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Por Marielle e Anderson, permanecer nas ruas

Matheus Gomes

Deputado estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul, Matheus Gomes é historiador, servidor do IBGE e ativista do movimento social há mais de 10 anos. Sua coluna mostra a visão de um jovem negro e marxista sobre temas da política nacional e internacional, especialmente dos povos da diáspora africana.

Por: Matheus Gomes, colunista do Esquerda Online
@matheuspggomes

16 de março. Exatamente um mês do anúncio da Intervenção Federal Militar no Rio de Janeiro e a “jogada de mestre” de Temer está em xeque. A execução política de Marielle fez surgir um movimento de crítica à Intervenção nas ruas. Composto por diversas camadas da sociedade, quero destacar que ontem se expressou um sentimento comprimido pela repressão nas periferias, algo já visto em Junho de 2013 quando ganhou peso a denúncia das UPPs e a campanha “Cadê o Amarildo?”.

A imprensa e as autoridades governamentais (civis e militares) se esforçam para responsabilizar o crime organizado. A “inteligência” oficial diz que a execução de Marielle foi uma resposta de traficantes desgostosos com a presença do Exército no Rio. Por que executariam uma opositora da Intervenção? Mesmo que ela também fosse contra o tráfico e pela descriminalização das drogas, não parece fazer sentido. Ao mesmo tempo, a Folha de SP diz ser “teoria da conspiração” relacionar a execução com as denúncias da vereadora ao Batalhão de Acari, o mais sanguinário do RJ. Ambos tem um plano: intensificar a violência racista e não recuar nenhum milímetro com o projeto de militarização.

Pode ser que a execução não tenha sido planejada nos autos escalões do poder, mas o Estado tem as mãos sujas de sangue sim, pois abriram a “caixa de pandora”. Se confirmou a hipótese de uma “Bolsonarização sem Bolsonaro” com o desenrolar da Intervenção – aliás, ele permanece em silêncio -, pois grupos paramilitares filhotes dos “Esquadrões da Morte” e “Comandos-Caça-Comunistas” da época da ditadura empresarial-militar se encorajaram para cometer tal ação, algo que nunca deixou de existir no Brasil, vide os 600 assassinatos de maio de 2006 em SP.

Marielle era a voz do povo negro e da esquerda socialista contra a Intervenção Militar no RJ. “Cria da Maré”, estudou o fracasso das UPPs e sabia que a militarização não era solução. Esse legado precisa ser estendido, pois é um tema estratégico para o Brasil não virar um Estado estilo México ou Colômbia.

Estamos numa situação política desfavorável, mas Marielle e Anderson já viraram sementes. Creio que o momento exige uma ampla campanha nacional contra a Intervenção no Rio e pela investigação independente do caso. O Gen. Braga Netto já disse que não quer outra Comissão da Verdade, o que se expressa no intento de manter a investigação nas gavetas corruptas da Polícia Civil carioca.

Mas a execução é fruto da combinação das diversas crises que envolvem o Brasil e vitimam com centralidade o povo negro. A transformação em curso no regime visa impor um novo padrão de exploração e normatizar regras de exceção. A “Nova República” faliu e estamos em transição para um lugar incerto. Se não entrarmos em campo seremos derrotados. Por isso, precisamos ampliar a defesa das liberdades democráticas, denunciar medidas como a Lei Antimanifestações de Marchezan (Prefeito do PSDB de Porto Alegre), o assassinato crescente de lideranças rurais, indígenas e quilombolas e toda forma de criminalização dos movimentos sociais, a interferência do Judiciário na definição das rumos políticos do país – aliás, que papel patético cumpriram ontem com aquela greve em defesa dos privilégios – e, em primeiro lugar, denunciar o genocídio negro e o racismo estrutural. Todos regimes já implementados no Brasil mantém as raízes do escravismo. Lembremos da Tuiuti, o povo negro é a sentinela da libertação!

Ao lado disso, um programa social de urgência oposto pelo vértice as contrarreformas de Temer, que enfrente os que lucram com o desemprego e a retirada de direitos sociais, a real necessidade da periferia. Enquanto Temer estiver no poder, gritar Fora é uma obrigação de todos nós.

21 de março é Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial (em memória do massacre de Sharpeville na África do Sul) e o sétimo dia da execução, devemos ir às ruas lembrar nossos mártires negros. 28 de março é a data tradicional do movimento estudantil em memória de Edison Luis. E 1° de abril o golpe de 64 completa 54 anos. Precisamos de uma agenda unificada já! Temos datas, motivos e podemos ter força social nas ruas. O desenlace da crise nacional precisa vir de baixo. A elite quer pactuar por cima e continuar nos sufocando. Nosso oxigênio vem das ruas e da nossa auto organização, façamos isso!

Foto: Guilherme Santos/Sul21