Por estes dias, milhares de pessoas combatem um inimigo sem rosto. Na Grécia no dia 24 de Julho, foram pelo menos 80 mortos e mais de 180 feridos. A destruição é enorme, não foi guerra, nem terrorismo. Do MAS prestamos toda a solidariedade para com as populações, vitimas, suas famílias e amigos.
Mas não só de solidariedade precisa quem foi afetado por esta tragédia. Um ano após os grandes incêndios em Portugal e em vários outros países a Grécia e outros países são afetados de forma assustadoramente semelhante. As imagens, relatos e notícias são iguais em todos estes casos. Já vamos tarde em tentar perceber o que realmente se passa.
As alterações climáticas, aumento das temperaturas e aumento de situações climatéricas extremas não explicam tudo. Vários fatores sociais vêm tornar os incêndios que sempre existiram em calamidades como esta. Após uma década de austeridade violenta alguma coisa tinha que mudar. A desertificação do interior e das zonas rurais, os cortes brutais na prevenção e combate aos incêndios, a entrega dos recursos florestais a grandes grupos económicos e um empobrecimento geral que leva a comunicações, serviços públicos e meios bem inferiores ao que tínhamos há dez anos levaram a estas tragédias.
Os incêndios, em Portugal, no ano passado em Junho e Outubro tiveram a intensidade, respetivamente, de 68 e 142 vezes da bomba de Hiroshima. Não é um acaso climatérico. Tanto disseram “Portugal não é a Grécia”, mas contra fatos não há argumentos, não só os “resgates” foram semelhantes como as suas tristes consequências estão a ser.
A solidariedade aparece naturalmente entre os povos em situações de calamidade. Que essa união sirva para alterar a origem dos incêndios destas proporções, a destruição social que a Troika e a austeridade trouxeram. Ainda estamos a descobrir a magnitude das perdas sociais e humanas da última década. Uma outra saída é urgente.
*Texto originalmente publicado em MAS
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