O movimento dos caminhoneiros e a greve dos petroleiros colocaram em xeque os planos dos setores que organizaram o golpe parlamentar-jurídico-midiático que levou Temer ao poder. Para o capital, o golpe veio para ficar e precisa se consolidar na posse de um presidente escolhido pelo “mercado”, em uma eleição antidemocrática. A Temer cabia iniciar os ataques brutais aos direitos da população e garantir a transição “suave” possível para um presidente recordista em impopularidade.
Porém, em que pese as contradições internas da greve dos caminhoneiros, fato é que por 15 dias o sonho golpista virou pesadelo, com Temer sitiado. Só não caiu porque uma amplíssima movimentação política para protegê-lo foi bem sucedida. “Ruim com ele pior sem ele” sentenciou os principais setores do capital. Pelo menos no meio de uma crise que paralisou o país.
O movimento iniciado pelos caminhoneiros canalizou o imenso descontentamento popular com o aumento do preço dos combustíveis, do gás, da luz, dos transportes públicos, do desemprego, da miséria e da desigualdade social, do arrocho salarial, da retirada de direitos e do caos nos serviços públicos.
Até então, os partidários do golpe estavam confiantes de que conseguiriam atravessar a “pinguela Temer” até as eleições com uma alguma estabilidade social. Lula foi preso sem maiores comoções. O capital e seus prepostos estavam comemorando o congelamento dos gastos sociais, o aumento da precarização do trabalho, da destruição do patrimônio público etc. Analistas econômicos, na verdade lobistas do “mercado”, aplaudiam os primeiros resultados de um aspecto perverso da reforma trabalhista: a queda de 48,3% do número de ações trabalhistas de dezembro a fevereiro de 2018 em relação ao mesmo período de 2016 a 2017. Afinal dentre os inúmeros maldades da “deforma trabalhista” destacam-se que dispositivos legais da lei Lei n. 13.467/17 estabelecem custos processuais na Justiça do Trabalho mesmo para os beneficiários da assistência judiciária gratuita. Num país onde a maioria dos ações trabalhistas são motivadas por fraudes no pagamento das verbas rescisórias, dificultar o acesso à justiça do trabalho significa que abusos contra os trabalhadores mais precarizados ficarão impunes.
O sociólogo Ricardo Antunes resumiu numa entrevista ao Correio da Cidadania a perspectiva do próximo período, se não houver uma reação generalizada da classe trabalhadora. “Caminhamos celeremente para uma ‘indianização’ do país. Vamos nos tornar um país com a miséria do tamanho da Índia, que é brutal e combina um sistema perverso de castas e classes, exploração, superexploração, espoliação, naturalizando a miséria de centenas de milhões de pessoas, tratadas de forma inferior”.
Mas não há mal que sempre dure. A mobilização popular, com o movimento dos caminhoneiros e a greve dos petroleiros, ocupou a centro da política, expondo a fragilidade do governo Temer.
Porém, mais uma vez se perdeu a oportunidade de derrubar Temer porque o PT e aliados, com honrosas exceções, hesitaram alegando que a queda do governo poderia resultar “num golpe dentro golpe”. Até mesmo comparações descabidas com o movimento dos caminhoneiros chilenos contra Allende circularam nas redes sociais.
Claro que devemos nos preocupar e nos precavermos contra o crescimento da influência dos setores que pregam a “intervenção militar” na população. Mas uma esquerda que abdica da disputa das ruas, que “torce” para que Temer siga governando, facilita as coisas para os golpistas , inclusive para setores de ultradireita.
Há um mar de desesperança e revolta. Cabe a esquerda reinventar a esperança e direcionar a revolta para derrubar este governo ilegítimo.
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