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Dias, meses e anos

Por: Enio Bucchioni, de São Paulo/SP

Hoje, 14 de junho, faz 3 meses da execução de Marielle, militante do PSOL, e de Anderson. Marielle foi a primeira militante socialista assassinada numa grande cidade após o fim da Ditadura Militar.
Há uma semana fez 2 meses que Lula, principal dirigente do PT, está preso, mesmo sem provas contra ele.
Ontem fez 7 dias que Guilherme Boulos foi convocado para depor na Polícia Federal por causa da ocupação do MTST no suposto tríplex no Guarujá.
Daqui a 9 dias serão já 3 meses da execução de cinco jovens em Maricá, RJ.
Há 3 dias passou-se 1 mês que Nathanelly dos Santos, militante de 22 anos do MTST foi ferida à bala pela Guarda Municipal de Aracaju, Sergipe, numa ocupação de terras para moradia.
Dentro de 13 dias serão 3 meses dos atentados a tiros contra dois ônibus da Caravana de Lula no interior do Paraná.
Daqui a 13 dias serão 2 meses do atentado a tiros contra os militantes da vigília pró – Lula em Curitiba, com dois deles feridos à bala.
Hoje faz 9 dias que Katison de Sousa, líder camponês do Movimento dos Pequenos Agricultores foi assassinado em Santa Izabel, no Pará.
Anteontem fez 1 mês que um delegado da Polícia Federal destroçou os equipamentos de som da Vigília de Lula em Curitiba. O ataque foi feito por um ex-presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal.
Vários outros ataques e atentados seja de bandos de ultra-direita e/ou fascistas poderiam ser relembrados nos últimos anos.
Para dar somente um exemplo, foram assassinadas cerca de 70 pessoas somente em 2017 entre trabalhadores rurais sem-terra, indígenas, quilombolas, posseiros, pescadores e assentados segundo a Comissão Pastoral da Terra.

E qual a resistência que o conjunto da esquerda brasileira fez?
Vigília em Curitiba é bom, mas não basta.
Amanhecer com a Marielle é bom, mas não basta.
Reclamar no Congresso é bom, mas não basta.
Fazer um ou outro Ato em Unidade de Ação contra estas barbaridades e atrocidades é bom, como foi o caso do Circo Voador ou em Curitiba em 27 de março. Mas, isso só não basta.
Escrever e publicar textos contra estas barbaridades dos bandos de ultra-direita e/ou fascistas é bom. Mas não basta.

Trotsky e o bonapartismo
Há cerca de um ano e meio, em 26 de outubro de 2016, escrevi o seguinte no Esquerda Online:
“Na coleção dos Escritos de Leon Trotsky, publicada pela Editorial Pluma em 1977, há uma pequena nota dos editores norte-americanos que, de maneira simples e sintética, define o conteúdo básico do bonapartismo: “termo marxista que descreve uma ditadura ou um regime com certos traços ditatoriais em um período de instabilidade do regime de classe; ele se baseia nas Forças Armadas, na polícia e na burocracia estatal em vez dos partidos parlamentares ou no movimento de massas.”

De lá para cá os traços ditatoriais se reforçaram quantitativamente dada a instabilidade social, econômica e política do país. Com o julgamento, condenação e prisão de Lula em 24 de janeiro de 2018 penso que já vivemos um regime do tipo pré ou semi-bonapartista conforme Trotsky definiu em seu livro Revolução e Contra – Revolução na Alemanha.

Lula está preso, sem provas, e afastado da corrida presidencial apesar de continuar folgadamente em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de votos. Os bonapartes decidiram que ele não pode concorrer e o povo estará proibido de nele votar. Eles querem porque querem que o próximo presidente seja um pró-burguês puro-sangue que intensifique ainda mais as medidas e Reformas ultrarreacionárias contra a classe trabalhadora e os demais explorados e oprimidos, bem como contra a Juventude.
Em 6 de março dei continuidade ao meu raciocínio no Esquerda Online no artigo “Por que devemos ser contra o julgamento, a condenação e a prisão de Lula”. Pode-se ler nesse texto:

“O que fazer no momento para enfrentar as classes dominantes
O desafio está lançado. Ou fazemos um chamado à construção de uma unidade de ação entre todos os partidos de esquerda – PT, PSOL, PCdoB, PSTU, PCB -, as centrais sindicais, o Movimento estudantil, UNE, MST, MTST, movimentos sociais combativos, artistas, intelectuais e até mesmo liberais democratas como Requião e setores do PDT e PSB para a luta contra a prisão de Lula, contra a reforma da Previdência, contra a intervenção federal no Rio de Janeiro (que poderá se estender para outros estados e cidades, como o Rio Grande do Norte e o Ceará), contra a farsa da criação do Ministério de Segurança Nacional, contra a venda da Eletrobrás ou as classes dominantes engolirão a todos nós.
Se Lula é, infelizmente, reformista, se tem projetos de conciliação de classes, é outra discussão, mas não devemos deixá-lo nas mãos do Estado burguês. Isso seria de grande valor pedagógico para a classe trabalhadora e para a juventude, bem como abriria um imenso diálogo com todos os trabalhadores e os jovens, principalmente com os ativistas e a classe trabalhadora petista que ainda são a imensa maioria na esquerda.
Toda a campanha presidencial será marcada pelo que sucederá com a candidatura Lula. Inclusive o PSOL e todas as correntes de esquerda terão de se posicionar claramente a este respeito. Inclusive o nosso candidato à presidente pelo PSOL, seja ele quem for. Aliás, Boulos e o MTST já se posicionaram corretamente desde dezembro pela defesa e solidariedade a Lula, bem como o óbvio, o direito democrático dele ser candidato.”

 Trotsky e a Frente Única. Moreno e a Unidade de Ação
Na Alemanha Trotsky cansou de conclamar a Frente Única entre o PC e o PS alemães na luta contra o nazismo, já que ambos, em conjunto, detinham a imensa maioria da confiança da classe trabalhadora. Ainda que ele tivesse críticas fulminantes contra estes dois partidos. Trotsky os chamava para a luta, para a unidade contra a besta fascista.

O caso do Brasil é, no entanto, distinto da Alemanha. Lá havia dois poderosíssimos partidos com referências na classe trabalhadora e havia uma situação revolucionária. Lá, a Frente Única Operária defensiva contra o nazismo tinha potencial para se transformar numa poderosa arma ofensiva até mesmo para o proletariado alemão assumir o poder.

Em nosso país a correlação de forças é quase que diametralmente oposta. Trata-se apenas de defender as [poucas ] liberdades democráticas conquistadas pelas gerações anteriores, bem como tentar impedir a venda de parcelas importantes da Petrobras e da Eletrobrás para o imperialismo, e também lutar contra as medidas e Reformas anti-trabalhadores do governo Temer. Trata-se de se construir uma Unidade de Ação inclusive com setores sociais e políticos que se reivindicam democráticos e/ou nacionalistas.

É importante recordar que já houve alguns atos com contornos de Unidade de Ação, em dias diferentes, levando algumas centenas de milhares de pessoas às ruas. Assim foi em Curitiba e várias outras cidades após os tiros contra a Caravana de Lula, bem como nas portas do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo quando do mandado de prisão de Lula, no Circo Voador do Rio de Janeiro, nos dias seguintes à execução de Marielle.

Sobre o tema Unidade de Ação envolvendo setores democráticos e/ou nacionalistas e, portanto, distinto de Frente Única Operária, em meados da década de 70 Nahuel Moreno, através do saudoso PST argentino, assim discursava num ato logo após o assassinato de três militantes desse partido:

“Con todo respeto les decimos que han dado un alto ejemplo de unidad de acción aquellas corrientes humanistas, democráticas o liberales que igual se hicieron presentes aquí para saludarnos y dejaron de lado las profundas diferencias ideológicas que podamos tener con ellas…
… ¡Hasta ahora no se ha descubierto un solo atentado contra militantes de izquierda, ni la muerte de un obrero comunista, ni las torturas, ni la muerte de Montoneros ni de militantes de la JP[Juventude Peronista], ni de nuestros muertos! ¡Jamás! Es una ineficiencia fantástica esa de la policía y de todos los servicios secretos del régimen para descubrir a los asesinos de militantes de izquierda..
…Frente a este peligro, frente a esta escalada que viene de largo tiempo atrás, hoy estamos acá gritando por la unidad de acción. A nuestro Partido le preocupa profundamente si esta unidad de acción es para acompañar los cortejos al cementerio o va a ser la unidad de acción en la calle para derrotar y aplastar a la bestia fascista. No queremos la unidad de acción para acompañar nuestro cortejo. ¡La queremos para aplastar al fascismo y para hacer el desfile de la victoria! Nosotros consideramos indispensable esa unidad de acción frente a los enemigos fascistas.”

O que Moreno afirmou na Argentina há cerca de 43 anos é exatamente o que eu penso que o conjunto da esquerda deveria construir em 2018 para o Brasil.

Eleições sem Lula é fraude, é farsa
Sempre é importante relembrar para os marxistas que, sob o capitalismo, qualquer que seja o regime existente, existe uma Ditadura de Classe – bem como toda eleição é excelente para os magnatas do capital, pois eles injetam finanças gigantescas para elegerem seus serviçais, sejam eles o presidente, deputado ou senadores.
O que me parece incongruente e inconcebível é o fato de que o parágrafo acima seja esquecido pelos principais partidos que possuem referência na classe trabalhadora, ou seja, o PT, PC do B e PSOL.

A verdade é que a imensa maioria do conjunto dos partidos e correntes de esquerda até agora se recusaram a construir esta Unidade de Ação ou Frente pelas Liberdades Democráticas em nosso país. Esta responsabilidade recai sobretudo e em primeiro lugar ao PT já que é quem tem disparadamente o maior peso político na classe trabalhadora e demais setores explorados, bem como entre a Juventude e os movimentos sociais combativos.

Caberia, no entanto, ao PSOL fazer um chamado público à direção do PT para tal fim.

Tudo leva a crer que ambos os partidos não querem mover novamente centenas de milhares ou alguns milhões de pessoas às ruas, em cada cidade do país, com um calendário de lutas em tornos das demandas descritas nos parágrafos anteriores.

Parece ser que apenas as eleições de 2018 constituem o horizonte político máximo desses dois partidos, mesmo que estas eleições sem Lula, preso sem provas, sejam uma fraude, uma farsa, pois os bonapartes é que querem decidir quem pode ou quem não pode concorrer e não o povo.

Enquanto isso, a ultra-direita e os fascistas além de executarem atentados e assassinatos, também apostam nas eleições via Bolsonaro. Parece ser que até mesmo setores burgueses importantes da burguesia rural do agronegócio tendem a migrar e apoiar esta candidatura. Esta também foi a estratégia de Hitler nos anos 20 e 30: por um lado, atentados, intimidações e execuções com suas forças paramilitares; por outro lado, participação nas eleições. Para se ter uma ideia, o Partido Nazista obteve 18,3%dos votos em 1930 e 33,15% em 1932, um pouco antes de Hitler assumir o poder por completo.

Não tenho a menor ilusão de que as eleições de 2018 no Brasil resolverão qualquer coisa a favor da classe trabalhadora e dos explorados. Votarei, como sempre desde que foi fundado, no PSOL.

Tenho, no entanto, esperança, ainda que tênue, de que seja construída a Unidade de Ação ou Frente pelas Liberdades Democráticas urgentemente, antes das eleições, pois somente com o povo nas ruas é que se poderá inverter e/ou mudar a relação de forças entre as classes. Antes tarde do que nunca!