Por Carla Vizeu, da Mana Dinga*
Carioca de botafogo, filha de pai violonista e mãe pastora de rancho, seu caminho não podia ser outro que não o das canções. Órfã ainda menina, foi interna do Colégio Orsina da Fonseca, no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Teve aulas de música com Laíla Villa-Lobos, e foi indicada para o Orfeão dos Apinacás, da Rádio Tupi, cujo regente era Heitor Villa-Lobos.
Saindo da escola, foi morar em Inhaúma na casa do tio Dioníso, que lhe ensinou a tocar cavaquinho. Conviveu nessa época com grandes nomes da música, como Pixinguinha, Donga, Jacob do Bandolim, Candinho do trombone, todos frequentadores do choro do Dionísio.
Após se tornar enfermeira, em 1945 ela decide fazer o curso para se tornar assistente social. Trabalha durante 30 anos no Instituto de Psiquiatria do Engenho de Dentro, desde recém-formada até se aposentar. Especializa-se em terapia ocupacional e trabalha no Serviço Nacional de Doenças Mentais com a doutora Nise da Silveira (1905-1999), médica que revoluciona o tratamento psiquiátrico no Brasil.
Tendo começado a compor com doze anos, seu contato com o mundo do samba faz aflorar ainda mais sua veia de compositora. Isso ocorre após seu casamento com Oscar Costa, filho de Seu Alfredo, presidente do Prazer da Serrinha. Embora o marido não gostasse de samba, o apelo que a proximidade física da casa e da sede da escola causava em D. Ivone era irresistível. Devagar foi se envolvendo, desfilando até como porta-bandeira. Mas compor era realmente seu dom, então compunha. Seus sambas muitas vezes eram cantados no terreiro da Serrinha como se fossem de outros compositores – homens, amigos ou parentes.
Quebrando essa hegemonia masculina na área da composição, em 1965, ganhou o consurso interno de samba-enredo da escola com o antológico Cinco Bailes da História do Rio, em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau. A partir daí, foi construindo uma carreira como compositora e cantora, dedicando-se exclusivamente a ela após aposentar-se na década de 70.
E ela veio pisando no chão devagarinho, até hoje, nos presenteando com lindas melodias, letras delicadas e fortes, hinos que são cantados nas rodas de samba de todo país.
Foi a vencedora do Prêmio Shell de MPB em 2002, tendo recebido o prêmio pelo conjunto de sua obra em grande festa do samba, no Canecão, no Rio de Janeiro. Já foi estudada em diversas pesquisas e homenageada em muitos shows.
E segue firme como baluarte que é, fortaleza do samba. Grata, D. Ivone Lara.
Fontes de pesquisa:
http://dicionariompb.com.br/dona-ivone-lara/biografia
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pes…/dona-ivone-lara
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dona_Ivone_Lara
http://www.donaivonelara.com.br/release_donaivonelara.pdf
“Serra, Serrinha, Serrano: o império do samba” (Rachel e Suetônio Valença- Livraria José Olympio Editora. Rio de Janeiro, 1981)
* A Mana Dinga é um grupo de cinco mulheres compositoras de Campinas, que leva músicas próprias para prosear com importantes sambistas, compositoras, instrumentistas e interpretes que abriram caminhos para as mulheres na musica brasileira.
Formado por Amanda Menconi (flauta e percussão), Anisha Vetter (surdo e voz), Carla Vizeu (voz e percussão), Ju Leite (pandeiro e voz) e Milena Machado (violão e voz). Para mais informações acesse facebook.com/manadinga
Imagem: Dona Ivone Lara, atração do projeto “Flores em vida”, no CCBB de Brasília em 2015 (Foto: Silvana Marques/Divulgação)
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