Momentos de articulação da esquerda: o Fórum Social Mundial e o Fórum Alternativo Mundial da Água

Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama) 2018 O Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama) 2018 – acontecerá entre os dias 17 e 22 de março de 2018, em Brasília – DF. Nos dias 17, 18 e 19 as atividades acontecerão na UnB – Universidade de Brasília – e entre os dias 20 e 22 serão realizadas atividades descentralizadas. É um evento internacional, democrático e que pretende reunir mundialmente organizações e movimentos sociais que lutam em defesa da água como direito elementar à vida. Foto: Leopoldo SilvaAgência Senado

Por: Renan Dias Oliveira*, de Bragança Paulista, SP
*membro da coordenação nacional pelo estado de São Paulo do Setorial Ecossocialista do PSOL

No mês de março, aconteceram duas importantes iniciativas de articulação entre movimentos sociais: o Fórum Social Mundial (FSM), em Salvador, e o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), em Brasília. As duas iniciativas representam importantes passos na articulação de movimentos sociais com objetivos comuns: transformar a sociedade a partir de suas atuações específicas. O FSM é uma iniciativa que já tem uma história construída desde o início dos anos 2000. O primeiro FSM aconteceu em 2001, na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, assim como as edições seguintes do Fórum. Depois, o encontro ganhou outras cidades e países. O FAMA teve sua primeira edição construída em resistência ao Fórum Mundial da Água, encontro empresarial, realizado nos mesmos dias, em Brasília, e que tem uma perspectiva da água como “mercadoria a ser explorada”, tendo em vista o lucro de corporações.

Analisando a edição do FSM de 2016, realizada mais uma vez na capital gaúcha, em comparação com a edição de março último, vemos notórias mudanças. A partir do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010), grande parte de movimentos sociais ligados ao PT aprofundaram um processo de cooptação e burocratização junto às instâncias do Fórum Social Mundial. O que se pôde ver coroado no FSM de 2016, que foi realizado antes mesmo do golpe do impeachment, foi uma estrutura extremamente burocratizada e engessada, onde atividades da CUT, CTB e outros grupos governistas aconteciam na região central da cidade, próximas aos palcos e ginásios principais, em espaços com refrigeração, água e cadeiras confortáveis. Enquanto isso, iniciativas autônomas foram alocadas em localidades distantes do centro, sem linhas de ônibus, e muitas ficaram até sem divulgação no material oficial do evento.

Para este ano houve uma reorganização das atividades e as entidades que construíram o Fórum foram respeitadas e ouvidas. O conjunto de movimentos sociais atrelados à atuação do PT tem ganhado novas formas e novas perspectivas após o golpe de 2016, que exigiu de muitos deles a volta às suas bases sociais. Para o FSM, essa reconfiguração foi extremamente importante para construir um encontro vigoroso e de luta. O conjunto dos movimentos sociais independentes continuaram onde sempre estiveram, construíram junto às suas bases a ida ao encontro e participaram das tendas, oficinas, plenárias construídas de forma autônoma e independente.

Já o FAMA foi construído por diversas entidades focadas na luta pelo direito à água. Enquanto corporações como a Nestlé discutiam estratégias para explorar, cada vez mais, os recursos hídricos sob a ótica do lucro, movimentos sociais compartilhavam suas experiências de luta pela água como direito. Movimentos partindo de São Paulo destacaram a crise abastecimento vivida pelo estado nos anos de 2014 e 2015. A SABESP, empresa responsável pelo abastecimento de água em São Paulo, teve lucros exorbitantes no período e, ainda assim, tratou a água como mera mercadoria a ser especulada na Bolsa de Nova Iorque. Podemos sentir o aumento abusivo de tarifas nas contas de água nos últimos anos, com a anuência do governador afastado Geraldo Alckmin (PSDB).

O FAMA foi um espaço fundamental para que os movimentos em defesa da água “como direito” se encontrassem, para que possam continuar articulando lutas regionais com uma perspectiva de transformação global no que toca ao acesso à água de qualidade e, consequentemente, no que toca à transformação do sistema como um todo. Segundo projeção recente da ONU, no ano de 2025, 2,7 bilhões de pessoas podem ficar sem água. Assim como o acesso a alimentos de qualidade ganhou uma lógica extremamente excludente no sistema do capital, o acesso à água trilha os mesmos caminhos. É preciso mobilização e engajamento na luta pela água, na luta pela água como direito da classe trabalhadora e das populações mais pobres.

Foto: Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama) 2018 O Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama) 2018 – Fotos Públicas

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