Por Bárbara Carine, de Salvador (BA)*
Não sou crítica de cinema. E sei que essa é uma péssima frase para iniciar um texto com o intuito de fazer uma análise acerca de um filme. Entretanto, em se tratando do Pantera Negra, a questão vai muito além da reflexão cinematográfica. Falar de Black Panter é falar de sentimentos, de emoções, de curas, de representatividade ou talvez da falta dela.
Pantera negra foi lançado no dia 15 de fevereiro deste ano no Brasil e já gera frisson há meses no público em geral, mas principalmente na população negra que não se reconhece na filmografia nacional e internacional em espaços de destaque, intelectualidade e poder. Sempre que nos víamos em um papel ou outro no cinema era reproduzindo uma concepção imprimida na nossa realidade social, de subserviência, marginalidade e de subalternidade.
A rigor estamos falando de um filme que foi muito esperado, mais especificamente, esperamos por quase 30 anos, visto que o último filme que tratava de um reino africano cheio de riquezas materiais e imateriais, que orgulhava-se da cultura e beleza do seu povo e que tinha um elenco todo negro e poderoso foi ‘Um príncipe em Nova York’ lançado em 1988.
Pantera Negra trata de um herói negro africano que é o rei de Wakanda, um país também africano rico em fraternidade, intelectualidade, minérios e desenvolvimento tecnológico.
Tenho arriscado dizer que Wakanda é como seriam alguns impérios africanos antes da diáspora; e por que não falar antes do sequestro físico e epistêmico desses nossos ancestrais por parte do povo europeu. Trata-se de uma África que seria tranquilamente possível visto que, por mais que o epistemicídio e a pilhagem epistêmica tenha solapado a cultura e a auto estima do nosso povo preto, não foram capazes de nos apagar efetivamente da história.
Resistimos e sabemos que xs nossxs ancestrais foram xs inventorxs da matemática, xs fundadorxs da ciência, xs construtorxs dos primeiros grandes impérios no mundo.
O filme Pantera Negra nos traz a esperança de um mundo a partir de uma outra narrativa, de retomarmos nossos postos de reis e rainhas e de construirmos uma civilização pautada na força das mulheres, que hoje já sustentam os nossos tempos, mas que não são vistas como figuras imponentes e de respeito como em Wakanda.
Parece ficção, mas Wakanda é bem real em nossos corações e em nossas memórias ancestrais. Para sempre Wakanda!
*Bárbara Carine é professora do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia
Imagem: Divulgação
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