Hoje, 14 de junho de 2018, completam-se três meses do brutal assassinato de Marielle Franco. Pela militância no PSOL e nas causas das mulheres, das LGBTs, dos negros e da juventude periférica, Marielle foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro em 2016. Como militante, assessora parlamentar, coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) e vereadora, ela enfrentou as máfias políticas e empresariais que dominam o estado há décadas. Também por essa militância, se tornou alvo de uma execução cuidadosamente planejada e profissionalmente realizada, que culminou, ainda, com a morte do motorista Anderson Gomes.
Sendo ela mesma um dos maiores símbolos do protagonismo assumido por mulheres, negros e LGBTs nas mais recentes mobilizações sociais do Brasil, o seu assassinato marcou um novo momento da luta de classes no país. Um momento em que a extrema-direita, quase sempre organizada em grupos para-estatais, passou a recorrer diretamente à violência armada contra as lideranças políticas de maior projeção da esquerda, até mesmo nas principais cidades brasileiras. Embora os assassinatos de lideranças dos movimentos sociais, especialmente no campo, sejam uma constante em nossa história, trata-se, sem dúvida, de uma mudança de qualidade, que ficou evidente, também, nos atentados a tiros contra a caravana de Lula no Rio Grande do Sul e contra o acampamento Marisa Letícia em Curitiba.
A intervenção militar e o ataque à memória de Marielle
Não bastasse a imensa violência contida no próprio crime, imediatamente após a sua morte, o governo federal atacou violentamente a memória de todas as lutas de Marielle, ao tentar se servir de seu assassinato para legitimar a intervenção militar na Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro, decretada em 16 de fevereiro. Até o momento, essa intervenção produziu apenas mais da mesma política diuturnamente combatida por Marielle: cercos e operações arbitrárias nas favelas, tiroteios e mortes, em suma, uma guerra aos pobres mascarada de guerra às drogas.
Na Maré, conjunto de favelas em que Marielle cresceu, as primeiras operações sob comando das Forças Armadas foram marcadas por trocas de tiros em horário escolar e rajadas de metralhadoras disparadas de um helicóptero da Polícia Militar em meio às casas, escolas e estabelecimentos comerciais da região. Na Vila Kennedy, uma das vitrines da intervenção, a ação de maior impacto foi a derrubada de quiosques de comerciantes locais sem qualquer conexão com a criminalidade. Por fim, aquela que foi apresentada como a maior operação de combate às milícias da cidade, com a prisão de quase 50 pessoas em uma festa em Santa Cruz, se revelou um grande fiasco, dada a ausência de provas substanciais contra a imensa maioria dos detidos.
Como seria de se esperar, passados mais de três meses da decretação da intervenção, esse conjunto de ações não gerou nenhuma diminuição efetiva dos índices de criminalidade do estado. Tampouco foram solucionados os assassinatos de Marielle e Anderson. Permanecemos sem resposta para as perguntas que nos perseguem desde a noite de 14 de março: quem matou Marielle e Anderson? Quem mandou matar Marielle e Anderson?
Em busca de respostas, a luta continua
A ausência de respostas até o momento não será suficiente para calar a nós e a todas e todos a quem a luta de Marielle inspirava. É uma tarefa inadiável do conjunto do movimento social e das organizações combativas permanecer cobrando por resultados na investigação desse crime bárbaro. Os assassinos, seus cúmplices e os mandantes devem ser criminalmente responsabilizados.
Entretanto, nossa luta deve ser ainda mais ampla. Devemos transformar, cada vez mais, nosso luto em luta. Nesse momento, essa luta é encarnada prioritariamente tanto pela defesa das liberdades democráticas e o combate à intervenção militar, que impulsiona o extermínio do povo pobre e negro nas favelas, quanto pela resistência às contrarreformas do governo Temer, que precarizam as condições de vida da classe trabalhadora, incidindo de forma mais cruel nas vidas dos setores mais oprimidos da classe, como as mulheres, as LGBTs e os negros.
Foto: Mídia Ninja
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