de 55 livros como teórico social, economista e político. Já no início dos anos 90, Vargas escreveu que o sandinismo, na verdade, era um regime político populista e que havia cometido erros enormes. Apenas um ano depois da eleição de Ortega, em 2006, declarou que a “revolução [sandinista] se acabou nos anos 90” e que o sandinismo havia se transformado em orteguismo.
Após começarem os protestos neste ano, declarou no artigo “Protesta, resistência y giro político en Nicarágua” que o detonador dos protestos foi uma drástica reforma do sistema de seguridade social, aprovada no dia 16 de abril. E que “até o dia de hoje, 24 de abril, a situação é a seguinte: o governo Ortega-Murillo se encontra mais vulnerável do que nunca nos últimos doze anos: está socialmente isolado; economicamente, a situação tende a se deteriorar, o que provocará mais descontentamento; internacionalmente, se encontra mais sozinho do que nunca; politicamente, lhe favorece que ainda não exista, até o momento, uma liderança visível e aglutinadora”.
No dia 17 de junho publicou outro artigo chamado “Nicarágua – La dinámica de los acontecimentos” em que pede a renúncia do governo como única saída para a crise e, em 22 de julho, novo texto “Nicaragua – El discurso de Ortega: la pinochetización de Nicaragua”, fala da pinochetização do governo Ortega.
Ordem de prisão para Oscar
Tendo participado ativamente dos protestos contra a reforma de seguridade social e a repressão promovida pelo governo Ortega e sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo, Vargas denunciou no dia 25 de julho que está sofrendo uma ordem de prisão. Ele teria sido alertado por trabalhadores do judiciário e, por isso, conseguiu escapar da repressão e há relatos de que teria se exilado na Costa Rica. De qualquer forma, desde o dia 25 de julho ele saiu de casa e não retornou. Mas fez uma publicação em uma rede social no dia 29 de julho, o que sugere que está vivo e em liberdade.
Mortes, sequestros e detenções de ativistas
Em pouco mais de três meses de protestos, cerca de 450 pessoas foram mortas, em sua maioria ativistas. Entre 23 e 25 de julho de 2018, 137 pessoas foram julgadas sob a acusação de terrorismo, crime organizado e assassinato. São pelo menos 500 sequestrados e há centenas de desaparecidos. Duas importantes lideranças do movimento camponês, Medardo Mairena e Pedro Mena, foram presos.
Ao mesmo tempo em que o governo Ortega aumenta a repressão aos ativistas, a oposição burguesa organizada na Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia de forma hipócrita tenta posar de defensora dos direitos humanos.
Não à ordem de prisão de Oscar Vargas! Fim de toda repressão!
Lideranças de movimentos sociais, intelectuais e parlamentares de vários países do mundo emitiram um manifesto exigindo a suspensão imediata da ordem de prisão de Óscar René Vargas. Nos somamos à exigência de levantamento da ordem de prisão para Óscar René Vargas e a liberdade imediata dos presos políticos da Nicarágua. E o fim de toda e qualquer repressão aos ativistas de oposição ao governo.
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