Por Lucas Sena, de Porto Alegre, RS. *
Está em curso, no Brasil, uma política de profundos ataques à pesquisa e ao conhecimento científico. Desde sua posse, o governo Temer extinguiu o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), além de ter promovido sucessivas reduções no orçamento destinado à Ciência.
Já em 2017, o orçamento atingiu um dos menores patamares do último período, iniciando um congelamento significativo de uma série de importantes pesquisas que vinham sendo desenvolvidas. O cenário de 2017 atingiu patamares alarmantes. Uma das mais importantes revistas científicas mundiais, a NATURE, denunciou os ataques que a ciência vinha ocorrendo no Brasil. O orçamento proposto em 2017 para o MCTIC (Ministério da Ciência e Comunicação) era de R$ 6 bilhões e teve um corte de 44%, atingindo o investimento de R$ 3,2 bilhões.
O cenário catastrófico atual está atrelado a PEC 241(55) aprovada em 2016 que congela novos gastos públicos por 20 anos, tendo áreas como educação e tecnologia condenadas a esse projeto. Paulo Artaxo, Físico da Universidade de São Paulo (USP) e membro do painel climático da ONU, foi categórico em relação à PEC: “Quando você não investe nas universidades em 20 anos está condenando o país a um atraso intelectual muito grande em relação ao resto do mundo. Todo brasileiro deve ficar muito preocupado com esta questão”.
Em momentos de crise econômica é preciso apostar alto na educação e tecnologia como mecanismo de inovação. Luiz Davidovich da Academia Brasileira da Ciências (ABC) em entrevista a BBC foi enfático: “Espanta-me que justamente em uma época de crise tão grave, não se dê atenção à porta de saída da crise, já descoberta por outros países há muito tempo. É pesquisa e desenvolvimento, é ciência e inovação tecnológica. Nós estamos indo na contramão dessa consciência internacional”.
“Nos anos 1990, a Coreia do Sul era considerada mais atrasada que o Brasil. Mas o país investiu pesadamente em ensino básico, ensino técnico e pesquisa e desenvolvimento… e passou à nossa frente…. A profissão de professor é valorizada, com salário compatível com o de outras profissões graduadas”.
No entanto, o cenário que, aparentemente, não poderia ser pior, piora cada vez mais. O Orçamento Nacional de Ciência e Tecnologia, que já começou o ano 25% menor do que em 2017, deve encolher mais 10% (R$ 477 milhões) por causa do bloqueio de R$ 16 bilhões do Orçamento federal, anunciado pelo governo. Esse novo corte coloca em colapso qualquer possibilidade de fazer ciência do Brasil.
Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Ronald Shellard, o orçamento inicial, sem contingenciamento, já era considerado uma “tragédia anunciada”. Agora o cenário ameaça a existência de pesquisa científica mesmo que debilitada.
O cenário apontado pelo Manifesto em Defesa da Ciência parece cada vez mais próximo de se consolidar: “É alto o risco de laboratórios de pesquisa serem fechados, pesquisadores deixarem o país e jovens estudantes abandonarem a carreira científica”. Pesquisas desenvolvidas no Brasil sobre câncer, Zica vírus, HIV, astronomia e etc estão profundamente comprometidas. Ou revertemos o quadro ou a ciência brasileira será condenada causando um profundo impacto para as atuais e futuras gerações.
Artigo originalmente publicado no site Universo Racionalista
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