Por LSR e NOS*
No sábado, dia 3 de março, foi realizada em São Paulo a Conferência Cidadã, que anunciou a disposição de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara de oferecer seus nomes para a disputa à presidência da república pelo PSOL. Esse evento, assim como a filiação formal de Boulos ao PSOL no dia 5 de março, permite que o partido tome uma posição definitiva sobre sua chapa presidencial na Conferência Eleitoral do dia 10 de março.
Estamos entre aqueles que apoiam decididamente essa pré-candidatura por entendermos que possui grande significado político em uma conjuntura em que são desferidos os mais profundos ataques aos direitos e às condições de vida da classe trabalhadora e de todos os setores oprimidos em muitas décadas.
A sua própria composição, articulando MTST, APIB e outros movimentos sociais combativos ao PSOL, expressa a unificação de muitos dos principais lutadores sociais do último período. Além disso, já nesse lançamento, algumas sinalizações muito positivas foram feitas, como a declaração do próprio Boulos de que uma de suas prioridades de campanha será a defesa da revogação de todas as contrarreformas do governo Temer.
A candidatura deverá estar a serviço de importantes tarefas políticas que dizem respeito não apenas às eleições desse ano, mas, também, ao futuro do país. Uma dessas tarefas implica em enfrentar diretamente as alternativas burguesas de poder. Assim, será preciso ganhar mais corações e mentes para a perspectiva de que a revogação de todas as medidas do governo golpista de Temer constitui a base mínima necessária para possibilitar alguma melhoria no nível de vida da classe trabalhadora e dos setores oprimidos.
Também será preciso estabelecer um firme contraponto ao avanço das posições reacionárias e, por vezes, fascistas, que ganham peso social e, eleitoralmente, tendem a se aglutinar em torno da candidatura de Bolsonaro. Em termos concretos, isso significa, por exemplo, combater qualquer solução militarista para as contradições que atravessam a nossa sociedade, aí incluída a intervenção militar que o governo federal decretou no estado do Rio de Janeiro.
Essas tarefas, inclusive, podem e devem extrapolar os limites das forças que apoiam qualquer candidatura do PSOL, na medida em que só podem ser cumpridas por meio de uma unidade de ação com todas as forças que se posicionam como oposição de esquerda a Temer.
Uma segunda tarefa política incontornável passa pelo fortalecimento de um campo na própria esquerda que supere o horizonte da conciliação de classes, em favor da afirmação de uma alternativa de luta independente da classe trabalhadora e dos setores oprimidos.
Aqui, o balanço dos governos petistas e sua estratégia deve constituir o ponto de partida, sob pena de repetirmos graves erros. Afinal, a aposta petista na conciliação de classes e na via institucional não foi apenas derrotada pelo golpe de 2016 que possibilitou a ofensiva expressa pelo governo Temer. Ela foi, também, uma das condições que tornaram possível esse golpe e abriram espaço para a ofensiva da direita e do grande capital.
Por um lado, a conciliação de classes significou a adesão à perspectiva ideológica neoliberal – ainda que enfatizando as políticas sociais focalizadas e outras medidas de ampliação do poder de consumo dos trabalhadores –, abdicando do debate ideológico na sociedade. Por outro lado, a opção pela via institucional desmobilizou os movimentos sociais e comprometeu a sua independência. Ideologicamente desorientada e politicamente desorganizada, a classe trabalhadora não teve condições de articular a resistência necessária ao golpe e às subsequentes contrarreformas.
Se o combate às medidas reacionárias de Temer e às propostas fascistas de Bolsonaro demandam a unidade de ação com todas as forças da esquerda, a consolidação do campo político pautado pela independência de classe passa por uma delimitação mais rígida.
A direção e as principais figuras públicas do PT, como Lula, não dão qualquer indicação de que pretendem realizar uma crítica da sua estratégia de conciliação de classes, todo o contrário. Diante disso, é tarefa da candidatura Boulos/Sônia e da nova aliança de esquerda envolvendo o PSOL e outros partidos e movimentos sociais, apresentar-se nitidamente como alternativa ao programa, à estratégia e às políticas do Lulismo.
Nosso campo se constitui justamente a partir da crítica a essa estratégia. Por isso, consideramos que não foi correta a opção dos organizadores da Conferência Cidadã de apresentar no evento um depoimento em vídeo de Lula. Mesmo que a intenção pudesse ser simplesmente abrir caminho para nossa nova alternativa de esquerda nas bases sociais do Lulismo, que hoje buscam novas referências, o vídeo acaba provocando muita confusão no campo que sempre se colocou como oposição de esquerda aos governos do PT. É muito importante que a candidatura Boulos/Guajajara se apresente como distinta do campo político-programático de Lula e deixe evidente que não depende das posições de Lula para ser construída. É preciso deixar nítidas as linhas que separam os diferentes projetos que existem na esquerda e ressaltar a necessidade de afirmação de uma nova estratégia.
Como parte do combate à ofensiva reacionária, consideramos que o direito de Lula ser candidato deve ser garantido, afinal a tentativa de inviabilizar a sua candidatura traz consigo o potencial de um amplo ataque contra toda a esquerda. Entretanto, em hipótese alguma, a defesa desse direito pode ser confundida com a defesa de seus governos ou de seu programa. Foram as suas opções que nos trouxeram à atual situação.
Acreditamos que, para cumprir plenamente as suas tarefas, a candidatura Boulos/Guajajara deve estar a serviço de uma clara delimitação política em relação ao petismo e ao lulismo. Somente dessa forma, será uma candidatura de fato capaz de impulsionar a criação de um futuro para a classe trabalhadora e para os setores oprimidos que não seja a mera repetição das agruras de seu passado.
LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução
NOS – Nova Organização Socialista
Foto: Jorge Ferreira
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