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BRASIL

Todos querem falar com a Márcia, Sr. Crivella

Por: Igor Dantas, da Redação, do RJ

Rio de Janeiro – O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella visita Clínica da Família Dr. Rodolpho Perissé, no Vidigal, zona sul da capital fluminense. (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, realizou, na última quinta, o chamado “café da comunhão”, um encontro secreto com cerca de 250 pastores e lideranças evangélicas. Em áudios vazados, Crivella oferece ajuda e facilidades aos presentes em obter serviços públicos como isenção de IPTU para igrejas, instalação de semáforos, entre outros.

O caso mais gritante é o que o prefeito se refere a agendamento de cirurgias, como no seguinte trecho, transcrito do áudio vazado: “Nós estamos fazendo o mutirão da catarata. Contratei 15 mil cirurgias até o final do ano. Então, se os irmãos tiverem alguém na igreja com problema de catarata, se os irmãos conhecerem alguém, por favor, falem com a Márcia. É só conversar com a Márcia que ela vai anotar, vai encaminhar, e daqui uma semana ou duas eles estão operando”.

Essa fala sugere que se trata de um favorecimento que fere princípios da administração pública, afinal a maior parte da população do Rio de Janeiro que utiliza o SUS enfrenta grande dificuldade e longas filas para serviços semelhantes ou até mais simples do que os mencionados por Crivella.

Para Cintia Teixeira, nutricionista e pré-candidata a deputada federal pelo PSOL, o caso é bastante grave: “Um dos princípios do sistema único de saúde é a universalidade, ou seja, nós trabalhadores da saúde temos que atender a todos e todas, sem segmentação. Não tem nome, não tem sobrenome, não tem etnia, nós temos que atender a todos”. Segundo ela, Crivella desrespeita não só esse princípio do SUS, como outras legislações, incorrendo em improbidade administrativa, já que passa por cima do sistema estabelecido (SISREG), que já tem suas limitações, para criar uma lista virtual organizada por sua assessora Márcia Nunes, com prazos bem menores.

Outro trecho bastante questionável foi a afirmação de Crivella: “Nós temos que aproveitar que Deus nos deu oportunidade de estar na Prefeitura para esses processos andarem”. É bom lembrar que não estamos num país europeu na idade média, Crivella não está lá por direito divino e, sim, como um representante eleito da população carioca. Mesmo a nossa frágil e desigual democracia ainda mantem o direito da saúde e outros serviços como universais, isto é, de todos, e não somente da igreja do prefeito.

O caso já motivou dois pedidos protocolados de impeachment por improbidade administrativa e um pedido de investigação pelo ministério público (MP-RJ), movimentos nos quais o PSOL vem sendo linha de frente. Além da movimentação nas esferas institucionais, a resistência também está presente nas ruas. Em ato realizado na manhã desta quarta-feira (11), cerca de 250 pessoas, entre ativistas e servidores da saúde, cobraram explicações na Prefeitura, inclusive com uma postura desproporcional e agressiva da guarda municipal.

A votação do impeachment do prefeito Crivella está marcada para quinta-feira (12), às 14h, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Está sendo convocada pelo PSOL uma manifestação no local, às 12h. Nesse momento, ganha grande importância a participação dos cidadãos cariocas, trabalhadores que de fato enfrentam as filas do SUS e que devem pressionar os vereadores a votar pela investigação e possível impeachment de Crivella.

Foto: EBC