Yanis Varoufakis data de 2011 a sua colaboração com Alexis Tsipras e respectivo alter ego, Nikos Pappas. Esta colaboração alargou-se progressivamente, a partir de 2013, a Yanis Dragasakis (que viria a ser vice-primeiro-ministro em 2015). Uma constante nas relações entre Varoufakis e Tsipras: Yanis Varoufakis pede insistentemente para modificar a orientação adoptada pelo Syriza. Varoufakis afirma que Tsipras-Pappas-Dragasakis queriam eles próprios, nitidamente, adoptar uma orientação diferente, mais moderada do que a decidida pelo partido.
A narração feita por Varoufakis é vívida. Através do seu testemunho vemos como, em sucessivas etapas cruciais, são feitas escolhas nas costas do Syriza, com desprezo pelos princípios democráticos elementares.
Varoufakis atribui a si mesmo um papel fundamental e de facto exerceu uma grande influência na linha adoptada pelo trio Tsipras-Pappas-Dragasakis. É igualmente certo que Tsipras e Pappas procuraram estabelecer, fora do Syriza, relações mais ou menos estreitas com certas pessoas e instituições, a fim de levarem a cabo uma política que se foi afastando cada vez mais da orientação adoptada pelo Syriza. Varoufakis não foi a única pessoa a ser contactada, mas a dado momento Tsipras e Pappas consideraram que ele era a pessoa indicada para negociar com as instituições europeias e o FMI.
Início de 2011: primeiros contactos de Varoufakis com Tsipras e Pappas
Varoufakis descreve o seu primeiro encontro com Alexis Tsipras e Nikos Pappas em inícios de 2011. Pappas encontra-se com ele num pequeno hotel-restaurante próximo da sede do Syriza.
«Quando cheguei ao hotel, Alexis e Pappas já tinham encomendado o almoço. Alexis tinha uma voz calorosa, um sorriso sincero e o aperto de mão de um eventual amigo. Pappas tinha um olhar brilhante e uma voz mais alta. […] Era evidente que ele soprava ao ouvido do jovem príncipe e que lhe servia ao mesmo tempo de guia, de freio e de aguilhão; esta impressão permaneceu em mim ao longo dos anos tumultuosos que se seguiram: dois homens jovens, da mesma idade mas com temperamentos diferentes, que agiam e pensavam como um só homem.» [1]
Varoufakis explica que Tsipras hesitava sobre a orientação a tomar quanto a uma eventual saída da zona euro.
«Desde 2011 que o Syriza estava dividido perante a este problema: dever-se-ia apoiar oficialmente o Grexit (sair da zona euro, mas não necessariamente da União Europeia)? A atitude de Tsipras pareceu-me simultaneamente desenvolta e imatura. O seu objectivo era dominar as tendências rivais no seio do partido, mais do que alcançar uma opinião clara e pessoal. A julgar pelos olhares cúmplices de Pappas, era evidente que este partilhava o meu ponto de vista. Contava comigo para o ajudar a impedir o líder de acalentar a ideia do Grexit.
Dei o meu melhor para impressionar Alexis e convencê-lo de que propor o Grexit era um erro tão grave como o de não se preparar para essa eventualidade. Critiquei o Syriza por se comprometer de ânimo leve […].»
Tsipras apresentou a Varoufakis a ideia de ameaçar os dirigentes europeus com uma saída da Grécia da zona euro, caso eles recusassem rever a política do Memorando. Varoufakis respondeu-lhe que era preciso evitar sair da zona euro, pois era possível, através da negociação, obter uma solução favorável à Grécia, nomeadamente uma nova reestruturação da dívida.
Tsipras retorquiu que vários economistas de nomeada, como Paul Krugman, afirmavam que a Grécia passaria melhor sem o euro.
Varoufakis prossegue o seu relato: «Respondi-lhe que teríamos passado bem melhor se jamais tivéssemos entrado para a zona euro, mas não termos entrado era uma coisa, sair era outra. […] Para o persuadir a abandonar esse raciocínio preguiçoso, desenhei-lhe o quadro do que nos esperava em caso de Grexit. Contrariamente à Argentina, que renunciou à paridade entre o peso e o dólar, a Grécia não tinha moeda e notas próprias em circulação.» Para o convencer, Varoufakis faz notar a Tsipras que: «Criar uma nova moeda leva meses.»
Na realidade, este argumento, que foi por diversas vezes retomado por Varoufakis e por outros opositores à saída do euro, não é sólido. De facto, era possível adoptar uma nova moeda usando notas de euro marcadas – as caixas automáticas dos bancos forneceriam notas de euro previamente marcadas com um selo. Assim o explicou nomeadamente Galbraith numa carta ao seu amigo Varoufakis, em Julho/2015. [2]
Na realidade, o que Varoufakis pretendia era convencer Tsipras quanto à possibilidade de permanecer na zona euro e ao mesmo tempo romper com a política anti-social aplicada até aí: «exigiremos uma renegociação que implicará um new deal para a Grécia e que nos permitirá ter uma economia social viável no seio da zona euro; se a UE e o FMI recusarem negociar, não aceitaremos nem mais um cêntimo de empréstimo envenenado pago pelos contribuintes europeus. E se eles em resposta nos expulsarem do euro, o que teria custos consideráveis para eles e para nós, deixá-los escolher a política do quanto pior, melhor.»
Por conseguinte, para Varoufakis não era preciso preparar a saída da zona euro; e se um dia isso acontecesse, seria a pior das soluções.
Varoufakis prossegue:
«Pappas meneava a cabeça com entusiasmo, mas Tsipras parecia alheado, até que o obriguei a abandonar o seu silêncio. A sua resposta confirmou-me que ele estava mais preocupado com as relações de força dentro do Syriza do que em agarrar o touro pelos cornos a propósito do Grexit. Não me deixei impressionar. O nosso encontro estava a chegar ao fim, e, correndo o risco de parecer paternalista, dei-lhe um conselho benévolo, não solicitado, que nada tinha a ver com o assunto. Ele podia ter levado a mal.
– Alexis, se queres ser primeiro-ministro, tens de aprender a falar inglês. Tira um curso, é essencial.»
Quando Varoufakis regressou a casa, a esposa, Danaé, perguntou-lhe como se tinha passado o encontro e ele respondeu: «O tipo é simpático, mas não me parece que tenha o estofo necessário.»
Varoufakis, a auditoria da dívida e a suspensão do pagamento
Na sua narrativa dos acontecimentos de 2011, Varoufakis nunca menciona a importante iniciativa da auditoria cidadã da dívida, na qual recusou participar.
É útil relembrar que as posições do CADTM começaram a ser conhecidas na Grécia a partir de 2010. Várias entrevistas foram publicadas na imprensa grega. Por exemplo, a revista grega Epikaira publicou uma longa entrevista comigo, realizada por Leonidas Vatikiotis, jornalista e militante político de extrema esquerda muito activo. Aí explico as causas da explosão da dívida pública grega e de que forma a experiência do Equador poderia inspirar a Grécia, em termos de comissão de auditoria e suspensão do pagamento da dívida. À laia de conclusão, à pergunta «Que deve a Grécia fazer?», respondi: «O meu conselho categórico é que abram os livros de contas! Examinem de forma transparente e perante a sociedade civil todos os contratos do Estado – dos maiores, como por exemplo os recentes Jogos Olímpicos, até aos mais pequenos – e descubram que parte da dívida é fruto da corrupção, e por consequência ilegal e odiosa segundo o jargão internacional, e denunciem-na!» [3]
Por seu lado, em numerosos artigos largamente difundidos na Grécia pela imprensa e pelas redes sociais, o economista Costas Lapavitsas também defendia activamente a necessidade de criar uma comissão de auditoria. Um dos seus textos afirmava: «Uma Comissão internacional de auditoria poderia desempenhar um papel catalisador, contribuindo para a transparência necessária. Essa comissão internacional, composta por peritos em auditoria das finanças públicas, economistas, sindicalistas, representantes dos movimentos sociais, deve ser totalmente independente dos partidos políticos. Deve apoiar-se em numerosas organizações que permitirão mobilizar vastas camadas sociais. Assim começaria a tornar-se realidade a participação popular necessária face à questão da dívida» (artigo publicado a 5 de Dezembro de 2010 pelo diário Eleftherotypia). [4]
A 9 de Janeiro de 2011, o Ethnos tis Kyriakis, terceiro jornal diário grego em volume de tiragem (à época), entrevistou-me sob o título «Não está certo reembolsar dívidas ilegítimas. Os povos da Europa também têm o direito de controlar os seus credores». [5] O jornal explicava que «O trabalho da Comissão do Equador foi recentemente mencionado no Parlamento pela deputada Sofia Sakorafa».
De facto, Sofia Sakorafa, que rompeu com o Pasok quando este aceitou o memorando de 2010, tinha feito uma intervenção em Dezembro de 2010 no Parlamento, para propor a criação de uma comissão de auditoria da dívida grega, inspirando-se ma experiência equatoriana. O Parlamento não aprovou. Costas Lapavitsas, que residia em Londres, onde leccionava e cujas propostas tinham um eco considerável na Grécia, entrou então em contacto comigo e propôs-me colaborar no lançamento de uma iniciativa internacional para a criação de uma comissão de auditoria; aceitei imediatamente.
Simultaneamente, Giorgos Mitralias, do CADTM grego, entrou em contacto com Leonidas Vatikiotis, que era muito activo, para se avançar no terreno, na Grécia, com a criação dessa comissão.
Costas Lapavitsas consultou-me sobre o conteúdo do apelo internacional de apoio à constituição da comissão; fiz algumas alterações. Depois disto, começámos a procurar apoios entre as personalidades susceptíveis de nos ajudarem a aumentar o brado e a credibilidade da iniciativa. Encarreguei-me de reunir o máximo de assinaturas de personalidades internacionais a favor da constituição da comissão de auditoria. Eu conhecia várias personalidades há muitos anos, como por exemplo Noam Chomsky, com quem me mantinha em contacto sobre a questão da dívida desde 1998; Jean Ziegler, nessa época relator das Nações Unidas para o direito à alimentação; Tariq Ali, além de numerosos economistas, …
Na minha busca de assinaturas apenas me deparei com uma recusa: a de James Galbraith. Conversei com ele ao longo de muitos anos, desde as conferências sobre a globalização financeira, onde nos encontrámos. Mais tarde vim a conhecer uma parte da explicação dessa recusa, quando Yanis Varoufakis explicou publicamente a sua recusa de subscrever o apelo à criação da comissão de auditoria. [6] Conta ele que foi contactado por Galbraith, que lhe perguntou se devia assinar o apelo ou não. Varoufakis declara que o recomendou a não subscrever. Numa longa carta, Y. Varoufakis justifica a sua recusa de apoio à criação da comissão de auditoria cidadã (ELE). Aí declara ele que se a Grécia suspendesse o pagamento da dívida, teria de sair da zona euro e regressaria à Idade da Pedra. Afirma que, fora isso, as pessoas que tomaram essa iniciativa são muito simpáticas e bem intencionadas e que ele próprio em princípio é favorável à auditoria, mas que, nas circunstâncias em que a Grécia se encontra, não é uma iniciativa oportuna. Nesse longo texto Varoufakis apresenta também a sua opinião crítica acerca do documentário Debtocracy.
Em Março de 2011 foi lançado o comité grego de auditoria da dívida (ELE). Resultou de grandes esforços de convergência entre pessoas que mal se conheciam ou nem se conheciam de todo semanas ou meses antes. O processo de criação foi estimulado pela amplidão da crise grega.
O documentário Debtocracy, difundido a partir de Abril/2011 e no qual Hugo Arias (economista equatoriano que foi um dos principais animadores da comissão de auditoria criada em 2007 pelo presidente Rafael Correa) e eu próprio intervimos longamente, deu um grande eco à proposta de auditoria cidadã da dívida e à necessidade e à legitimidade de anular a parte ilegítima e odiosa da dívida. [7] Nas primeiras 6 semanas de difusão na Internet, Debtocracy foi descarregado por mais de um milhão de gregos.
Entre as personalidades gregas que assinaram o apelo em 2011, encontramos Euclide Tsakalotos (que viria a ser ministro das Finanças no governo de Tsipras, em substituição de Yanis Varoufakis, a partir de inícios de Julho/2015; manteve a pasta no segundo governo de Tsipras, que tomou posse em finais de Setembro/2015), Panagiotis Lafazanis (um dos principais dirigentes da plataforma de esquerda dentro do Syriza, ministro da Energia no governo de Tsipras entre Janeiro e 16 de Julho de 2015, líder da Unidade Popular, criada em finais de Agosto/2015 pelo sector que abandonou o Syriza em oposição ao 3.º Memorando), Nadia Valavani (membro da plataforma de esquerda, vice-ministra das Finanças de 27 de Janeiro a 15 de Julho de 2015, membro da Unidade Popular), Sofia Sakorafa (eleita eurodeputada em Maio/2014; manteve o lugar como independente a partir de Setembro de 2015, por discordar da capitulação), Georges Katrougalos (vice-ministro da Reforma Administrativa de Janeiro/2015 a Julho/2015, passando a ministro do Trabalho a partir de Agosto/2015; reconduzido nas mesmas funções no 2.º governo de Alexis Tsipras), Notis Marias (eleito eurodeputado em Maio 2014 pela lista do partido independentista de direita Anel, manteve-se como independente a partir de Janeiro/2015).
Varoufakis também não menciona a conferência internacional realizada em Atenas em Março/2011 pelo Synaspismos (principal componente do Syriza, presidida por Alexis Tsipras) e pelo Partido da Esquerda Europeia, na qual, contudo, ele próprio participou. Nessa conferência usaram da palavra Alexis Tsipras, Oskar Lafontaine (ex-ministro social-democrata das Finanças na Alemanha, um dos fundadores do Die Linke), Pierre Laurent (dirigente do PCF e do Partido da Esquerda Europeia), Mariana Mortágua (do Bloco de Esquerda), Euclide Tsakalotos, Yannis Dragasakis, eu próprio e vários outros convidados. A minha intervenção nessa conferência incidiu sobre as causas da crise, a importância vital de reduzir radicalmente a dívida por meio de medidas de anulação ligadas à realização de uma auditoria da dívida com participação cidadã. [8]
Estavam presentes 600 ou 700 participantes e diversas comunicações constam num livro publicado em inglês pelo Instituto Nikos Poulantzas, intitulado The Political Economy of Public Debt and Austerity in the EU [9].
Menciono esta conferência para mostrar que nessa época era naturalíssimo pôr no programa uma intervenção sobre a necessidade da auditoria da dívida, tema totalmente desprezado por Varoufakis, tanto na orientação que defendeu, como na sua narração dos acontecimentos de 2011.
Em Maio/2011 a conferência internacional de apoio à auditoria cidadã da dívida grega, que decorreu em Atenas, teve franco sucesso, com uma afluência de quase 3000 pessoas durante três dias. O CADTM fez parte das organizações que convocaram esta reunião. Durante a conferência coordenei o primeiro painel de discussão, no qual participaram nomeadamente Nadia Valavani [10], que foi mais tarde vice-ministra das Finanças do governo Tsipras I, e Leonidas Vatikiotis. O CADTM contribuiu, juntamente com os organizadores gregos e outros movimentos não gregos, para convencer um número significativo de organizações europeias a apoiarem a conferência e a aprovarem uma declaração colectiva que permanece válida:
Declaração da Conferência de Atenas sobre dívida e austeridade aprovada em Maio/2011 (excertos)
Apelamos a que apoiem: • Uma auditoria democrática das dívidas como passo concreto em direcção à justiça em matéria de endividamento. As auditorias da dívida com participação da sociedade civil e do movimento sindical, à semelhança da Auditoria Cidadã da Dívida de Brasil, permitem determinar que partes da dívida são ilegais, ilegítimas, odiosas ou simplesmente insustentáveis. Oferecem aos trabalhadores o conhecimento e a autoridade necessários para recusar o pagamento da dívida ilegítima. Incentivam igualmente a responsabilidade, a prestação de contas e a transparência da administração do sector público. Exprimimos a nossa solidariedade para com as auditorias da Grécia e da Irlanda e estamos prontos a prestar ajuda em termos práticos. • Respostas soberanas e democráticas à crise da dívida. Os governos devem responder em primeiro lugar perante o seu povo, e não perante as instituições da UE ou do FMI. Os povos de países como a Grécia devem decidir sobre as políticas que mais convêm à sua retoma económica e à satisfação das suas necessidades sociais. Os Estados soberanos têm o poder de impor moratórias ao reembolso quando a dívida possa destruir os meios de subsistência dos trabalhadores. A experiência do Equador em 2008-09 e da Islândia em 2010-11 demonstra a viabilidade de trazer respostas radicais e soberanas ao problema da dívida, incluindo o repúdio da parte ilegítima. Aliás, a cessação dos pagamentos justificada num estado de necessidade é reconhecida legalmente por resoluções das Nações Unidas. • Uma reestruturação económica e redistribuição, não um endividamento. O predomínio das políticas neoliberais e o poder da finança internacional deram origem ao crescimento fraco, ao aumento das desigualdades e a crises sucessivamente mais graves, ao mesmo tempo que minavam os processos democráticos. É imperativo alterar os fundamentos das economias, através de programas de transição que incluam mecanismos de controlo dos capitais, a regulamentação estrita dos bancos e até a sua transferência para o sector público, políticas industriais que assentem em investimento público, o controlo público dos sectores estratégicos da economia e o respeito pelo meio ambiente. O primeiro objectivo deve consistir em proteger e aumentar o emprego. É também crucial que os países adoptem políticas redistributivas radicais. A base de tributação deve ser alargada e progressiva, taxando o capital e os ricos, de forma a permitir a mobilização dos recursos internos como alternativa ao endividamento. A redistribuição deve incluir a restauração dos serviços públicos de saúde, de educação, de transporte e das pensões de reforma, bem como inverter a tendência de descida dos salários. Trata-se de dar os primeiros passos para a satisfação das necessidades e aspirações dos trabalhadores, através de medidas que além disso invertam a relação de forças em detrimento do grande capital e das instituições financeiras. Estas medidas permitiriam aos povos da Europa, e em geral aos de todo o mundo, um controlo maior sobre os seus meios de subsistência, as suas vidas e os seus processos políticos. Ofereceriam igualmente esperança à juventude da Europa, cujo futuro se afigura hoje bastante sombrio, com escassez de emprego, salários baixos e ausência de perspectivas. Por todas estas razões, é do melhor interesse dos trabalhadores de todo o mundo apoiar a luta contra a dívida da Grécia, da Irlanda, de Portugal e de outros países da Europa. Atenas, 8 Maio 2011 a declaração vem assinada por: Iniciativa para uma Comissão de Auditoria Grega (ELE), European Network on Debt and Development (Eurodad), Comissão para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM), The Bretton Woods Project, Reseach on Money and Finance da Grá-Bretanha, Debt and Development Coalition da Grã-Bretanha, Ireland Afri – Action from Ireland, WEED – Economy Environment Development, Jubilee Debt Campaign, Observatorio de la Deuda en la Globalización (Espanha). |
Aquando de uma conversa entre mim e Varoufakis em 9 Novembro 2016 em Atenas [11], perguntei-lhe porque não tinha apoiado a iniciativa da auditoria cidadã da dívida a partir de 2011. Respondeu-me que a iniciativa não era boa, porque punha em causa a legitimidade e a legalidade da dívida. Segundo ele, não se devia pôr em causa a legalidade ou a legitimidade da dívida grega.
Varoufakis adoptou uma posição tacanha de economista que só vê a dívida em termos de sustentabilidade financeira e de acesso às fontes de financiamento. Não conseguiu perceber a importância da auditoria cidadã. Embora no seu livro insista sobre a importância do movimento de ocupação das praças públicas que ocorreu em Junho-Julho/2011 na Grécia, não se apercebeu do entusiasmo que a iniciativa da auditoria cidadã angariou durante esse poderoso movimento.
Fui testemunha directa da recusa de Varoufakis em apoiar a auditoria cidadã em 2011 e constatei a sua capacidade de convencer James Galbraith a não assinar o apelo internacional que tínhamos lançado juntamente com Costas Lapavitsas. Depois de ler atentamente o livro de Varoufakis, fiquei convencido de que ele terá intervindo activamente para convencer Tsipras, pelo menos a partir de Maio-Junho/2012, a abandonar o apoio à auditoria da dívida e à reivindicação da suspensão do pagamento da dívida durante a realização da auditoria.
Dentro da direcção do Syriza e do grupo de conselheiros económicos de Tsipras, várias pessoas se opunham igualmente à auditoria da dívida e à suspensão do pagamento. Yannis Dragasakis, um dos responsáveis do Syriza em matérias económicas (viria a ser vice-primeiro-ministro dos governos de Tsipras I e II) não era favorável, conforme declarou a Giorgos Mitralias, quando este tentou convencê-lo, a partir de 2010, a apoiar a perspectiva da criação de uma comissão de auditoria. Georges Stathakis, que fazia parte da equipa de economistas que rodeava Tsipras, tinha por seu lado declarado à imprensa que não havia razões para levantar a questão da dívida odiosa no caso da Grécia, por a parte odiosa da dívida não representar mais de 5 % da dívida total. Stathakis foi ministro da Economia no governo de Tsipras I e durante um ano no governo Tsipras II, passando em Setembro 2016 a ministro da Energia e do Ambiente.
Finais de 2011: reforço da colaboração de Varoufakis com Tsipras e Pappas
Em finais de 2011 Varoufakis voltou a ser convidado por Pappas para uma nova conversa.
«Este segundo encontro, como sucederia com os seguintes, surpreendeu-me bastante: Alexis estava transformado. Tinham-se acabado as complacências, as lutas internas do Syriza que o obcecavam e o desprendimento em relação ao Grexit. Tinha feito o seu trabalho de casa […]. Chegou mesmo a anunciar-me com orgulho que tinha contratado um professor de inglês e que estava a fazer progressos. […] A vantagem mais evidente destas discussões foi a clarificação e o apuramento do nosso objectivo comum.»
2012: Varoufakis ajuda Tsipras a encontrar eco nos meios democráticos dos EUA
Varoufakis, que nessa altura trabalhava nos EUA, tentou abrir as portas a Tsipras nos meios do Partido Democrata.
Varoufakis explica que a estada de Tsipras no Texas «[lhe] permitiu construir uma ponte entre Washington e [os seus] novos amigos do Syriza, que não eram aliados naturais dos EUA». Explica ele: «Como era provável que um governo do Syriza provocasse um confronto violento com a Alemanha, a Comissão Europeia e o BCE, a última coisa de que Alexis e Pappas precisavam era de ter pela frente a uma administração norte-americana hostil. De 2012 a 2015, graças à ajuda de James Galbraith e respectiva rede de contactos, fiz quanto pude para convencer os líderes de opinião norte-americanos e a administração Obama de que nada tinham a temer de um eventual governo Syriza, cuja prioridade era libertar a Grécia de uma dívida esmagadora.»
Varoufakis contra o programa eleitoral do Syriza de Maio-Junho/2012
Varoufakis resume a sua posição:
«Eu queria que o Syriza apresentasse um programa simples, progressista, pró-europeu, coerente e não populista, uma base sobre a qual se pudesse construir a imagem de um governo credível, que negociaria um novo plano com a UE e o FMI. Alexis e Pappas pendiam para um plano político diferente, que optimizasse os ganhos eleitorais a curto prazo, à custa (quanto a mim) da coerência lógica a longo prazo. Em 2012, quando tomei conhecimento da política económica do manifesto eleitoral do Syriza, fiquei de tal forma irritado que não consegui lê-lo até ao fim. No dia seguinte um jornalista da televisão grega pediu-me um comentário. Disse-lhe que tendia a apoiar o Syriza, mas que só votaria nele se pudesse modificar o programa económico.»
Que tinha o programa eleitoral do Syriza de tão irritante para Varoufakis?
O programa do Syriza em 40 pontos para as eleições de Maio/2012
O programa do Syriza era claramente radical e desdobrava-se em 40 pontos. O primeiro ponto dizia respeito à dívida e começava assim: Auditoria da dívida pública, renegociação dos juros a pagar e suspensão dos pagamentos até à retoma do crescimento económico e da criação de emprego.
Entre outras propostas, coloco em destaque, ao lado de uma série de medidas de urgência para fazer face à crise humanitária: aumento do imposto sobre os rendimentos superiores a 500 000 euros, com retenção na fonte de 75 %; aumento dos impostos sobre as grandes empresas; abolição dos privilégios financeiros da Igreja e dos armadores; redução drástica das despesas militares; aumento do salário mínimo, de forma a voltar a colocá-lo ao nível de antes do Memorando de 2010 (ou seja, 740 € mensais); utilização dos edifícios do Governo, dos bancos e da Igreja para os sem-abrigo; nacionalização dos bancos; nacionalização das empresas públicas que foram privatizadas nos sectores estratégicos para o crescimento do país; medidas para restaurar os direitos dos trabalhadores e melhorá-los; adopção de reformas constitucionais para garantir a separação entre a Igreja e o Estado; realização de referendos sobre os tratados e outros acordos com a Europa; abolição dos privilégios dos deputados; suspensão da imunidade para os ministros e autorização para os tribunais levantarem processos contra membros do Governo; medidas de protecção aos refugiados e migrantes; aumento do financiamento dos serviços públicos de saúde, de forma a aproximá-los da média europeia (a média europeia é de 6 % do PIB, enquanto na Grécia era de 3 %); gratuitidade dos serviços públicos de cuidados de saúde; nacionalização dos hospitais privados; eliminação da participação do sector privado no sistema nacional de saúde; retirada das tropas gregas do Afeganistão e dos Balcãs; abolição da cooperação militar com Israel; apoio à criação de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967; negociação de um acordo estável com a Turquia; e last but not least: encerramento de todas as bases militares estrangeiras residentes na Grécia e saída da OTAN. [12]
Com este programa, o Syriza, que lhe acrescenta a palavra de ordem «Nenhum sacrifício pelo euro», vê os seus resultados eleitorais multiplicados por 4 entre 2009 e Maio/2012, passando de 4 % para 16 %.
O programa do Syriza de 2012 é muito interessante e útil. Contém as principais medidas que é preciso aplicar de facto.
Tinha no entanto dois pontos fracos:
Não faz uma hierarquização dos 40 pontos, quando seria preciso saber o que um governo deveria fazer em primeiro lugar (digamos nos 100 ou 200 primeiros dias). O programa não é apresentado de forma operacional. Ora é importante apresentar um roteiro que especifique a forma como o governo prevê realizar os objectivos fixados. No caso vertente também era importante apresentar um plano A e um plano B. O plano A é o primeiro a ser aplicado e o plano B é uma solução de recurso para o caso de diversos obstáculos impedirem a aplicação do plano A. Exemplo: o plano A propõe uma redução considerável da dívida, por meio de acordos amigáveis com os credores (era isto que propunha o plano de Tessalónica, aprovado em 2014 – ver adiante). Caso os credores recusem uma redução radical da dívida, há que apontar em linhas gerais o que fará o governo no quadro de um plano B (suspensão do pagamento da dívida, auditoria da dívida com participação cidadã, medidas visando o repúdio da dívida – ver adiante).
É afirmada a necessidade de reformas constitucionais, mas sem dizer se é preciso convocar eleições gerais para eleger uma assembleia constituinte. Ora é muito importante pronunciar-se sobre a forma de realizar reformas constitucionais. São coisas muito diferentes formar uma maioria qualificada dentro do Parlamento ou iniciar diligências abertas a toda a sociedade, passando pela convocação de uma assembleia constituinte.
As eleições de Maio/2012 na Grécia não permitiam a um partido ou a uma coligação de partidos constituir governo, o que levou a novas eleições em Junho/2012. Entre as duas eleições, Tsipras avança 5 propostas concretas para encetar negociações com os partidos que se opunham à Troika (com excepção do Aurora Dourada, que, apesar contrário ao Memorando, é excluído): 1. abolição de todas as medidas anti-sociais (incluindo a redução dos salários e das reformas); 2. abolição de todas as medidas que reduziram os direitos dos trabalhadores em matéria de protecção e negociação; 3. abolição imediata da imunidade dos deputados e reforma do sistema eleitoral; 4. auditoria dos bancos gregos; 5. constituição de uma comissão internacional de auditoria da dívida, combinada com a suspensão do pagamento da dívida até à conclusão dos trabalhos dessa comissão.
Nas eleições de Junho/2012 o Syriza obteve 26,5 % dos votos com esta orientação radical que punha em causa Varoufakis.
Apesar de Varoufakis discordar do programa do Syriza de 2012, Tsipras e Pappas pedem-lhe que redija um programa de governo
Entre as duas eleições, Varoufakis voltou a ser contactado por Pappas e realizou-se novo encontro com Tsipras. Pappas declara-lhe:
« – Nota bem que, se ganharmos, és tu quem vai estar encarregue de negociar com a UE e o FMI!»
Pappas pede a Varoufakis que prepare um documento onde sejam explicadas as linhas gerais da melhor estratégia de negociação, caso o Syriza ganhasse as eleições de 17 de Junho, daí a três semanas.
Varoufakis mete mãos à obra nessa mesma noite e desenvolve a ideia de que o capital dos bancos gregos deve sujeitar-se ao controlo europeu.
Segundo Varoufakis, era conveniente transformar «os contribuintes europeus em proprietários dos bancos gregos: de facto os bancos deixariam de estar sob a responsabilidade do Estado, passando a ser detidos pelo povo europeu, pedindo-se às instituições europeias que os gerissem em seu nome. Era a única maneira de restaurar a confiança nos bancos». Conforme foi referido na primeira parte desta série, ao propor a transferência para a UE das acções detidas pelos poderes públicos gregos nos bancos do país, Varoufakis deu mais um passo dramático em direcção ao completo abandono da soberania.
Segundo Varoufakis, isto facilitaria a reestruturação da dívida pública.
Acrescentou ainda uma segunda proposta: «Em segundo lugar, todos os reembolsos da dívida à UE e ao FMI deveriam depender de uma condição: que a retoma do país seja uma condição mínima reconhecida. É a única maneira de fazer com que a economia nacional volte a arrancar.»
É importante notar que para Varoufakis a suspensão do pagamento da dívida, acima referida, fazia parte da negociação. Essa suspensão teria de ser autorizada pelos credores – não era, portanto, um acto soberano. Varoufakis prossegue a evocação da sua quimera: «Se fossem activadas em conjunto, estas duas alavancas da reestruturação anunciariam uma nova era: a UE e o FMI deixariam de ser como Ebenezer Scrooge, o avaro do Conto de Natal de Dickens. Passariam a ser verdadeiros parceiros, empenhados em promover o restabelecimento da Grécia, sem o qual os seus empréstimos seriam, de todas as maneiras, largamente reduzidos.»
Em vez de suspender unilateralmente o pagamento da dívida, Varoufakis propôs a recusa de novos créditos: «se vocês estiverem dispostos a propor condições razoáveis e sensatas, mas recusarem novos empréstimos […], a UE e o FMI aceitarão sentar-se à mesa connosco – sair-lhes-ia demasiado cara a recusa, financeira e politicamente».
Tsipras fica na dúvida sobre a proposta de Varoufakis quanto aos bancos gregos
– Tu queres que eu anuncie que entregamos de bandeja os bancos gregos aos estrangeiros? Como queres tu que eu venda essa ideia ao Syriza?», perguntou-lhe Tsipras numa reunião ulterior, na sede do partido.
– É isso mesmo que deves fazer. […]
Alexis aceitou. O que não significa que a ideia lhe agradasse. Tanto mais quanto o comité central do Syriza tendia naturalmente para a nacionalização dos bancos.»
Ainda assim, Tsipras objectou que «um governo sem qualquer poder sobre os bancos comerciais activos na Grécia jamais poderá levar a cabo uma política industrial nem um plano de desenvolvimento e reconstrução. Como havemos de fazer o comité central engolir esta pílula?»
Varoufakis, vendo que «tinha escapado um ponto» a Tsipras, retorquiu: «Como nós somos verdadeiros internacionalistas e verdadeiros europeus progressistas, arrancaremos os bancos falidos aos gregos corruptos, para os confiar ao europeu comum, aos cidadãos que injectaram o seu dinheiro nesses bancos.»
Os contactos descritos por Varoufakis decorreram após as eleições gerais de 6 de Maio de 2012.
Dada a impossibilidade de constituir governo, foram convocadas novas eleições gerais para 17 de Junho de 2012.
Varoufakis explica que, ao ouvir o discurso de Tsipras de 24 de Maio, no qual este expôs em pormenor a política económica do Syriza, deu-se conta que havia um abismo entre o que tinha sido proposto e o que poderia efectivamente ser posto em prática na zona euro. «Passada uma hora enviei um email arrasador a Alexis e a Pappas, sublinhando todas as falhas de construção das suas promessas […].»
Tsipras dá uma guinada à direita que o aproxima um pouco mais de Varoufakis após as eleições de Maio-Junho/2012
Acrescento ao relato de Varoufakis o meu próprio testemunho, baseado num contacto directo com Tsipras em Outubro/2012.
No espaço de poucos meses, o empenho em realizar uma auditoria à dívida e suspender o pagamento durante a sua realização desapareu progressivamente do discurso de Tsipras e de outros dirigentes do Syriza. Isto passou-se de forma discreta, de modo que a quinta medida proposta por Tsipras em Maio/2012 acabou substituída pela proposta de reunir uma conferência europeia para, nomeadamente, reduzir a dívida grega.
Ao longo de uma entrevista com Tsipras, em inícios de Outubro/2012, as minhas suspeitas sobre a sua mudança de rumo confirmaram-se. Dois dias antes o Wall Street Journal tinha publicado as notas secretas da reunião do FMI de 9 de Maio de 2010, que indicavam explicitamente que uma dezena de membros da direcção do FMI (composta por 24 membros) era contra o Memorando, partindo do princípio que não tinha pernas para andar, porque se tratava do resgate de bancos franceses e alemães e não de um plano de ajuda à Grécia. Eu disse a Tsipras e ao seu conselheiro económico: «Vocês têm aqui um argumento sólido para irem contra o FMI, porque se temos a prova de que o FMI sabia que o seu programa não tinha pernas para andar e se sabia que a dívida não era sustentável, temos nas mãos o selo de ilegitimidade e ilegalidade da dívida.» Tsipras respondeu-me: «Mas repara … o FMI está apenas a distanciar-se da Comissão Europeia.» Percebi logo que ele pensava que o FMI podia ser um aliado do Syriza, no caso de o Syriza aceder ao governo.
Também disse a Tsipras que tinha verificado que ele tinha deixado de falar das cinco propostas que apresentara como prioritárias após as eleições de Maio/2012 e que a questão da auditoria já não era colocada. Respondeu-me sem convicção que mantinha as cinco propostas e que não havia motivos para discutirmos por causa disso.
No dia seguinte, Tsipras e eu demos uma conferência pública perante 3000 pessoas, por ocasião do primeiro festival de juventude do Syriza. Dei-me conta de que o meu discurso, que insistia na necessidade de adoptar uma orientação radical à escala europeia, não lhe caiu no goto. [13]
Estou convencido que só depois das eleições de Maio-Junho/2012 Tsipras e Pappas apostaram definitivamente em Varoufakis para fazer parte do Governo. Até aí, encontravam-se com ele para sondar ideias e depois iam reflectir os dois sobre a maneira de se emanciparem das decisões do Syriza.
Varoufakis regressa ao tema da sua colaboração com Tsipras e Pappas em inícios de 2013
Varoufakis conta que redigiu o discurso que Tsipras pronunciou na Brookings Institution, um think tank sediado em Washington e muito próximo dos Democratas. Varoufakis resume o discurso a dois pontos. Em primeiro lugar, o Syriza era um partido pró-europeu que tudo faria para que a Grécia permanecesse na zona euro; para permanecer na zona euro e para que esta sobrevivesse, era necessário um novo plano cuja prioridade das prioridades era a reestruturação da dívida, seguida de reformas que minassem o poderio da oligarquia grega sobre a economia. Em segundo lugar, os EUA nada tinham a recear da política económica ou estrangeira de um eventual governo Syriza.
Varoufakis regressa ao tema da sua colaboração com Tsipras e Pappas em inícios de 2013
Varoufakis conta que redigiu o discurso que Tsipras pronunciou na Brookings Institution, um think tank sediado em Washington e muito próximo dos Democratas. Varoufakis resume o discurso a dois pontos. Em primeiro lugar, o Syriza era um partido pró-europeu que tudo faria para que a Grécia permanecesse na zona euro; para permanecer na zona euro e para que esta sobrevivesse, era necessário um novo plano cuja prioridade das prioridades era a reestruturação da dívida, seguida de reformas que minassem o poderio da oligarquia grega sobre a economia. Em segundo lugar, os EUA nada tinham a recear da política económica ou estrangeira de um eventual governo Syriza.
Esta orientação defendida por Varoufakis e assumida por Tsipras estava em clara oposição ao programa do Syriza, que prometia a saída da Grécia da OTAN.
Varoufakis encontra-se com a equipa de economistas do Syriza em Maio/2013
Em Maio de 2013, em Atenas, Varoufakis trava conhecimento com a equipa de economistas de Tsipras.
«Além de Pappas e de Dragasakis, ministro da Finanças fantasma, a equipa incluía dois outros deputados do Syriza que eu conhecia e de quem gostava muito: Euclide Tsakalotos, colega e amigo da Universidade de Atenas, e George Stathakis, professor de economia na Universidade de Creta.»
Varoufakis explica que lhes apresentou a proposta de programa que Tsipras lhe tinha encomendado.
«Entraram todos em parafuso, o que significava que eu tinha conseguido dissuadir Alexis de ter em vista o Grexit e de o agitar como ameaça. Perdi muitos amigos de esquerda no seio do Syriza, que nunca me perdoaram por ter contribuído para excluir o Grexit dos objectivos do Syriza. Em contrapartida, o círculo próximo de economistas de Alexis levava a peito encontrar uma solução viável no seio da zona euro.»
Uma nova «conferência de Londres»? A esperança de cooperação internacional versus «acçãosoberana unilateral»
Volto a dar-vos um testemunho pessoal, relativo à segunda reunião de trabalho que tive com Tsipras. Desenrolou-se em Atenas em fins de Outubro, no seu escritório de deputado, no edifício do Parlamento grego. Uma das iniciativas que Alexis Tsipras tinha em vista era a convocação de uma conferência internacional sobre a redução da dívida, a realizar em Atenas em Março de 2014. Tsipras, pressionado por Sofia Sakorafa, que era deputada do Syriza desde 2012, voltou a encontrar-se comigo em Outubro de 2013 e pediu-me para convencer uma série de personalidades internacionais a aceitarem o convite para essa conferência. Fiz uma lista de participantes e discutimos com Alexis Tsipras, Sofia Sakorafa e Dimitri Vitsas, secretário-geral do Syriza nessa época. Propus que se convidassem para a conferência personalidades como Rafael Correa, Diego Borja (ex-director do Banco Central do Equador), Joseph Stiglitz, Noam Chomsky, Susan George, David Graeber, Naomi Klein… assim como alguns membros da comissão de auditoria da dívida equatoriana que tinham trabalhado comigo em 2007 e 2008. Notei que, na lista que apresentei, Rafael Correa não lhe interessava nada. Em contrapartida queria o ex-presidente do Brasil, Lula, e a presidente da Argentina, Cristina Fernandez. Para ele o Equador era demasiado radical. E, claro está, queria Joseph Stiglitz e James Galbraith, o que se justifica. Mas na cabeça dele não era para criar uma comissão de auditoria, era para convocar os diversos países membros da União Europeia para uma conferência europeia sobre a dívida, à imagem do Acordo de Londres de 1953, quando os vencedores da Segunda Guerra Mundial concederam à Alemanha Ocidental uma redução da dívida muito considerável e condições de reembolso muito vantajosas. Disse-lhe que não havia hipótese de alcançar semelhante coisa. Como dirigente do Syriza, ele tinha perfeita legitimidade para avançar com um tal plano A, mas era impensável que Draghi, Hollande, Merkel, Rajoy consentissem. Disse-lhe que era necessário um plano B, do qual deveria constar a comissão de auditoria. Afirmei o mesmo na imprensa grega. Eis um excerto da minha entrevista, publicada pelo Quotidien des Rédacteurs, próximo do Syriza, em Outubro/2014, quase no mesmo dia em que teve lugar a reunião com Tsipras. O jornalista tinha-me perguntado o que pensava eu da conferência europeia sobre a dívida, proposta por Alexis Tsipras e inspirada na Conferência de Londres de 1953, ao que respondi: «Trata-se de uma iniciativa legítima […] mas ninguém será capaz de convencer os governos das principais economias europeias e as instituições da UE a fazê-lo. O meu conselho é este: o último decénio mostrou-nos que é possível chegar a soluções equilibradas aplicando actos soberanos unilaterais. É preciso desobedecer aos credores que reclamam o pagamento de uma dívida ilegítima e impõem políticas que violam os direitos humanos fundamentais, entre os quais se contam os direitos económicos e sociais das populações. Penso que a Grécia tem argumentos sólidos para agir e para formar um governo que seja apoiado pelos cidadãos e que explore as possibilidades nesse sentido. Um governo popular desse tipo e de esquerda poderia organizar uma comissão de auditoria da dívida, com larga participação cidadã, que permitiria determinar que parte da dívida é ilegal e odiosa, suspender unilateralmente os pagamentos e repudiar de seguida a dívida identificada como ilegítima, odiosa ou ilegal.» [14]
Por fim, Alexis Tsipras propôs-me que preparasse com ele e com Pierre Laurent, à época presidente do Partido da Esquerda Europeia, uma conferência europeia em que um dos temas seria a dívida. A conferência deveria decorrer em Março/2014 em Atenas. Não chegou a concretizar-se porque, numa reunião efectuada em Dezembro/2013 em Madrid, o Partido da Esquerda Europeia decidiu convocar uma conferência a realizar em Bruxelas, em vez de Atenas, na Primavera de 2014.
Aquando da conferência de Bruxelas, que teve muito poucas repercussões e onde estavam presentes, entre outros, Alexis Tsipras, Pierre Laurent, Gabi Zimmer (membro do Die Linke e presidente do grupo parlamentar GUE/NGL no Parlamento europeu), participei como conferencista num painel, juntamente com Euclide Tsakalotos, que viria ser ministro das Finanças de Alexis Tsipras a partir de Julho/2015. [15] Dei-me conta nesse instante que Tsakalotos não era nada favorável a um plano B para a dívida, os bancos, a fiscalidade. O seu plano consistia em negociar a qualquer preço com as instituições europeias, para obter uma redução da austeridade, sem recorrer à suspensão do pagamento da dívida e à auditoria. Na mesma conferência voltei a argumentar a favor de um plano B que incluísse a auditoria e a suspensão do pagamento da dívida.
A discussão sobre a necessidade de um plano B não data no entanto de 2015, remonta claramente aos anos 2013-2014. O núcleo dirigente que rodeava Tsipras decidiu excluir a preparação de um plano B e agarrou-se com unhas e dentes a um plano A irrealizável.
Regressemos à narrativa apresentada por Varoufakis. Alguns dias após o encontro que tive em Atenas com Tsipras, este dirigiu-se ao Texas, para um seminário organizado por Varoufakis e pelo seu amigo e colega James Galbraith.
Novembro/2013: Varoufakis organiza a ida de Tsipras à Universidade Lyndon B. Johnson, em Austin, no Texas
«Em Novembro/2013, Jamie e eu organizámos um colóquio de dois dias na Universidade do Texas, sob o tema “É possível salvar a zona euro?”. Esperava-se que Alexis, Pappas e Stathakis, muito aguardados, interviessem. O objectivo era apresentar os três dirigentes do Syriza a algumas figuras das elites europeia e americana, a dirigentes dos sindicatos, professores universitários e jornalistas. […]
Durante o colóquio, Pappas e Tsipras assistiram a um debate particularmente acalorado entre a minha pessoa e Heiner Flassbeck, um economista alemão de esquerda, antigo ministro das Finanças do governo de Schroeder. Flassbeck afirmava ser impossível a Grécia libertar-se da prisão da dívida e ao mesmo tempo manter-se na zona euro. Um governo Syriza deveria visar o Grexit, ou pelo menos era esta a melhor ameaça a brandir contra os credores – de resto era também este o ponto de vista da Plataforma de Esquerda, uma facção do Syriza que contava entre os seus membros com um terço do comité central do partido. Nesse dia, em Austin, fiquei convencido de que Alexis não estava de acordo com esta análise; se alguém viesse a ameaçar o país de Grexit, seria Troika, não o Syriza.»
Junho/2014: novo encontro com a equipa de economistas de Tsipras
«Nesse mês de Junho de 2014, regressado à Grécia para umas férias de Verão, encontrei-me com Alexis e com a sua trupe de economistas, para os avisar de que uma nova ameaça se perfilava.» Varoufakis explica que os alertou contra a acção que o BCE tencionava levar a cabo a partir do início de 2015: fechar o fornecimento de liquidez aos bancos de certos países da zona euro e apenas lhes conceder liquidez de urgência. Este acto visava particularmente a Grécia.
«Dois dias mais tarde voltei a encontrar-me com Alexis e Pappas.
– Tens consciência de que és a única pessoa capaz de supervisionar a estratégia que propões? Estás preparado?»
Varoufakis continua: «Uma semana mais tarde, Wassily Kafouros, um amigo dos meus tempos de estudante em Inglaterra, lançou novas dúvidas no meu espírito. Segundo ele, eu era a última pessoa a ignorar que Dragasakis era muito próximo dos banqueiros.
– Tens provas disso, Wassily?
– Não tenho provas, mas é sabido que ele mantém excelentes relações com os banqueiros, desde que ingressou no partido.
Pensei que se tratava de uma acusação infundada.»
Varoufakis mostra clararamente desconhecer o Syriza e os seus dirigentes. De facto, Dragasakis mantinha há anos laços com os banqueiros. Tinha até administrado um banco de dimensão média. Era uma espécie de ponte entre Tsipras e os banqueiros. O Syriza era uma organização nova e por isso os seus líderes políticos tinham relativamente poucas raízes no aparelho de Estado – ao contrário, por exemplo, do Pasok, cuja história está ligada à República e à gestão do aparelho de Estado. Antes de Janeiro/2015, nenhum dirigente do Syriza tinha exercido funções no Estado; o único que tinha sido ministro a dada altura, durante alguns meses de 1989, era … Dragasakis (num governo de coligação entre o partido de direita Nova Democracia e o Partido Comunista, KKE, do qual Dragasakis era membro à época). Dragasakis era claramente contrário a que se tocasse nos interesses dos banqueiros privados gregos; era igualmente contrário à auditoria da dívida e à suspensão do pagamento; era favorável à permanência na zona euro.
Agosto/2014: as dúvidas sobre Dragasakis e a vontade de mudar o programa do Syriza
Em Agosto/2014 Varoufakis acaba por transmitir as suas dúvidas sobre Dragasakis.
«Olha, Alexis, ouvi dizer que Dragasakis é extremamente próximo dos bancos. E que, de maneira geral, embora faça de conta que quer encontrar uma saída, prefere manter o statu quo.
Ele não me respondeu de imediato. Lançou um olhar para longe, na direcção do Peleponeso, antes de se voltar para responder:
– Não, não me parece. Não penses nisso.
Senti-me desconcertado pelo seu laconismo. Seria que ele também tinha dúvidas mas preferia acreditar na probidade de um camarada mais velho? Seria uma maneira de ignorar a minha pergunta? Ainda hoje não sei que pensar. Nessa ocasião disse-me que eu não tinha escolha: de todas as formas, caber-me-ia um papel essencial nas negociações.»
Varoufakis garante a Tsipras que pode contar com ele, mas com uma condição: reserva-se o direito de intervir na elaboração do programa económico do Syriza antes das eleições. Tsipras aceita.
Varoufakis: contra o programa de Tessalónica de Setembro/2014
«Um mês depois, estava eu em Austin quando me chegou a informação de que Alexis tinha apresentado as linhas gerais da política económica do Syriza, num discurso em Tessalónica. Surpreendido, procurei o texto e li-o. Senti-me assolado por uma vaga de nojo e indignação.» Varoufakis faz uma declaração pública a criticar duramente o programa e convence-se de que terminara ali a colaboração com Tsipras.
Eis senão quando, golpe de teatro: Pappas ao telefone, alegre como um passarinho, como se nada se tivesse passado, propõe-lhe novo encontro. Varoufakis exprime o seu espanto e Pappas responde-lhe: «Esquece isso, não interessa. O Programa de Tessalónica foi um toque a rebate para as nossas tropas. Nada mais do que isso. Contamos contigo para pôr em pé o verdadeiro programa económico do Syriza.» Perante isto, Varoufakis aceita prosseguir a colaboração e acaba por ser ministro das Finanças. Explica que na reunião onde deu o seu acordo ocorreu a seguinte conversa:
«Como sabem, tenho grandes reservas sobre o Programa de Tessalónica. Aliás, tenho mesmo muito pouca consideração por esse programa. Uma vez que foi apresentado ao povo grego como sendo a vossa profissão de fé económica, não vejo como poderia, honestamente, aceitar a responsabilidade de o pôr em marcha como ministro das Finanças.
Pappas aproveitou a ocasião para me reafirmar que em caso algum eu deveria considerar esse programa como uma obrigação.
– Aliás, tu nem sequer és membro do Syriza.
– De acordo, mas não esperam que eu me torne membro do partido se aceitar o cargo?
– Não, de forma alguma – atalhou Alexis, cuja resposta já vinha muito bem estudada. – Não pretendo que sejas membro do Syriza. Não pretendo que te envolvas nas longas e tortuosas tomadas de decisão do partido.»
Conclusão
Varoufakis era um electrão livre, sem influência dentro do Syriza (do qual não era membro). Tsipras considerava que poderia, em caso de necessidade, demiti-lo sem provocar grandes rumores dentro do partido. O perfil de Varoufakis correspondia ao casting definido por Tsipras e Pappas: economista universitário, brilhante, bom comunicador, capaz de conjugar a provocação e a conciliação com um sorriso, com um domínio perfeito da língua inglesa.
Alexis Tsipras decidiu funcionar num círculo à parte, nas costas do seu próprio partido, em vez de pôr em marcha a orientação política decidida de forma colectiva no seio do Syriza e aprovada democraticamente pela população grega. A nomeação de Yanis Varoufakis para a pasta das Finanças e a recomendação de que ele não ingressasse no partido correspondem a uma lógica de governação tecnocrática, graças à qual Varoufakis não respondia perante o Syriza nem perante os eleitores gregos, mas unicamente perante Alexis Tsipras e seu pequeno círculo. É evidente que a ausência de participação popular e de mecanismos democráticos na elaboração da orientação política contrariava a necessidade, inerente a um governo de esquerda, de apelar à mobilização popular, de modo a pôr em prática o programa político radical graças ao qual Tsipras tinha sido eleito. A memória dos acontecimentos entre 2011 e finais de 2014 é indispensável para compreender o que se passou após a vitória eleitoral do Syriza em Janeiro/2015.
Fim da terceira parte da série «O relato da crise grega feito por Yanis Varoufakis: acabrunhante para ele próprio»
Eric Toussaint. Tradução: Rui Viana Pereira
Notas
[1] Y. Varoufakis, Adults in the Room, Bodley Head, London, 2017, cap. 3, p. 57. Todas as citações provêm dos capítulos 3 e 4. O livro será publicado no Outono de 2017 em francês, pelo editor Les Liens qui Libèrent.
[2] Ver o texto desta carta em James K. Galbraith, Crise grecque, tragédie européenne, Le Seuil, 2016, http://www.seuil.com/ouvrage/crise-grecque-tragedie-europeenne-james-k-galbraith/9782021314847
[3] «Ouvrez les livres de comptes de la dette publique!», http://cadtm.org/Ouvrez-les-livres-de-compte-de-la
[4] http://cadtm.org/Commission-Internationale-d-audit
[5] Em 2011 o Ethnos tis Kyriakis, de centro-esquerda, era o terceiro jornal diário grego em volume de tiragem (100 000 exemplares). Versão em grego da entrevista publicada a 9 de Janeiro de 2011: http://www.ethnos.gr/article.asp?ca... Versão francesa: http://cadtm.org/Les-peuples-de-l-Europe-ont-aussi
[6] er em grego: ΣχόλιαΓιάνης Βαρουφάκης Debtocracy : Γιατί δεν συνυπέγραψα http://www.protagon.gr/?i=protagon…. , publicado a 11 de Abril de 2011.
[7] Ver a propósito de Debtocracy: «Dívida: os gregos e a Debtocracy», http://www.cadtm.org/Divida-os-gregos-e-a-Deptocracy, publicado a 13 de Julho de 2011.
[8] Ver o diaporama da minha exposição: «Eric Toussaint, Greece: Symbol of Illegitimate Debt», publicado a 12 Março 2011. As principais propostas decorrentes da minha apresentação estão expressas no texto: Éric Toussaint, «Oito propostas urgentes para uma outra Europa», publicado a 4 Abril 2011, http://www.cadtm.org/Oito-propostas-urgentes-para-uma
[9] Elena Papadopoulou and Gabriel Sakellaridis (eds.), The Political Economy of Public Debt and Austerity in the EU, Athens: Nissos Publications 2012, 290 p., ISBN : 9-789609-535465
É útil reproduzir o índice desse interessante livro, porque os nomes de actores chave do Syriza lá aparecem:
Elena Papadopoulou, Gabriel Sakellaridis (Gabriel S. foi porta-voz do grupo parlamentar do Syriza no Parlamento grego em 2015. Demitiu-se em Dezembro 2015, por discordar da aplicação do 3.º Memorando. Já não faz parte do Syriza):
Introduction. Section 1 – Understanding the European Debt Crisis in a Global Perspective
George Stathakis (George S. é ministro da Economia no Governo de Tsipras 2; fazia parte da ala direita do Syriza e era totalmente contrário à realização da auditoria da dívida grega; em finais de 2015 a imprensa revelou que ele teria fugido a declarar ao fisco 1,8 million d eeuros e 38 bens imobiliários): The World Public Debt Crisis. Brigitte Unger: Causes of the Debt Crisis: Greek Problem or Systemic Problem?
Euclide Tsakalotos (ministro das Finanças a partir de Julho 2015): Crisis, Inequality and Capitalist Legitimacy. Dimitris Sotiropoulos: Thoughts on the On-going European Debt Crisis: A New Theoretical and Political Perspective
Section 2 – The Management of the Debt Crisis by the EU and the European Elites. Marica Frangakis: From Banking Crisis to Austerity in the EU – The Need for Solidarity. Jan Toporowski: Government Bonds and European Debt Markets. Riccardo Bellofiore: The Postman Always Rings Twice: The Euro Crisis inside the Global Crisis.
Section 3 – Facets of the Social and Political Consequences of the Crisis in Europe. Maria Karamessini: Global Economic Crisis and the European Union – Implications, Policies and Challenges
Giovanna Vertova: Women on the Verge of a Nervous Breakdown: The Gender Impact of the Crisis. Elisabeth Gauthier: The Rule of the Markets: Democracy in Shambles
Section 4 – The PIGS as (Scape) Goats.
Portugal – Mariana Mortágua
Ireland – Daniel Finn
Greece – Eric Toussaint
Spain – Javier Navascues
Hungary – Tamas Morva
Section 5 – Overcoming the Crisis: The Imperative of Alternative Proposals. Yannis Dragasakis (vice-primeiro-ministro dos governos Tsipras 1 e 2): A Radical Solution only through a Common Left European Strategy. Kunibert Raffer: Insolvency Protection and Fairness for Greece: Implementing the Raffer Proposal. Pedro Páez Pérez: A Latin-American Perspective on Austerity Policies, Debt and the New Financial Architecture
Nicos Chountis (ex vice-ministre des relations avec les institutions européennes dans le gouvernement Tsipras1, a été démissionné par Tsipras pour son refus de la capitulation et est eurodéputé de l’Unité Populaire depuis septembre 2015) : The Debt Crisis and the Alternative Strategies of the Left. Yanis Varoufakis (ministre des finances de janvier à juillet 2015) : A Modest Proposal for Overcoming the Euro Crisis.
Section 6 – The Crucial Role of the European Left – Political Interventions. Alexis Tsipras: A European Solution for a European Problem: The Debt Crisis as a Social Crisis.
Pierre Laurent: People Should Not Pay for the Crisis of Capitalism.
O livro está disponível em PDF: http://www.cadtm.org/Public-Debt-and-Austerity-in-the
[10] Nadia Valavani é uma personalidade pública grega respeitada, nomeadamente pela coragem que demonstrou na luta contra a ditadura dos coronéis. Apoia a Unidade Popular desde Agosto-Setembro 2015.
[11] Daniel Munevar também participou nesta discussão. Fez parte da equipa de conselheiros de Varoufakis quando este foi ministro das Finanças.
[12] Fonte: http://links.org.au/node/2888 (versão a partir do inglês).
[13] Voir Éric Toussaint : «O povo grego encontra-se hoje no epicentro da crise do capitalismo», http://www.cadtm.org/Eric-Toussaint-O-povo-grego
[14] Ver «O apelo de Alexis Tsipras para uma Conferência Internacional sobre a dívida é legítimo», http://www.cadtm.org/Eric-Toussaint-O-apelo-de-Alexis, 23 Outubro 2014.
[15] Euclide Tsakalotos, que em 2014 era professor de economia no Reino Unido, substituiu a partir de Julho/2015 Varoufakis no posto de ministro das Finanças. Continuava a ocupar essa função no início de 2017, no governo de Tsipras II.
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