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EDITORIAL

Nicarágua: estamos com a revolta popular 

Editorial 19 de julho

Há exatos trinta e nove anos atrás, em 19 de julho de 1979, o sanguinário ditador Anastasio Somoza era derrubado por uma insurreição popular. A Revolução Sandinista libertou a Nicarágua de um regime tirânico, sustentado pelos Estados Unidos, e embalou sonhos de liberdade e justiça social em toda América Latina na década de oitenta.

A ironia da história é que hoje, no dia do aniversário da revolução, o guerreiro povo nicaraguense, novamente rebelado, enfrenta nas ruas a brutal repressão comandada por aquele que foi o principal líder da insurreição de 79, Daniel Ortega.

Revestidos de enorme simbolismo, alguns fatos revelam o essencial sobre esse momento dramático que atravessa o pequeno país. Na terça-feira (17), o governo de Ortega ordenou a tomada do heróico bairro indígena de Monimbó, na indomável cidade de Masaya – fortalezas da Revolução Sandinista e redutos históricos da resistência popular nicaraguense desde tempos coloniais. Vale recordar que Monimbó e Masaya foram cruelmente bombardeadas por Somoza antes do triunfo final da Revolução Sandinista.

Na tentativa de esmagar a rebelião popular, Ortega apela para a violência atroz: bandos de paramilitares, policiais e soldados do exército fortemente armados torturam, prendem e matam. Desde o início da revolta, já morreram mais de trezentos nicaraguenses em razão da feroz repressão desatada pelo governo.

O estopim da revolta, em 18 de abril deste ano, foi a tentativa de reforma da previdência de Ortega, formulada em conjunto com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim como propostas similares no Brasil e Argentina, a contrarreforma previa perda de direitos sociais. Enormes manifestações nas ruas exigiram a revogação da medida. Ortega respondeu com uma bárbara repressão. O resultado foi o oposto do pretendido pelo regime: a mobilização contra a reforma se converteu em rebelião pela derrubada do governo.

Daniel Ortega, quando chegou na presidência em 2007, passou a compor abertamente com setores da elite local e do imperialismo e a aplicar medidas contra os interesses do povo trabalhador – tudo em nome da permanência da FSLN no governo. Desse modo, Ortega se aliou a grandes empresários e à cúpula da Igreja Católica. Depois da eclosão da recente revolta, com o derretimento da sustenção popular, os aliados da classe dominante passaram à oposição ao governo, como a melhor forma de controlar a crise política e social.

Neste momento, é fundamental todo apoio e a solidariedade ativa com a rebelião popular que sacode a Nicarágua. É preciso repudiar, do modo mais enérgico, a brutal repressão contra o povo ordenada por Ortega. Nesse sentido, é uma verdadeira afronta ao povo nicaraguense a posição de parte da esquerda latino-americana  – como fazem  PT e PCdoB no Brasil – de apoio ao governo da Nicarágua.

Por outro lado, alertamos contra as movimentações imperialistas e burguesas que buscam desviar e controlar a revolta popular para fins reacionários. Diante da crise do governo, grupos empresariais, a cúpula da Igreja Católica e o Estados Unidos, querem construir uma saída regressiva para a crise que vive o país, evitando um desfecho revolucionário do processo.

Estamos pela mobilização independente do povo nicaraguense, em defesa de suas pautas democráticas, sociais e econômicas. É preciso deter a sanguinária repressão desencadeada pelo governo! Estamos do lado da revolta popular, pela derrubada revolucionária de Ortega e pelo estabelecimento de um governo dos trabalhadores, do povo pobre, dos camponeses e dos estudantes, que possa retomar o sentido democrático e anti-imperialista da gloriosa Revolução Sandinista. Um governo que, dessa vez, consiga abrir definitivamente o caminho em direção a uma Nicarágua socialista.

Foto: Manifestação em 30 de junho

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