Por: Jorge Badauí, do Diretório Estadual do PSOL/RJ
Nesta segunda (2), o Rio de Janeiro sediou um importante ato suprapartidário contra o fascismo e a extrema-direita. O Circo Voador, palco histórico da MPB, ficou lotado de militantes de distintas matizes ideológicas da esquerda carioca e brasileira. Dentre outras personalidades, estiveram presentes pré-candidatos e pré-candidatas às eleições de outubro dos principais partidos de esquerda, como Tarcísio Motta e Marcelo Freixo (PSOL), Manuela D´Ávila e Leonardo Giordano (PCdoB), Lindbergh Farias e Celso Amorim (PT), assim como o ex-presidente Lula.
O ato foi a expressão de que, ainda que persistam diferenças significativas de programa e política, que inclusive se expressarão em distintas candidaturas, é possível e necessário dar passos para unir toda a esquerda no âmbito da luta concreta contra o fascismo e a extrema-direita. Para uma efetiva frente única nesse sentido, muito ainda precisará ser feito. Mas o ato realizado no Circo Voador é uma ação que pode ter representado um primeiro passo.
Algumas das principais figuras do PSOL, que têm precisamente no Rio de Janeiro sua maior expressão pública, acertaram ao sinalizar a disposição em tomar parte nessa batalha – ao mesmo tempo em que suas intervenções reafirmaram a independência política do partido.
Não subestimar a extrema-direita
Desde a preparação do golpe que levaria Temer ao poder, a classe dominante deu a maior liberdade para que grupos fascistas e de extrema-direita se organizassem e atuassem cada vez mais abertamente. A defesa explícita da ditadura militar e por um novo regime desse tipo esteve presente, ainda que de forma minoritária, nos atos pró-impeachment. Era funcional à burguesia que todo tipo de reacionarismo convergisse na agenda golpista.
Quase dois anos depois, não há mais como subestimar o fato de que esses setores, embora sigam sendo minoritários, ganharam influência de massas. Ao apresentar-se como direção desse fenômeno, Bolsonaro alcançou projeção inédita.
Mas o fato realmente novo é que essa gente encorajou-se a ir além da luta de ideias. Dentre outras barbaridades, o assassinato de Marielle, a chacina contra os jovens de Maricá e o atentado contra os ônibus da caravana de Lula demonstram uma escalada de ações violentas que se alimentam e são alimentadas pela iniciativa política da extrema-direita.
Não sabemos quem puxou o gatilho que matou Marielle, menos ainda quem foram os mandantes dessa brutalidade. Tampouco sabemos quem atirou contra os ônibus na caravana de Lula. Talvez nunca saibamos nada disso ao certo. Mas o fato visível, desde já, é que todas essas ações temperam o caldeirão do fascismo e daqueles que veem na violência contra a esquerda e os movimentos sociais a solução dos problemas. O silêncio cúmplice de Bolsonaro quando da morte de Marielle não deixa margem a dúvidas nesse sentido.
Quando se chega a esse ponto é preciso sair da inércia. Não porque estejamos a beira de um golpe de tipo fascista ou sob a ameaça imediata de um fechamento geral do regime político. Mas porque é preciso derrotar hoje e agora a extrema-direita para não corrermos o risco de amanhã nos darmos conta de que já é tarde. E para que os aventureiros que pensem em disparar novamente contra qualquer liderança da esquerda tenham razões para pensar duas vezes.
Que o extremismo de direita ganhou novo protagonismo na cena política brasileira é um fato sensível e palpável, não uma cortina de fumaça fabricada pelo PT. Particularmente no Rio de Janeiro da intervenção federal militar, onde um general exerce poder de governo sobre a segurança pública, não convém se enganar sobre as pressões autoritárias sobre o regime político brasileiro.
A responsabilidade do PSOL
O PSOL passou a barreira da marginalidade e hoje é um partido com influência e responsabilidades. Como mínimo, no Rio de Janeiro, essa é uma realidade. O partido se fortaleceu nas lutas de resistência dos últimos anos e também na oposição parlamentar – enquanto PT e PCdoB optavam equivocadamente por apoiar Cabral, Paes e Pezão.
O PSOL terá candidaturas próprias nas próximas eleições, e em aliança com MTST e PCB, e é fundamental que seja assim. Porque é preciso, na complexa situação que atravessamos, levantar as ideias que demonstrem que sem enfrentamentos com as elites será impossível transformar de verdade o Rio e o Brasil. No ato do Circo Voador, não ficou a menor dúvida de que Tarcísio Motta e Marcelo Freixo encabeçarão essa batalha de nosso partido.
Hoje, o PSOL tem uma posição definida contrária à prisão de Lula. A maioria de nosso partido, felizmente, entende que se trata de uma medida reacionária e não terceiriza a procuradores e juízes a tarefa de superar o petismo. Não é uma defesa política de Lula, é a luta para que o povo não seja obrigado a votar em eleições ainda mais arbitrariamente controladas do que já são por natureza. Entre declarar-se dessa forma e dizê-lo na presença do próprio Lula, não há nenhuma contradição para nosso partido – apenas coerência.
É precisamente pelo peso que o PSOL conquistou que ele tem a responsabilidade de ter uma orientação nítida para defender as liberdades democráticas e combater o fascismo e a extrema-direita. A história demonstra que essa luta só pode ser feita com a máxima unidade das organizações dos trabalhadores. Sobretudo no Rio de Janeiro, não temos porque temer unir forças nesse sentido.
Isso não significa rebaixar nem uma de nossas bandeiras, que são as bandeiras do socialismo e da liberdade. Nas palavras de Valério Arcary, um dos oradores do ato no Circo Voador, o sentido de buscar essa frente única é o de “erguer uma muralha contra o fascismo”. É essa a ideia que sai mais forte quando o PSOL assume a luta por unir a esquerda contra a extrema-direita, sem abrir mão de suas próprias ideias.
Foto: Estanislao Santos
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