Carlos Daniel Gomes Toni, do Setorial LGBT da CSP Conlutas*
Era manhã do dia 15 de outubro de 2017, o último dia do 3º Congresso da CSP-Conlutas. Estava começando a intervenção da mesa de combate às opressões quando o plenário foi tomado por uma caminhada linda das lgbts que ali estavam. Gritando palavras de ordem e marchando com toda alegria que revolução exige, “as gay, as bi, as trans e as sapatão” desceram ao palco e, na frente de mais de dois mil trabalhadores, fizeram um lindo ato para demarcar que o congresso também era das lgbts trabalhadoras.
No pelotão de frente estava Maria Aurora. Muito produzida, com um lápis delineando seus olhos, um belo e batom na boca carnuda e uma saia rodada, ela chamou o congresso inteiro a cantar com as LGBT’s nossas palavras de ordem.
Foi um momento de orgulho. Vi naquele instante toda a nossa luta desde Stonewall até nossa libertação final. A imagem daquela linda menina potiguar, daquela militante lgbt revolucionária me inspirou por muitos momentos.
Mas hoje a imagem de Maria Aurora voltou de uma forma triste. Ela foi mais uma vítima do preconceito. Maria foi encontrada morta esta manhã no Rio Grande do Norte.
O que para alguns é um simples caso de suicídio, pra nós lgbts é mais um caso de assassinato social. Muitos não sabem, mas a taxa de suicídio entre as lgbts é cinco vezes maios que entre os heterossexuais. Antes de se matar ela foi aos poucos assassinada pela sociedade. Maria Aurora, como muitas lgbts, cansou de ouvir chacotas, de passar pelas ruas e olhar dedos em riste apontando contra sí, de ligar a televisão e ver um pastor dizendo que ele tinha o “demônio no corpo”.
Enfim, cansou de ser uma aberração, uma piada ou uma caricatura, pois é assim que a sociedade nos trata. Infelizmente não encontrou forças para continuar a lutar, a viver.
Hoje será enterrada, mas mesmo sabendo que ele não vai mais me escutar eu queria dizer: “Querida Maria vamos lutar até a vitória. Viveremos num mundo que não nos assassinará mais. Acredite, o futuro será belo, poderemos sair às ruas de mãos dadas, não mais levantarão dedos e pauladas contra nós. Nossas vidas importarão.
Minha querida, sua morte não será em vão e a imagem da travesti linda que desfilou na frente de dois mil trabalhadores viverá pra sempre em mim e em todos os que lutam pelo Socialismo.”
Maria Aurora, Presente!
* Texto publicado no site da CSP-Conlutas (www.cspconlutas.org.br)
SAIBA MAIS
Leia a nota de pesar do PSTU do Rio Grande do Norte
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