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CULTURA

Mulheres do samba: viva Tia Ciata, rainha da pequena África

Por Carla Vizeu, da Mana Dinga*

Imagine o Rio de Janeiro no no final do século XIX. Uma grande comunidade de negros baianos habitava a região que Heitor dos Prazeres denominava “Pequena África”, localizada entre a zona do cais do porto até a Cidade Nova, em torno da Praça Onze. Ali eles se reuniam para receber aqueles que chegavam, festejar, realizar seus ritos religiosos.

A força das mulheres aparece nas lideranças dessas comunidades, grandes aglutinadoras da cultura : as “rainhas negras” desta comunidade eram as tias baianas. Quituteiras, a maioria delas devotas do Candomblé (religião perseguida na época), era nas suas casas aconteciam os encontros.

Tia Ciata foi a mais famosa delas. Chegando ao Rio com apenas 22 anos, trabalhava vendendo suas guloseimas pelas ruas, sempre trajando suas roupas de baiana, exaltando sua religião, na qual ocupava posto de destaque. Astuta, também tirava alguma renda alugando roupas para o carnaval e o teatro. Nas festas em sua casa, participava sempre dançando o miudinho e improvisando nas rodas de partido-alto.
Sua casa, situada na rua Visconde de Itaúna, perto da praça Onze, era a capital da Pequena África; o grande ponto de encontro de muitos músicos, principalmente. Na sala de visitas acontecia o baile, no qual eram tocados os sambas de partido entre os mais velhos e música instrumental (quando compareciam músicos profissionais negros); no terreiro, o samba raiado e às vezes as rodas de batuque entre os mais novos.

Foi lá o local de nascimento do samba. Pelo menos do carioca. O famoso “Pelo telefone” foi resultado de muitas rodas de partido, uma criação coletiva no improviso de várias vozes. A grande novidade foi Donga ter resolvido registrá-lo em 1917. Primeiro, o registro saiu só no nome de Donga. Mauro Almeida, jornalista da época e frequentador das reuniões, foi listado logo depois como parceiro na composição. Mas o que não ficou registrado formalmente foi a participação de tia Ciata na mesma – apesar de uma publicação no Jornal do Brasil do mesmo ano ter listado diversos nomes, incluindo o dela, como compositores do samba, destacando a questão da coletividade da mesma.

Quantas compositorAs mais não ficaram escondidas dentro das composições coletivas dessa época e ao longo dos tempos?…
Grata, tia Ciata, por abrir sua casa e o caminho de todas nós!!!!

Fontes de pesquisa:
http://dicionariompb.com.br/tia-ciata/biografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tia_Ciata
http://antigo.acordacultura.org.br/herois/heroi/tiaciata
http://www.huffpostbrasil.com/…/samba-e-coisa-de-preta-a-h…/
http://www.radioarquibancada.com.br/…/casa-da-tia-ciata-es…/

https://www.youtube.com/watch?v=SdBGczfMuFI (atenção aos 8’20”)

* A Mana Dinga é um grupo de cinco mulheres compositoras de Campinas, que leva músicas próprias para prosear com importantes sambistas, compositoras, instrumentistas e interpretes que abriram caminhos para as mulheres na musica brasileira.
Formado por Amanda Menconi (flauta e percussão), Anisha Vetter (surdo e voz), Carla Vizeu (voz e percussão), Ju Leite (pandeiro e voz) e Milena Machado (violão e voz). Para mais informações acesse facebook.com/manadinga

Imagem: Divulgação do Acervo da Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata – ORCT

Marcado como:
8 de março 2018