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BRASIL

A greve dos caminhoneiros já é vitoriosa

Gibran Jordão, do RIo de Janeiro (RJ)
Manifestação em frente à Reduc, em Duque de Caxias (RJ)

Manifestação em frente à Reduc, em Duque de Caxias (RJ)

Temer anunciou em cadeia nacional mais concessões para atender as reivindicações da greve dos caminhoneiros. Terminando ou não essa semana, a greve já é vitoriosa. Fez o governo recuar após anunciar um “acordo” dias atrás e depois de um pronunciamento convocando a repressão utilizando as forças armadas. Num ato de desespero, Temer chegou a publicar um decreto autorizando funcionários públicos a dirigirem os caminhões… A grande mídia sistematicamente tentou jogar a opinião pública contra o movimento. Mas, com apoio popular, o movimento dos caminhoneir@s se tornou o principal assunto da conjuntura do País.

A crise do preço dos combustíveis tem efeitos de longo alcance que atravessa as fronteiras de classe e geram tensões sociais violentas. As empresas transportadoras são atingidas e o preço do frete aumenta, atingindo o preço de várias mercadorias, que dependem do modal rodoviário. Os caminhoneiros autônomos, mototaxistas, motoristas de aplicativo, taxistas, usuários de transporte público, restaurantes, estabelecimentos e famílias que precisam de gás de cozinha… Milhões de pessoas são atingidas pela crise do preço de uma fonte de energia elementar e universal para a humanidade. É por esse motivo que o movimento ganha elementos policlassistas, sendo disputado pela esquerda e pela direita.

Entre os presidenciáveis, Boulos e Bolsonaro deram declarações de apoio. A Frente Brasil Popular se dividiu, uma ala declarou apoio e prestou solidariedade ativa ao movimento, outro setor combateu o movimento denunciando como uma tentativa de golpe dentro do golpe. A maioria das centrais sindicais deram declarações de apoio ao movimento, mas descartaram a greve geral e inutilmente se ofereceram para mediar o conflito. As organizações políticas e sindicatos ligados a esquerda radical em sua maioria declararam apoio, mesmo minoritários e com curta influência, prestaram corretamente solidariedade e passaram a disputar os rumos do movimento com oportunistas da ultradireita que tentaram surfar no movimento levantando a bandeira da intervenção militar já!

A circulação de mercadorias ganhou um destaque especial no desenvolvimento capitalista com as reestruturações produtivas e com o desenvolvimento cada vez maior do mercado global. A força do movimento dos caminhoneiros se encontra na localização dessa categoria na produção, são capazes de entupir as veias e artérias do sistema, provocando um verdadeiro infarto econômico social. Os tecnocratas da logística já estudam e testam novas maneiras de transportar mercadorias que diminua a dependência que o sistema tem hoje dos caminhoneiros.

A política de preços praticada na Petrobras de Temer está nitidamente a serviço dos interesses das grandes petroleiras e acionistas. Temer atendeu na marra importantes reivindicações dos caminhoneir@s, mas é importante perceber que a solução que o governo encontrou em nenhum momento muda a sua política para a Petrobras. O que pode resolver momentaneamente o conflito, mas não estanca a tensão social, pois novas oscilações do preço do barril poderão acontecer em curto e médio prazo.

Os petroleiros podem entrar em greve por três dias essa semana. São operários também envolvidos na cadeia de exploração de hidrocarbonetos. Será mais uma batalha importante que precisará de apoio e solidariedade.

Por último, não é possível ter certeza, mas a greve d@s caminhoneir@s pode ter um fim essa semana com vitória. E o sucesso dessa greve vai servir de símbolo para fortalecer as lutas e greves de outras categorias que provavelmente virão. Demonstrando que é preciso lutar e é possível vencer, mesmo numa situação no qual a correlação de forças está muito difícil para a classe trabalhadora e para as forças da esquerda brasileira. Como disse João Pedro Stédile: “Graças a Deus os caminhoneiros entraram em greve”.

*Gibran Jordão faz parte da Coordenação Nacional e do Bloco de Oposição da CSP-Conlutas e da direção da Fasubra.

FOTO: Manifestação na Reduc, em Duque de Caxias (RJ)