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Não há o que comemorar na venda da Embraer para a Boeing

Por: Marina Sassi, de São José dos Campos/SP

Venda da empresa coloca em risco milhares de empregos e a soberania tecnológica no setor aeronáutico e militar

Comemorada pelo mercado financeiro e anunciada pela grande imprensa como uma “parceria de sucesso”, a venda da Embraer para a gigante norte-americana Boeing representa, na prática, um grave ataque à soberania nacional e uma ameaça aos empregos.

A Embraer foi criada em 1969 e, desde então, recebe sistematicamente milhões de reais de financiamento do governo federal, mesmo após a privatização da empresa, em 1994. Todo este investimento permitiu que a companhia chegasse ao posto de terceira maior empresa no mercado mundial de aviação e a líder em aviação comercial executiva (jatos de luxo) e de defesa militar.

Com a transação, a Boeing visa adquirir todo a tecnologia a know-how da Embraer em aeronaves de pequeno porte e, assim, fazer frente à sua principal concorrente, a Airbus. O problema é que isso significa o desmonte da empresa e do todo o setor de defesa militar, estratégico para nosso país. Isso porque, quando se pensa em produção de tecnologia para aeronaves, não é possível dividir a empresa em setores.

Ao dividir a empresa, a Embraer está ficando somente com o ônus. Enquanto a joint venture a ser criada entre Boeing e Embraer ficará com o setor lucrativo da aviação comercial, a Embraer nacional ficará apenas com as áreas menos lucrativas e, portanto, com menor capacidade de investimento em inovação. Isso terá um impacto negativo direto no desenvolvimento de projetos para a área de defesa militar.

A área comercial da Embraer foi responsável por mais de 75% do lucro da empresa em 2017, com faturamento de mais de U$ 10 bilhões. Sendo assim, a norte-americana fica com o filé da Embraer por apenas U$ 3,8 bilhões. Trata-se da entrega do patrimônio nacional a preço de banana! Só para ter uma ideia, a empresa começou 2018 com uma carteira de pedidos de 435 aeronaves, que alcançariam U$S 18 bilhões.

Este processo tem gerado muita preocupação entre os trabalhadores. Não há nenhuma garantia de que os mais de 17 mil empregos diretos hoje serão mantidos. Na prática, o que se vê hoje é que a empresa já está realizando cortes, alguns até mesmo de forma ilegal, com demissão de lesionados que têm estabilidade garantida.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) já entrou com vários processos na Justiça, na tentativa de reverter os cortes ilegais, e também protocolou pedidos de reuniões com a empresa para discutir as demissões.

Charge Bruno Galvão / SindmetalSJC

Infelizmente, não há o que comemorar na venda da Embraer para a Boeing. A operação coloca em risco milhares de postos de trabalho diretos e indiretos no Brasil, além de nossa soberania tecnológica no setor aeronáutico e militar.

Em mais uma ação entreguista, o governo Temer, que poderia barrar este processo usando do poder de veto garantido pela chamada “ação de ouro”,  autorizando a negociação.

Para mudar este quadro é preciso uma política que tenha como foco a geração de emprego a partir do fortalecimento da indústria nacional. É preciso também repensar a Embraer de forma estratégica, como parte de um projeto em defesa da soberania nacional. Para isso, é necessário romper com os interesses dos acionistas, reestatizar a empresa e fazer com que os trabalhadores tenham poder de decisão em questões estratégicas.